Caxias do Sul segue sendo a segunda cidade do Estado com maior fila de espera para realização de provas práticas para obtenção de Carteira Nacional de Habilitação (CNH). São 5.307 pessoas aptas a fazerem o exame no município. A primeira no ranking é Porto Alegre, com quase o triplo de candidatos, 15.102. Ao todo, 21 municípios ultrapassam a barreira das mil pessoas aguardando, o que representa 60,13% do quantitativo represado no Estado, que é de 100.622.
Na Serra, além de Caxias, Bento Gonçalves aparece nesse rol, em 18º lugar, com 1.348 candidatos. Os dados levantados na terça-feira (30 de novembro) têm base no que o sistema apontava na última sexta (26). Para tentar dar fluxo a essa demanda reprimida, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) pretende fazer uma força-tarefa a partir da segunda quinzena de janeiro do ano que vem.
— Tivemos uma evolução ao longo do ano, mas ainda é uma situação crítica, porque nossa fila continua grande — reconhece o chefe da Divisão de Exames do Detran, Gelson Benatti.
Para o gestor, dois fatores colaboraram para fazer com que a fila chegasse a esse patamar. O primeiro é que, em função dos protocolos para evitar o contágio pelo coronavírus, a oferta de exames foi reduzida e permaneceu assim até agosto desse ano, com cerca de 23 mil provas por mês. De setembro em diante, com as flexibilizações, passaram a ser aplicadas 55 mil provas mensais, acima das 50 mil feitas antes da pandemia.
— Isso reduziu a fila em muitos municípios do Estado. Mas não em todos. No começo do ano tínhamos uma situação de atraso generalizado. Hoje, temos bolsões de atraso, que são as cidades maiores — pondera.
Para Benatti, outro fator que está mantendo a fila alta é o aumento nos níveis de reprovação:
— Durante a pandemia, o processo de formação dos candidatos também foi afetado. As pessoas tiveram que fazer aulas remotas, as provas práticas demoraram... Depois, não conseguimos ofertar os exames em uma velocidade rápida para os candidatos e eles começaram a demorar para fazer a prova após terminarem as aulas. Isso acabou aumentando os índices de reprovação. No momento em que a pessoa reprova, ela simplesmente troca de lugar nessa fila, não libera vaga para outra.
Mesmo que a situação não esteja normalizada, o cenário para quem aguarda a carteira de habilitação já é bem melhor do que há algum tempo, no pico da pandemia, quando a média de espera chegou a ser de seis meses. Atualmente, alguns CFCs de Caxias estão agendando as provas práticas para categoria B (carros) para meados de fevereiro. Ou seja, para cerca de dois meses.
Marília Vanin, instrutora do CFC Thomas, em Caxias, diz que tem 180 alunos aptos a fazerem o exame e que está agendando provas práticas para fevereiro. As férias coletivas do Detran, de 20 de dezembro a 3 de janeiro, também influenciam nesse calendário. Além disso, os CFCs têm um turno por semana para realização dos exames. No caso do Thomas, são 24 vagas nas sextas-feiras pela manhã. Às vezes, acontece uma redução dessas vagas por parte do Detran, geralmente em decorrência de problemas no quadro de pessoal.
— Marcamos as aulas práticas, inclusive, perto da data em que teríamos a prova e deixamos pré-agendadas. Dessa maneira, conseguimos não deixar o aluno tanto tempo sem aula. Mas, por exemplo, se o aluno reprovar hoje, ele será remarcado para metade de fevereiro, em uma fila diferente, de reteste — explica Marília.
A categoria de motos é mais complicada, já que o número de vagas de cada CFC para exames é menor. No Thomas, são três vagas a cada semana. Com isso, as provas estão sendo agendadas para o começo de abril.
Natalina Silvestrin, administradora do CFC São Cristóvão, em Caxias, diz que o centro de formação também está agendando exames para fevereiro.
— Esses anos foram atípicos, é preciso compreender. Tivemos que ficar fechados quase dois meses, aí começou a represar e fomos colocando em ordem. Teve paralisações e a pandemia... Está represado, mas esperamos que logo normalize — pondera a administradora.
Entre os candidatos, a atenção está mais voltada para a aprovação do que para o tempo de espera. Felipe Antunes, 20 anos, fez a prova prática para primeira habilitação na categoria B na tarde dessa quarta-feira. Ele concluiu as aulas práticas em agosto, teve o exame marcado para setembro, mas teve covid-19 e precisou cancelar. A nova data ficou para 1º de dezembro.
— Ontem (terça) quase não consegui dormir relembrando as aulas práticas, o passo a passo, para poder estar preparado. Se Deus quiser, vou passar — disse o auxiliar de produção, que achou tranquilo o processo de formação.
José Volmir, 46, também vai tirar a carteira de motorista pela primeira vez. No caso dele, a habilitação tardia teve motivo financeiro. O vigilante esteve desempregado por seis anos. Recentemente, mudou com a família para Porto Alegre, onde conseguiu trabalho. Como já tinha iniciado o curso de formação em Caxias, voltou nessa quarta (1° de dezembro) para uma última aula e para a prova.
— Comecei em junho desse ano. Foi tudo tranquilo. Fiz as aulas online, quando terminei marcaram a prova teórica. Na semana seguinte iniciei as práticas, terminei há cerca de dois meses e marcaram a prova. Teve esse intervalo, mas normal, tranquilo — comentou o vigilante, que também fez uma última aula antes do exame no qual foi aprovado na tarde dessa quarta.
Força-tarefa depende de liberação de horas extras ou remanejo
Para tentar reduzir o tempo de espera para os exames práticos e, com isso, a fila, o Detran pretende fazer uma força-tarefa a partir da segunda quinzena de janeiro do ano que vem nas cidades onde há mais demanda, como aponta o chefe da Divisão de Exames, Gelson Benatti:
— O grande desafio agora é reduzir esse intervalo. A única forma que temos para isso é aumentar a quantidade de pessoas aplicando exames. Estamos aguardando liberação de horas extras pelo governo do Estado. Hoje, estamos com uma espera entre três a quatro meses nesses lugares onde temos represamento maior.
Benatti explica que apesar de existirem CFCs, em cidades menores, que utilizam 60% das vagas disponibilizadas, a logística de deslocamento entre um município e outro impede que elas sejam aproveitas em outro local. O Detran diz que ainda enfrenta o problema de afastamentos de examinadores em função da covid-19, mesmo que em volume menor do que nos oito primeiros meses do ano, e também teve servidores que deixaram a atividade. Como não houveram novas contratações desde o início da pandemia, para minimizar a questão do déficit de pessoal (o quadro é de 180), o Detran adiou as férias dos examinadores que ocorrerão de forma coletiva de 20 de dezembro a 3 de janeiro.
— A ideia é fazer força-tarefas a partir de janeiro, ou contando com horas extras ou uma alternativa é direcionar examinadores de locais em que haja poucas provas sendo aplicadas para outras rotas. Estamos tratando dos últimos detalhes de como operacionalizar isso, mas pretendemos que seja a partir da segunda quinzena de janeiro — projeta Benatti.
Uma dificuldade adicional de Caxias, sempre referida pelo Detran, é a quantidade de CFCs e portanto de locais de provas. São 11 no município, que perde apenas para Porto Alegre que tem 34. Sobre isso, o Detran pretende retomar, em 2022, a discussão sobre ter um único lugar de exames.
Além disso, outro aspecto ajudou a inflar a fila de exames práticos: a maior agilidade na execução das provas teóricas. É que a implantação das chamadas salas eletrônicas nas sedes dos próprios CFCs deu vazão a esse represamento tornando mais pessoas aptas às práticas. Em 2020, eram oferecidos 30 mil exames teóricos por mês. Com a implementação do novo modelo, esse número passou a ser de 205 mil vagas mensais neste ano.
— Ainda temos em torno de 30 mil candidatos por mês (esperando para fazer exame teórico). Mas, entendemos que essa é uma quantidade normal. Na prova teórica a situação é considerada regularizada — comenta Benatti.