

Cerca de 30% dos casos de câncer de mama são descobertos em mulheres com menos de 50 anos. Cada vez mais jovens se surpreendem com a descoberta e ficam atônitas com a notícia. A impressionante história de hoje é da miniempresária Angélica Medeiros, 34 anos.
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Jornalista conta como encarou o diagnóstico de dois cânceres de mama
No final de 2009, aos 27 anos, ela sentiu um "grão de feijão" na mama direita em um autoexame – a mãe teve a doença e morreu aos 41 anos. Na época morava em Porto Alegre e consultou com cinco ginecologistas diferentes. A resposta foi a mesma: "Não se preocupe. Na sua idade, a probabilidade de ser câncer é quase nula". Insistiu em fazer a mamografia e a ecografia. Nada. Alívio, mas com um resquício de angústia.
Em 2010 se mudou para a cidade de Flores da Cunha e procurou imediatamente uma ginecologista. Solicitou a punção do nódulo. Às vezes, o caminho em busca do monstro é tortuoso. No interior do nódulo, havia outro, de gordura. A agulha chegou lá e só pescou o material da gordura. Portanto, o resultado foi negativo à doença.
Angélica é uma mulher determinada. Não sossegou. Buscou outra profissional. Essa médica agiu com prudência. Encaminhou a jovem para um mastologista em Caxias do Sul que num simples toque sentenciou. "Isso nasceu contigo? Não? Então vamos tirar". Ter a opção de escolher os melhores médicos é a salvação de muitas vidas. Foi o caso de Angélica.
O exame genético
Na semana seguinte, retirava o nódulo. Desta vez, o diagnóstico foi positivo e agressivo. Voltou ao bloco para retirar um quadrante da mama. Aos 28 anos, recém-separada, estava envolvida com sessões de quimioterapia, radioterapia e vivia a fase de estar careca. Em maio de 2012, num exame de rotina outros pontos suspeitos. Foi aí que surgiu a ideia de fazer o exame genético que indicaria a probabilidade de o câncer voltar. Mamas e ovários foram os alvos apontados.
Em abril de 2016, entrava no bloco cirúrgico para retirar as duas mamas. Seis anos de tratamento, de sofrimento e de angústia que valeram a pena. A lição que tudo isso deixou? A sensibilidade de amar e ajudar ao próximo. Hoje ela integra um grupo de mulheres com o mesmo problema. São as Amigas de Peito e Alma, que atuam no Banco de Perucas do Hospital Geral (HG). Na rua, a bela morena de cabelos longos irradia beleza, simpatia e alto astral. Não tem medo de falar da doença.
– Tenho câncer. E daí? Estou muito, muito bem –ressalta em alto e bom tom.
"Nascemos sozinhos e morremos sozinhos"
Juliana Suliva Furtado Batista tem 29 anos. Aos 28, desfilava com seu cabelo louro platinado e chamava a atenção em qualquer lugar que frequentasse.
– Amava meu cabelo. Gastava uma pequena fortuna para cuidar dele.
Em maio de 2016, não acreditou quando abriu o envelope com o resultado do diagnóstico da punção feita na mama direita. O nódulo diagnosticado em novembro de 2015 por um radiologista como um cisto benigno era, na verdade, um carcinoma. Juliana se dirigiu ao carro e foi andando sem rumo. Chegou ao Santuário de Caravaggio, em Farroupilha. Rezou e retornou ao trabalho. Foi seu último dia na empresa em que trabalhava como executiva comercial.

Neste momento, assim como centenas de outras mulheres, vem a pergunta. Por que eu? Casada e com planos de ter filhos, precisou adiar o projeto. Começava neste momento uma luta de pelo menos seis meses. Ela não sabia o que estava por vir. Consultou com um dos melhores mastologistas de Caxias. A cirurgia foi marcada para uma semana depois. Não conseguiu. Uma forte gripe falou mais alto.
Na semana seguinte era aniversário de morte de sua mãe. Também não conseguiu entrar no bloco cirúrgico. Finalmente no dia 10 de junho de 2016 retirou toda a mana direita e colocou o expansor (um acessório utilizado em mulheres que ainda não fizeram radioterapia e que prepara o local para receber a prótese mamária). Hoje está sem cabelo e ainda não tem coragem de sair sem um lenço na cabeça.
O aprendizado
O câncer pode ter lhe tirado uma mama, mas não conseguiu tirar seu prazer de viver. Ela é o orgulho e a primeira sementinha plantada pela amiga Angélica Medeiros. Esteve do seu lado o tempo todo.
– Às vezes, dói, mas aí uma energia surge lá de dentro e me bota pra cima. O câncer te tira muitas coisas, mas te proporciona outras em troca – destaca.
Juliana aprendeu muito com a doença. Uma delas foi a de dizer "não".
– Teve dias em que não queria ver ninguém. Não queria sair de casa. Aprendi a dizer: não quero.
E os amigos?
– Durante o tratamento, muitos somem de tua vida e outros entram. Estes ficam para sempre.
Aprendeu também que nada é para sempre. Tudo passa.
– Deus me mostrou que é preciso ter paciência e fé. Essas lições vou levar para o resto da vida. Aprendi também que a gente nasce sozinho e morre sozinho.