
As belezas naturais e uma vasta diversidade de atrações, independentemente da época do ano, tornaram Gramado o destino de milhares de pessoas do Rio Grande do Sul, do Brasil e do mundo. Agora, o município quer dar um passo adiante e ser reconhecida como a "cidade para todas as idades", que levará em conta uma melhor qualidade de vida para todos os moradores, mas com olhar especial para os 60 anos. O caminho é extenso e, caso obtenha sucesso, Gramado poderá se juntar a Veranópolis, também na Serra, e Porto Alegre.
A cidade para todas as idades é um movimento liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que leva em conta aspectos para um envelhecimento ativo. Esse conceito é seguido a fim de tornar o município um lugar de convivência mais fácil, confortável e segura para o idoso.
O interesse de Gramado em estar nesta ainda seleta lista, que já tem dois municípios do Estado, partiu do próprio município. Entretanto, ao contrário do que era imaginado, não é de agora, como revela a secretária da Cidadania, Assistência Social e Defesa Civil, Vera Simão.
— Foi iniciado há pelo menos cinco anos. A verba estava nas contas, mas não tinha sido dado continuidade. Com o intuito de pensar e ter idosos nos nossos projetos, voltamos a abraçar essa causa. Foram eles que praticamente criaram nossa cidade, quando lá atrás foram os jovens. Eles não podem ficar no esquecimento, tem que ser tratados com o máximo de dignidade, atenção e carinho para o melhor — destaca.
A ação de Gramado passará por uma pesquisa diagnóstico para verificar o quanto ela é favorável ao desenvolvimento humano. Para atender a demanda do projeto, a participação de um grupo extenso é fundamental.
Por parte do município estão a Secretaria Municipal da Cidadania e Assistência Social, Conselho Municipal do Idoso e servidores públicos de todas as secretarias. Na coleta de dados da pesquisa, estatísticas e formatação do plano de ação, a Universidade de Caxias do Sul (UCS), Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), executor do projeto, o Instituto Moriguchi, parceiro institucional, e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Etapas da pesquisa
O estudo é cientifico, de metodologia quantitativa e qualitativa. Na primeira, são 11 pesquisadores, sendo um estatístico. A parte de campo, qualitativa, tem três etapas. A primeira delas começou dia 26 de outubro, com 367 questionários aplicados, e vai se prolongar até o final de novembro. Na segunda haverá uma entrevista em profundidade e, na terceira, grupos focais. Ao final, um relatório com os indicadores para a construção de um plano de ação, cuja expectativa é de ser entregue no final do primeiro semestre de 2022. Depois de enviado para a OMS, o passo seguinte é a apresentação de uma carta de intenções em busca da certificação.
Conforme o professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Delcio Agliardi, que coordena os trabalhos ao lado de inúmeros colegas da universidade, são verificados uma série de critérios inseridos na pesquisa.
— Um envelhecimento saudável, com politicas-públicas que favoreçam a condição ao idoso, é fundamental. Ela é medida por indicadores como transporte e mobilidade pública, estacionamento, acessibilidade aos prédios públicos, redes de unidades básicas de saúde (UBSs), programa de família para o idoso, cidade sem preconceito, atividades esportivas e culturais para esse público. É natural que esses protocolos sejam seguidos — explica.
Agliardi ainda esclarece que a pesquisa está voltada para questões dos moradores a partir da faixa etária dos 60 anos em diante.
— O morador é quem fica melhor integrado às coisas do município, é quem também terá ganhos com a estrutura que será oferecida — situa.
Segundo Berenice Maria Werle, da equipe do Instituto Moriguchi, o levantamento em Gramado pode ter algumas peculiaridades, as quais precisam ter atenção dos pesquisadores.
— A gente precisa ter o cuidado de entrevistar apenas os moradores, porque em Gramado muitas pessoas tem imóveis, mas são turistas, não usam o sistema de saúde, não tem a vivência da rotina da cidade. E isso é fundamental no levantamento dos dados que os profissionais da UCS e do Instituto Moriguchi estarão realizando — adianta.
Mais uma forma de promover a cidade
Os promotores da pesquisa que busca colocar Gramado como "cidade para todas as idades e amiga do idoso" são unânimes em afirmar que, além dos benefícios para a população em geral que possam a ser implementadas, a certificação também ajudará a promover mais o município como destino não apenas em termos turísticos, como também local fixo de moradia. Por isso, a comunidade gramadense tem papel fundamental.
— A comunidade, às vezes, tem dificuldade de compreender que esse título de cidade amiga do idoso impacta a vida de todos nós. Se ela (vida) for mais fácil para um idoso transitar por questões de mobilidade com rampas, escadas com degraus menores, transporte, saúde e outros, é mais seguro. Cidades como Sidney e Nova York também estão pensando nisso e se adequaram para o melhor. Se pensa no idoso porque é mais nítida a limitação, mas o ganho é de todos — menciona.
Para a secretária Vera Simão, a receptividade em Gramado será, como sempre, excelente.
— Nossa comunidade é sempre receptiva para aquilo que traz benefícios. Acredito que será um sucesso — aposta.
A secretaria destaca ainda que, mesmo antes dos apontamentos que a pesquisa venha a trazer, Gramado já trabalha forte junto ao público idoso.
— A gente sabe que podem vir surpresas boas ou ruins. Mas o município está trabalhando em prol dos idosos. Em breve vamos retomar a ginástica nos bairros e praças. Projetos serão retomados e estamos trabalhando para, em breve, contar com o Centro Dia para Idosos. A gente entende que está dando uma boa atenção, mas podemos avançar — apresenta.
Entretanto, mesmo que tenha um olhar voltado para essas faixas etárias, as melhorias que as cidades devem promover irão atender a toda a população. Isso porque, pontos centrais principalmente relacionados a saúde, como melhorias e expansão das Unidades Básicas de Saúde (UBs), distribuição de medicamentos e acessibilidade, são levados em conta.
* Dra. Berenice Maria Werle é médica geriatra; mestre em Clínica