Embora professores e profissionais ligados à educação concordem que uma única nota não é suficiente para avaliar a qualidade do ensino público, as notas divulgadas recentemente pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) evidenciam disparidades e iniciativas que têm dado certo em Caxias do Sul.
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As provas mediram o desempenho de alunos de 5º e 9º anos do Ensino Fundamental. A estatística do Ensino Médio, por outro lado, foi obtida por amostragem e os maus resultados em todo o país apressaram a reforma no Ensino Médio, anunciada quinta-feira pelo Ministério da Educação (Mec).Redes municipal e estadual trabalham para aprimorar os índices, medidos por testes de português e matemática e pela taxa de aprovação em cada escola. Mas na maior parte dos colégios, o corpo docente concorda que o aspecto pedagógico não é a única influencia nos resultados: a comunidade em que está inserida a escola e a participação da família no processo de aprendizagem são essenciais.
Para a secretária municipal da Educação em exercício, Elaine Bortolini, é preciso reconhecer o esforço de cada instituição, mesmo aquelas em que o resultado foi baixo. Entre os planos para avançar estão intensificar a assessoria pedagógica, além de fortalecer projetos desenvolvidos pela própria escola.
– Os grupos de professores sabem quais projetos são importantes para a aprendizagem, então vamos apostar naquilo que a escola acredita, na medida do possível colocando a secretaria a serviço da escola – completa.
Na rede estadual, a aposta da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) é a reforma do Ensino Fundamental, alvo das provas do Ideb. Segundo a coordenadora, Janice Moraes, o plano é reestruturar o trabalho do 4º ao 9º ano, ação em andamento pelo Estado.
– O próprio nome já diz, é fundamental, o estudante tem que sair preparado. Isso parte do pedagógico. Temos que avaliar, porque as mudanças geralmente não refletem a curto prazo – aponta, acrescentando que a formação e o incentivo de professores andam em paralelo.
O que dá certo da rede municipal
Desde o ano passado, a escola Padre Antônio Vieira, no bairro São José, para 20 minutos por dia para ler: dos alunos aos funcionários. No turno da manhã, a professora volta do recreio com a caixa de livros escolhidos pelos estudantes, que leem um pouco por dia. No turno da tarde, a aula já inicia com a atividade. Com as crianças pequenas, a professora faz contação de histórias.
– Assim eles têm continuidade na leitura. E sabemos dos benefícios, ajuda na interpretação, em todo o aprendizado – acredita a coordenadora pedagógica da Padre Antônio Vieira, Sabrina Alano Martini.
Essa ação simples surtiu efeito. A escola ficou em primeiro lugar em Caxias do Sul entre os anos finais do Ensino Fundamental no Ideb, empatada com a Sete de Setembro, de São Luiz da 6ª Légua, com nota 6. Por lá, a aposta é incentivar os estudos por meio de projetos temáticos e práticos, abordando questões como a família e o meio ambiente.
Já a campeã entre os anos iniciais, a Catulo da Paixão Cearense, no Panazzolo, que somou nota 7,2, atribui o resultado a um conjunto de fatores: ausência de evasão escolar, planejamento pedagógico e participação da família.
– Mandamos o tema para casa e eles fazem. As famílias se preocupam, fazem os encaminhamentos que solicitamos. Nosso trabalho tem uma continuidade _ comemora a diretora, Rosane Boff Cassini.
Onde escolas municipais precisam avançar
Grande parte das escolas municipais que ficou com notas baixas no exame compartilha uma realidade: estão inseridas em comunidades em vulnerabilidade social. É o caso da Paulo Freire, no loteamento Mariani. Por lá, direção e professores lutam para ensinar em uma escola bem cuidada, mas com famílias desestruturadas, infrequência e violência escolar. Diante desse contexto, são diversas crianças com barreiras de aprendizagem, inclusive com dificuldade para ler no 5º ano. Para reverter a situação, com nota 4,9 nas duas categorias, o desafio é grande. A aposta é investir em apoio pedagógico, embora o serviço só tenha sido disponibilizado pela prefeitura em três manhãs e três tardes.
– Temos noção da baixa aprendizagem. Vivemos um problema social e precisamos de políticas públicas de aprendizagem – desabafa o diretor, Marcos Roberto da Silva Alves.
Realidade parecida enfrenta a João de Zorzi, no Fátima Baixo, com nota 5,4 entre os anos iniciais e 4 nos finais.
– Estamos brigando para melhorar o entorno da escola, fazendo círculos de paz. Ainda temos pouca adesão dos pais, mas insistimos – explica a diretora, Ana Regina Susin.
O que dá certo na rede estadual
Participação ativa dos pais para que as crianças estendam os estudos ao lar está entre os ingredientes de escolas estaduais para chegar a boas notas. Na Assis Antônio Mariani, no Jardim Eldorado, a diretora Clair Terezinha Delfes Barcarollo também acredita que o incentivo à leitura desde o início dos estudos foi essencial para a maior nota entre as turmas do 8º e 9º ano da rede estadual: 6.0.
– Acreditamos que a parceria com as famílias faz a diferença e tentamos criar um ambiente em que os alunos gostem de estar na escola – completa Clair.
Leitura também é a chave da Ismael Chaves Barcellos, de Galópolis, segunda colocada entre os anos iniciais. A cada 15 dias, alunos do 1º ao 6º ano levam para casa a sacola literária: um kit com revistas, quadrinhos, livros e DVD, além de um caderno para a família enviar sugestões. A ideia é que todos em casa possam aproveitar o material.
Empatada com a Ismael Chaves, com nota 7, a Matteo Gianella, no Santa Catarina, tem tática parecida: as bibliotecárias pesquisam junto aos alunos quais obras eles querem ler e o colégio busca comprá-las com verba da autonomia financeira. Para a diretora, Cledes Guarnieri Camatti, funciona também para aprimorar a matemática, uma das disciplinas avaliadas no Ideb.
Onde escolas estaduais precisam avançar
As notas baixas não são motivo para desânimo na escola Victório Webber, no Serrano: pelo contrário, a ordem é manter o foco e aprimorar projetos para tornar a sala de aula um atrativo. A banda marcial foi retomada no início do ano, além do festival de dança, que deve culminar ao final do ano letivo. Alunos do Ensino Médio estão produzindo um jornal que, se der certo, pode ser estendido a outras séries. Além disso, a escola se preocupa com o pedagógico, buscando palestras de interesse dos jovens, além de oficinas e contato com a universidade. A diretora Sirlei de Matos, no entanto, pondera que ainda falta mais dedicação por parte dos alunos. A escola ficou com nota 5,3, entre os anos iniciais, e nota 2,9, entre os finais do Fundamental.
– Temos que sempre buscar soluções – afirma.
Na Dante Marcucci, no bairro Marechal Floriano, a direção lamenta a baixa participação dos pais no cotidiano escolar e atribui, também, a alta rotatividade de alunos como justificativa para o desempenho. A diretora, Liciene Vaccari Boz, ainda ressalta outros problemas que afetam a aprendizagem: o colégio tem laboratório de informática mas não pode usar porque há risco de acidente com a fiação elétrica _ a reforma é aguardada para outubro.
– A minha realidade é entrada e saída de alunos. Já me reuni com a coordenação pedagógica, vamos trabalhar junto com os professores para sanar as deficiências. Estamos fazendo todo o possível e vamos continuar tentando – aponta.
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Cristiane Barcelos
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