Quase três semanas após a instalação em pontos fixos do centro de Caxias do Sul, o temor de alguns vendedores ambulantes de que a clientela não saberia onde encontrá-los aos poucos vai ficando para trás. Consumidores que antes encontravam as peças de vestuário e outros produtos em diversos pontos da Avenida Júlio de Castilhos e vias do entorno têm comparecido nas ruas Dr. Montaury e Marechal Floriano. Nos dias de instabilidade que dominaram as últimas semanas, no entanto, o antigo cenário de vendedores nas calçadas voltou a ser visto na cidade. É que os locais designados pela prefeitura não oferecem proteção contra a chuva e os ambulantes dizem não ter outra alternativa a não ser buscar abrigo. Alguns, inclusive, deixam de trabalhar em dias assim.
A reportagem observou a atividade dos vendedores ao longo da semana e constatou a presença deles embaixo de marquises da Avenida Júlio nos dias de chuva. Em boa parte dos casos, a mercadoria ela colocada no chão, sobre um material plástico. Apesar de estarem fora dos pontos designados, a concentração dos ambulantes ocorria no entorno da Montaury e da Marechal Floriano. Na quarta-feira (8) e na quinta-feira (9), dias que registraram sol, eles voltaram a trabalhar nos pontos determinados.
— Em dias de chuva é mais complicado, não tem como ficar aqui porque, com as barracas que a prefeitura deu para a gente, não tem como proteger a mercadoria. Então, estamos obrigados a ir embaixo de uma coisa para esconder e poder trabalhar, senão não dá — conta o senegalês Famara Bop, 30 anos.
Conforme ele, os primeiros dias no novo endereço foram complicados porque os clientes fixos não sabiam onde encontrá-lo. Com o passar do tempo, porém, os consumidores se habituaram com o novo local. Outro temor era de que as vendas caíssem devido à concentração dos vendedores em um mesmo ponto, mas a medida tem servido de chamariz aos clientes.
— Tínhamos medo que as pessoas não viessem porque todo mundo tem a mesma mercadoria, mas graças a Deus estamos vendendo — relata Bop.
O peruano Aquino Rivera, 43, também aprova o local designado para ele, na Rua Marechal Floriano, entre a Avenida Júlio e a Rua Pinheiro Machado. Ele observa, porém, que o espaço individual poderia ser um pouco maior e uma cobertura, ainda que provisória, ajudaria em dias de chuva. Com clima instável, a solução para ele é instalar a barraca um pouco mais para o lado, onde existe uma marquise.
— Com relação ao local, é legal, mais ordenado. A barraca é boa para dias de sol e frio, mas para dias de chuva poderia ter outra solução. Não podemos ficar em casa, as contas chegam. A criação de um camelô seria muito bom, uma ajuda enorme. A gente não gostaria de incomodar mais ninguém — afirma.
Prefeitura diz buscar alternativas
O secretário do Urbanismo de Caxias do Sul, João Uez, confirma que a prefeitura tem mantido conversas com os representantes dos vendedores a fim de encontrar uma solução para os dias de chuva. Conforme ele, a questão tem sido conduzida com diálogo e bom senso com o objetivo de adotar uma solução que agrade os ambulantes e também o restante da comunidade, especialmente os lojistas.
— Sabemos que em Caxias tem um inverno rigoroso, com semanas chuvosas, mas se verifica que quando o tempo limpa eles se deslocam novamente para os pontos designados. Eles estão respeitando, mas claro que tem essas excepcionalidades em dias de chuva — destaca Uez.
O secretário não revelou quais são as alternativas estudadas e também não disse se os vendedores estão sujeitos à fiscalização ao se abrigar embaixo das marquises enquanto uma solução não é adotada. Ambulantes relataram à reportagem que acordaram com a fiscalização do município a não aplicação de penalidades em dias de tempo instável.
Os vendedores se instalaram nos pontos designados no dia 23 de maio, cerca de um mês depois da entrega das tendas pela prefeitura. O material foi adquirido pelo município por meio de uma parceria com o Banco da Família. Os vendedores que vão utilizar esses espaços foram cadastrados pela prefeitura, pagaram uma taxa de R$ 116,45, que deverá ser quitada anualmente. Eles também não devem ter vínculo empregatício. A longo prazo, o plano do município é encontrar um espaço para montar uma espécie de centro de compras.