A chegada do inverno no próximo dia 21 reforça um alerta para as famílias: a estação mais fria do ano traz consigo o período mais crítico para doenças respiratórias, principalmente, entre crianças. Neste ano, a preocupação é ainda maior diante da retomada das aulas presenciais em todas as esferas do ensino básico e a propagação do coronavírus, que continua lotando leitos em hospitais da região, e outras doenças.
Para profissionais da área de saúde, 2020 foi um ano atípico de atendimentos infantis relacionados a doenças virais, em sua maior parte, respiratórias. Uma das hipóteses para a redução de procura em serviços públicos e particulares está relacionada ao fechamento das escolas e, por consequência, a permanência das crianças em casa. Ou seja, em resumo: menos circulação, menos contágio.
Dados da Secretaria Municipal da Saúde de Caxias do Sul revelam que a procura por atendimentos de doenças respiratórias nas unidades básicas de saúde (UBSs) aumentou mais de 170%, comparando-se os meses de abril e maio de 2020 com o mesmo período deste ano. O levantamento leva em consideração consultas para crianças de 0 a 12 anos. Em abril e maio de 2020, foram registrados 855 atendimentos deste tipo. Já no mesmo período deste ano, as consultas de crianças até 12 anos por doenças do aparelho respiratório chegaram a 2.312.
Não é somente no sistema público que o aumento de atendimento foi percebido. O pediatra Marcelo Saldanha, que atende em consultório particular de Caxias, também notou maior procura entre os seus pacientes no último mês, principalmente, após a volta das crianças para as escolas. Ele comenta que 2020 foi um ano totalmente fora do padrão de internações infantis:
— Estou há mais de 25 anos em UTI pediátrica e ano passado foi totalmente atípico, o inverno mais calmo que eu já vi. Isso se deve pelo distanciamento social, não teve escolinha aberta, as escolas fundamentais estavam fechadas. A gente até brincava que os plantões eram moleza porque não havia crianças internadas por doenças respiratórias. Acontece que o inverno é um período que nós esperamos com intensa atividade, com muitas crianças graves e lotação de emergências e UTIs pediátricas. Agora, esse ano já está entrando num padrão normal, como sempre foi. Em abril, já começaram as doenças respiratórias. E, sem dúvida, o retorno das escolas está intensificando os casos de doenças respiratórias entre crianças. Na minha cartela de mais de 2 mil pacientes, aumentou muito a quantidade de doentes, com sintomas de resfriados — avalia o médico que também atende as UTIs pediátricas do Hospital Geral e do Círculo.
Embora tenha notado o aumento da procura por atendimento nesse último mês, Saldanha revela que os casos graves de doenças respiratórias ainda são em baixo número. Ele também não vê um cenário de lotação de emergências e UTIs pediátricas por conta de casos de covid-19. Segundo o médico, o mais preocupante, na sua opinião, são os outros vírus já conhecidos.
— Notei que houve mais infecção por covid nos meses de abril e maio. Só que as crianças não costumam fazer um quadro grave. Elas cursam, geralmente, como uma doença respiratória mais leve. Mas eu acho que a covid não vai mudar seu padrão nas crianças nesse inverno. Pode ser que seja mais lesivo, sim, mas não neste momento. O que a gente já sabe é que vai ser um inverno típico e o que, provavelmente, vai incomodar mais as nossas crianças são as doenças respiratórias habituais, como a bronquiolite, o adenovírus e os (vírus) influenza, que tradicionalmente lotam nossos atendimentos no inverno — explica o pediatra.
Janelas abertas são desconfortáveis, mas necessárias
Entre os protocolos firmados e documentados pelas secretarias estaduais de Saúde e Educação para a volta às aulas presenciais, estão a obrigatoriedade de uso de máscara para trabalhadores e alunos (exceto situações específicas como para crianças menores de dois anos), distanciamento entre os estudantes nas salas de aula, além da higienização mãos e ventilação dos ambientes.
São justamente essas as medidas principais que a médica e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lucia Pellanda, acredita serem as mais importantes para evitar novos picos de contágio a partir da permanência do ensino presencial:
_ Sabemos que é frio e pode ser um pouco desconfortável, mas é fundamental manter os ambientes bem ventilados. A principal forma de transmissão da covid-19 é respiratória, assim, as três principais formas de prevenção são a máscara bem ajustada, o distanciamento e a ventilação dos ambientes. A ocorrência de novas ondas de contágio também vai depender do comportamento das pessoas — avalia Lucia.
Diante da orientação de manter portas e janelas abertas para circulação do ar, o pediatra Marcelo Saldanha explica que os pais devem agasalhar as crianças para manter o conforto térmico:
— Nos períodos que as crianças não estão na escola a orientação é não expô-las ao frio e, quando forem à aula, que sejam bem agasalhadas — orienta o médico.
Família da pequena Maitê teve que testar para covid-19 após resfriado
Logo que Maitê, de um ano e oito meses, voltou para a escolinha, em maio, sofreu com um resfriado. O quadro, felizmente, não evoluiu para uma complicação mais grave, mesmo assim deixou a mãe dela, a consultora de imagem Juliana Monjardim, apreensiva.
— Mesmo sabendo que isso aconteceria, a gente está vivendo em uma pandemia e o medo da covid sempre estará presente. Logo que ela apresentou os primeiros sintomas, eu informei a escola e deixei ela em casa para observar. Como eles persistiram, resolvemos fazer o teste em todos aqui em casa e, de fato, era só um resfriado, todos testamos negativo — explica Juliana.
A consultora de imagem diz que sentiu que a instituição que Maitê frequenta estreitou ainda mais os laços com as famílias para monitorar possíveis casos de resfriados e viroses e proteger as demais crianças. Natural do Rio de Janeiro, ela também não tem rede de apoio na cidade, por isso, precisou optar pelo retorno da filha à escolinha.
— Vejo a escola fazer tudo o que é possível e necessário para proteger as crianças e seus funcionários. Senti a necessidade de matricular a Maitê, primeiramente, para o desenvolvimento dela. Em um segundo momento, pesou muito o fato de não termos nenhuma rede de apoio em Caxias, somos do Rio de Janeiro e estamos sozinhos aqui. Era bem exaustivo dar conta de tudo sozinha com ela, pois o meu marido é atleta e fica muito tempo fora de casa. Eu precisava ter tempo de qualidade nas minhas funções. Acho que fizemos a melhor escolha e essa resposta vem através dela que mudou completamente com a rotina de escola — conta Juliana.
DICAS PARA PROTEGER SEU FILHO
- Oferecer alimentação saudável para as crianças.
- Manter o aleitamento materno até os dois anos ou mais.
- Evitar aglomerações familiares e não expor as crianças ao contato com pessoas resfriadas.
- Melhorar os hábitos de vida da família, como ter um bom período de sono e hidratação adequada.
- Crianças e bebês, principalmente, não devem ter contato com a fumaça de cigarro.
- Higienização das mãos com água e sabão antes de tocar no bebê.
- A bronquiolite é uma doença com sintomas como tosse, congestão nasal, dificuldade respiratória, chiado no peito e febre. Pais e responsáveis devem ficar atentos a esses sinais.
Fonte: pediatra Marcelo Saldanha