Se o momento é de confiar no trabalho sigiloso da Polícia Civil de Caxias do Sul, a falta de notícias sobre Naiara Soares Gomes, sete anos, que desapareceu no bairro Esplanada quando seguia sozinha para a escola, mostra que o caso está na estaca zero. Apesar dos esforços, a investigação não conseguiu avançar após 10 dias de apuração, pois não há qualquer pista sobre o paradeiro da criança. Na manhã de hoje, uma nova reunião definirá os próximos passos da força-tarefa.
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No sábado, a família foi procurada por dois integrantes da Guarda Municipal e por uma mulher à paisana. O grupo pegou a palmilha de um calçado da menina para realizar buscas com cães farejadores. De acordo com Cristiano Vitali, a Guarda estava apenas prestando apoio à Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe). A 7ª Delegacia Penitenciária Regional (7ª DPR), porém, nega ter feito qualquer ação referente a investigação, afinal não foi solicitada pela Polícia Civil.
No mesmo dia, policiais civis encerraram a investigação por volta das 20h, após ações de inteligência. A intenção era confrontar todas as possibilidades e estabelecer um novo foco. Sem testemunhas, imagens ou novos relatos, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) repetiu depoimentos para esclarecer cada passo de Naiara na manhã do dia 9 de março.
A Polícia Civil também cogita utilizar cães farejadores em buscas nas matas do bairro São Caetano. A ideia é empregar os cães do Corpo de Bombeiros, que são especialistas na busca por pessoas desaparecidas.
O delegado responsável pela investigação, Caio Márcio Fernandes, não foi localizado pela reportagem. No final de semana, a família de Naiara e voluntários percorreram comunidades de Caxias do Sul para distribuir cartazes com a foto da criança.
INVESTIGAÇÃO COMPLICADA
Confira as dificuldades enfrentadas pela Polícia Civil para esclarecer o caso.
:: Ponto cego: os investigadores conseguiram reconstituir a maior parte do caminho feito por Naiara após ela ter sido deixada pelo primo de 15 anos _ que era o responsável por levá-la até a Escola Municipal Renato João Cesa _ na Rua Natair Rizzardi. Dali, a criança seguiu sozinha até a Rua Júlio Calegari. É nesta via, a 20 ou 30 metros da Rua Mozart Perpétuo Monteiro, que Naiara foi vista pela última vez. No local, existe um ponto cego, que não é monitorado por nenhuma câmera, e, por isso, não se sabe o que aconteceu com a garota.
:: Faltam testemunhas: há relatos de Naiara seguindo o caminho para a escola por volta das 7h daquela sexta-feira, mas ninguém viu nada suspeito. Nenhuma pessoa viu a criança ser raptada ou entrando de boa vontade num carro. Duas testemunhas, que passavam de veículo pela Júlio Calegari, afirmaram ter visto Naiara passando ao lado de um carro branco, que estava estacionado. Os relatos, no entanto, não são precisos, pois as testemunhas não conseguem determinar o modelo do carro ou as características do motorista. Tampouco se a criança chegou a falar com ocupante do veículo.
:: Carro branco: a principal linha de investigação é de que Naiara foi raptada por alguém em um carro branco. Como a Rua Júlio Calegari é uma principais vias da zona sul, as câmeras do entorno registraram dezenas de carros brancos transitando no horário em que a menina sumiu. A Polícia Civil conseguiu imagens de um carro branco manobrando de forma suspeita na Rua Mozart Perpétuo Monteiro, a cerca de 30 metros adiante de onde a menina foi vista pela última vez. A coincidência é que essa manobra suspeita ocorreu logo na sequência em que as testemunhas viram Naiara passando ao lado de um carro que estava estacionado na Júlio Calegari. Naiara, porém, não aparece embarcando ou dentro deste automóvel. Por isso, o rapto pelo tal carro branco é apenas uma hipótese e o modelo do veículo é mantido em sigilo para não prejudicar a investigação e a localização da criança. Sobre o trajeto do veículo suspeito, não há mais imagens de câmeras que apontem qual foi a direção tomada. Os investigadores continuam em diligências buscando identificar o veículo.
:: Sem motivo: a Polícia Civil ainda não encontrou uma motivação para o possível rapto da menina. A primeira hipótese descartada foi uma possível disputa de guarda, pois ela é criada por tios paternos. Mandados de busca chegaram a ser realizados em Vacaria, onde mora a mãe de Naiara, mas não foi encontrado nenhum indício contra ela ou outro familiar. Outra possibilidade descartada foi sobre a participação do primo de 15 anos, que era o responsável por levá-la até a escola. As imagens confirmam o depoimento do adolescente e mostram Naiara sozinha no caminho da escola após ser deixada por ele. A equipe de investigação também monitora criminosos com perfil de abusar de crianças, mas nenhum deles teve relação estabelecida com o caso de Naiara até agora.
:: Não há suspeitos: sem motivação, testemunhas ou imagens, a Polícia Civil não tem suspeitos ou locais para procurar. A investigação, assim, está concentrada na região do desaparecimento e suposições feitas por policiais experientes e familiares. O delegado Caio Márcio Fernandes ressalta, em diversos momentos, que nenhuma hipótese é descartada e todos as informações são checadas.
:: Informações falsas: os investigadores acabam perdendo tempo devido os diversos boatos e relatos falsos que surgem, principalmente pelas redes sociais. Indicações de que a criança teria sido vista nos mais diferentes locais chegaram aos montes à delegacia. Além disso, religiosos teriam procurado a polícia para indicar supostos paradeiros da garota. Nada foi confirmado, até o momento. Todas essas informações, até serem verificadas e descartadas, demandam tempo, deslocamento e emprego de esforços que poderiam estar concentrados na apuração de indícios concretos, diz o delegado.
:: Ausência de novos relatos: após o desaparecimento na Rua Júlio Calegari, não há nenhuma outra informação que se provou verídica sobre Naiara. A hipótese que ela foi levada para outros bairros ou até cidades são consideradas. No entanto, pelo que se sabe até o momento, a menina não foi vista em nenhum outro local. A falta de uma referência dificulta o trabalho de buscas.