Os nomes das ruas de Caxias do Sul carregam histórias que remontam ao passado, refletindo a identidade cultural, política e social da cidade. Nos últimos meses, essas denominações voltaram ao centro das atenções, com a substituição e implantação de novas placas de identificação pela concessionária Imobi All Space Infront Spe S/A. O processo, iniciado em outubro, gerou discussões, como os erros encontrados nas placas da Rua Sinimbu, no cruzamento com a Dr. Montaury, e da Rua Gilda G. Nora, dentro da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Mas você já parou para pensar na origem dos nomes das ruas e avenidas que fazem parte do dia a dia dos caxienses? Júlio Prates de Castilhos, que batiza a principal avenida da cidade, foi um jornalista e político gaúcho, chegando a ocupar a presidência do Rio Grande do Sul por alguns meses, em 1891. Já a Rua Os 18 do Forte remete a um movimento militar de 1922 contra o governo do presidente Epitácio Pessoa e seu sucessor eleito, Artur Bernardes. Esses são apenas alguns exemplos de como as vias da cidade carregam memórias e significados históricos. No mapa abaixo, você confere detalhes de alguns nomes.
Vitalina Maria Frossi, doutora em Educação e mestre em Linguística, que foi professora da UCS, coordenou ao lado de Carmen Maria Faggion e Giselle Olívia Mantovani Dal Corno o projeto: Toponímia - Os nomes da cidade de Caxias do Sul: vias, bairros, praças, monumentos. A toponímia estuda os nomes próprios de lugares e o foco é a análise e a elaboração da etimologia desses nomes, mas o estudo foi multidisciplinar e abordou outros tópicos.
O estudo, realizado entre 2007 e 2011, deve virar um livro em breve. Ele aponta que, de um total de 16 ruas do centro da cidade, 10 receberam as nomenclaturas ainda no período colonial, o que dificulta encontrar a data exata de denominação.
— A rua é um microcosmos do próprio centro urbano. Pela rua transitam as pessoas. Elas guardam a memória de quem morou ali ou de quem trabalhou e que passa de geração para geração. Não pode ser perdido — afirma Vitalina.
Na época, foram analisados os nomes de 3.664 ruas e praças da cidade. Do número geral, 62% são representados por nomes italianos, sejam de pessoas, animais, acidentes geográficos vegetais, entre outros, e 38% de não italianos. Porém, é raro encontrar uma das principais ruas da cidade com nomes de origem ítalo-brasileira.
Conforme o estudo, as pessoas que dão nome às vias centrais de Caxias tiveram participação ativa em governos ou em guerras, como na Revolução Federalista e na Guerra do Brasil contra o Paraguai. Também há influências da Igreja Católica e da maçonaria. No passado, quem determinava os nomes era o intendente da cidade — cargo hoje de prefeito —, que era nomeado pelo governador.
— Era um mínimo de pessoas que não era da origem étnica italiana, e que na verdade denominaram as ruas. Então, memória oficial e memória étnica, ou popular, são duas coisas bem distintas. A memória étnica, em todo esse período não funcionou, não apareceu, ela começa a aparecer bem mais tarde, com a denominação de ruas não do bairro Centro. Do bairro Centro só tem uma rua que não é luso-brasileira, que é a Garibaldi, só que o Garibaldi temos que ter em mente que era o “herói dos dois mundos”, então ele também figura como um herói brasileiro e por isso ele aparece — explica a coordenadora do estudo.
A pesquisa aponta, ainda, que o gênero masculino tem uma representatividade numérica maior em relação ao feminino. Conforme Vitalina, os nomes de mulheres não estão em ruas do Centro, mas sim nas periferias. Com análise nas sessões da Câmara de Vereadores do passado, o estudo chegou a uma conclusão:
— Em resumo, o que era alegado para denominar uma rua com nome masculino: foi um político exemplar, militar, foi uma pessoa que contribuiu muito economicamente no desenvolvimento da comunidade. O que era apresentado como justificativa para denominação de nomes femininos: a mulher tinha que ter sido uma boa dona de casa, ter demonstrado uma dedicação muito grande ao marido e aos filhos, e ser prestativa com as necessidades da comunidade em que vivia.
Mudanças e curiosidades
A Rua Dr. Montaury, que hoje é uma das mais importantes do centro da cidade, já foi conhecida popularmente como Rua Vila Bela. De acordo com a pesquisa encabeçada por Vitalina, essa denominação aponta que no passado moças muito bonitas moravam em um palacete localizado na Montaury, o que colaborou para essa propagação popular.
Além disso, a Avenida Júlio de Castilhos, por exemplo, também já foi chamada de Rua Grande porque era a maior da época, depois passou a ser Rua Silveira Martins e, por fim, recebeu a atual denominação.
As placas
Iniciada em outubro do ano passado, a parceria público-privada que está trocando as placas de ruas de Caxias já atualizou um total de 747 conjuntos toponímicos, com 1.494 placas. Desse número, 77 foram instaladas em postes novos e 670 em postes revitalizados. Os números são da assessoria de imprensa da concessionária Imobi All Space Infront Spe S/A.
Questionada pelo Pioneiro, a prefeitura disse que há uma pessoa responsável pela fiscalização das placas instaladas e que, nesta semana, foi realizada uma reunião com os representantes da concessionária. Sobre os erros, como no caso da Sinimbu e da Gilda Nora, o Poder Executivo diz que a empresa "fez alterações na pesquisa, inclusive nos últimos dias para não acontecer novamente”.
A partir da PPP, a prefeitura busca implantar e manter quase 20 mil novas placas. O contrato, que tem duração de 20 anos, não tem custos para a prefeitura, uma vez que a concessionária poderá explorar espaços publicitários no topo das placas.
Para ter o direito de explorar o serviço, a concessionária precisou pagar R$ 1,3 milhão de outorga. Ao longo do contrato, ela também terá que destinar 2% da receita bruta anual à administração municipal. O contrato com a concessionária é fiscalizado pela Secretaria de Obras e Serviços Públicos (Smosp).