A partir desta sexta-feira, o Centro de Cultura Popular (CCP) no bairro Reolon, em Caxias do Sul, fecha as portas por tempo indeterminado. O local, que atende a cerca de 60 crianças pobres e oferece aulas de música, deve ser reformado nos próximos anos, juntamente com outros espaços já existentes no Complexo Reolon. A decisão, porém, gerou revolta na comunidade, que teme perder os serviços oferecidos gratuitamente e uma das poucas opções de lazer para os pequenos.
O medo das dezenas de mães que estiveram reunidas na tarde de quinta-feira tem motivo: há quase dois anos, outro centro educativo localizado no mesmo terreno foi fechado para reformas e não retomou mais as atividades. Além disso, as famílias estão inseridas em uma região de extrema vulnerabilidade social e com altos índices de violência. Somente neste ano, nove pessoas foram mortas no Reolon, sem contar outros assassinatos que aconteceram próximo ao bairro.
– É o futuro das nossas crianças que está em jogo. Se meu filho não vier para o CCP, vai ficar na rua. E daí, vai aprender o que a rua quer ensinar para ele? Tenho medo do que pode acontecer. Tem melhorias para fazer, mas não precisa fechar as portas – desabafa Neura Duarte, 41 anos, mãe de um menino de 10.
A presidente da Fundação de Assistência Social (FAS), Marlês Andreazza, garante que todos os alunos do Centro de Cultura serão transferidos para a Casa Brasil, outro espaço existente no mesmo complexo, só que mantido pela Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan).
– As atividades do CCP vão continuar em 2017, só que serão em outro local. A reforma é necessária e se deve muito pela segurança do espaço: falta iluminação, reformas no telhado e outras questões internas e externas, solicitadas pelo Corpo de Bombeiros. Não temos a intenção de prejudicar e sim de oferecer um espaço adequado e seguro para as crianças – explica Marlês.
Mesmo assim, muitas mães afirmam que não foram comunicadas sobre a transferência.
– A prefeitura está selecionando quem vai continuar e quem não vai. Só que aqui todos precisam, não temos dinheiro para investir em atividades extras. As crianças estão tristes, não querem parar de estudar. Se o espaço ficar muito tempo fechado, como é o previsto, muitas crianças irão conviver diretamente com o perigo das ruas e, consequentemente, podem ser marginalizadas – diz Lisiane Pinto, 34, mãe de dois alunos, de 7 e 13, que estudam no Centro.
"Recusaram a nossa ajuda voluntária para evitar o fechamento"
A estudante Bruna Peres de Souza, 22 anos, conta que moradores da região se ofereceram para ajudar a reformar o Centro de Cultura Popular. Porém, não foram autorizados a mexer no espaço.
– A gente fez o que pode. Nos oferecemos para arrumar a iluminação e ajudar no que fosse possível. Só que nos proibiram. Daí agora, vão fechar o espaço e prejudicar, sim, as crianças. Muitos não querem mudar de professor e ficar em um espaço que não é o que estão acostumados. Sem contar que acreditamos que vai acontecer o mesmo que aconteceu com o Centro Educativo Coração de Maria, que nunca mais recebeu nenhuma criança – lamenta a jovem.
Conforme a prefeitura, em maio foi aprovada a liberação de recursos para a reforma de todo o Complexo Reolon, que compreende o CRAS Oeste, a Casa Brasil, o Centro de Cultura Popular Reolon e a Escola de Formação Profissional Marcopolo. Na manhã de quinta-feira, o prefeito Alceu Barbosa Velho assinou a ordem de início das obras de cercamento do local, reivindicação antiga da comunidade.
– Essa primeira etapa do cercamento vai custar R$ 239 mil. Mas já temos mais de R$ 1 milhão aprovado por Lei. Como toda grande obra, é certo que a reforma vai demorar, mas nenhuma criança ficará na rua. Temos essa preocupação – reforça a presidente da Fundação de Assistência Social.
O complexo Reolon atende cerca de 3 mil famílias e 200 crianças nos serviços do CRAS, Centro de Cultura Popular Reolon e Escola Marcopolo. A reforma arquitetônica interna dos espaços vai contar com a parceira voluntária do Escritório Modelo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UCS.