
Em uma casa do Loteamento Altos do Santiago, nas quadras finais do bairro Charqueadas, em Caxias do Sul, atividades consideradas simples para a maioria das pessoas são complexas para duas moradoras e precisam de ajuda da vizinhança para acontecerem. Residem lá Ledir Dutra da Silva, 65 anos, que perdeu totalmente a visão em decorrência da diabetes, e a filha, Carla Dutra, 44, acamada após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) e ter boa parte dos movimentos comprometidos.
Ledir recebe dinheiro da prefeitura — um salário mínimo mensal por meio do Programa de Renda Familiar (PRF), mas também precisa contar com a solidariedade de quem mora por perto. Entretanto, desde janeiro, a situação ficou mais difícil com a morte do marido, Carlos Renato Oliveira Flores, vítima de um câncer.

Uma das vizinhas, Maria Izolete Camargo, 47, auxilia há um bom tempo a família. Cozinha, trata a higiene de mãe e filha, limpa a casa.
— Eu faço comida, ajudo a Carla a tomar banho, troco fraldas. A situação é crítica. Se os vizinhos sumirem, elas perecem — diz.
Recentemente, Carla precisou ficar em torno de 20 dias internada para tratar de uma infecção urinária e da pressão alta.
— Meu físico e psicológico não aguentam mais, mas não queremos abandoná-las — confessa Maria Izolete.

A presidente da Associação de Moradores de Bairro (Amob) Rosário II, Inês Izé Antunes Corrêa, diz que a família precisa de mais ajuda e alerta que a vizinhança não tem mais condições de contribuir. Por ficarem apenas as duas em casa, desassistidas, Inês conta que já flagrou dias em que mãe e filha ficaram sem comer.
Assistência social auxilia família
De acordo com a Fundação de Assistência Social (FAS), Ledir e Carla são acompanhadas pela rede socioassistencial de Caxias do Sul desde setembro do ano passado. O órgão informa que elas recebem aposentadoria e um salário mínimo, mas estuda, segundo o chefe de comunicação, Flávio Jeske, incluir Ledir no Programa de Cuidado Subsidiado — iniciativa de transferência de renda ainda em fase de implementação.
Jeske afirma que foi sugerido o encaminhamento de Carla para uma clínica e da mãe, Ledir, para uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), o que, segundo ele, foi negado pelas duas.
Ledir afirma que a proposta foi feita ainda quando o marido estava vivo, mas que envolvia apenas a possibilidade do casal ser atendido em uma ILPI. Contudo, não aceitou porque, de acordo com ela, não havia uma vaga para internação da filha no mesmo local.