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Um ano se passou desde que a solidariedade de Leonardo Cambruzzi, agora com 12 anos, acalentou um Brasil que ainda se acostumava com a dura realidade da pandemia. Naquele abril de 2020, o morador de Antônio Prado, na Serra, doou ao hospital da cidade R$ 21,45 arrecadados com a venda de latinhas que ele mesmo amassou ao longo de uma semana. A história se espalhou tanto e tão rapidamente que o guri tímido passou a sair de casa de touca para tentar disfarçar os cabelos loiros que facilitam sua identificação aonde quer que vá com a mãe, Zuleide.
A visibilidade, é claro, beneficiou a família, que vivia em moradia precária e à beira da fome. Após terem exposta a sua situação de vulnerabilidade, os Cambruzzi puderam se mudar para uma nova casa, livre das frestas e goteiras, graças ao aluguel social oferecido pela prefeitura. O contrato de um ano, no entanto, venceria este mês e o direito à permanência por tempo indeterminado só foi garantido após intervenção da Defensoria Pública do município. Um respiro para Zuleide, que não trabalha há cinco anos por problemas de saúde, e o marido, Adair Maziero, poderem continuar cuidando de Léo e dos irmãos Rafael, 14, e Eduardo, 5.
- Desde o fim do ano sabíamos que o contrato iria vencer, e, se não fosse pelo defensor público, acho que estaríamos morando na rua. Não temos outro lugar para ir. Perdi muitas noites de sono, porque uma mãe nessa hora só pensa na dignidade das crianças - desabafa Zuleide.
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Além da casa em si, no bairro Panorâmico, bastante ajuda chegou da comunidade, especialmente nas primeiras semanas após a mudança. Os Cambruzzi receberam mobília completa, roupas, cestas básicas e até um coelhinho de estimação. Nos últimos meses, contudo, a ajuda diminuiu na mesma medida em que se tornou mais necessária para a família, que vive dos ganhos de Adair como servente de pedreiro. Tornou-se mais escassa, também, a arrecadação de latinhas para Léo vender. Mesmo modesto, o lucro, que antes girava em torno de R$ 50 por mês, ajuda a complementar o orçamento para comprar os itens essenciais do mercado.
— Antes ele pegava a bicicleta e ia atrás para catar latinhas onde tivesse, mas depois nos alertaram que ele não podia fazer isso, por ser um tipo de trabalho e ele não ter idade para isso. Então, ele passou a ganhar sacolas de latinhas em casa, como doações, mas isso também caiu muito. Acho que isso é porque os bares estão fechados e não está tendo festas, mas também porque tem cada vez mais gente precisando — lamenta a mãe.
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Cursando o quinto ano do ensino fundamental, Léo assiste às aulas online pela manhã. Vai bem em Português, mas não se dá bem com a Matemática. À tarde, enquanto não reabre a escolinha de futebol, que frequenta com bolsa, dedica a atenção à pequena “oficina” em que amassa as latinhas com um martelo, em um pequeno galpão no fundo da casa. Os lacres de metal ele retira para doar a uma rádio local, que mantém um projeto social em prol de pessoas que precisam de equipamentos como muletas e cadeiras de roda.
Na oficina improvisada, estão as camisas de times de futebol que ganhou no ano passado de alguns dos principais clubes gaúchos. Gremista, Léo que quer ser goleiro profissional, também sonha em conhecer a Arena do Grêmio e o técnico tricolor, Renato Portaluppi. E por mais que a família esteja em dificuldade, não pensa em parar de ajudar a quem passa por necessidades ainda maiores.
— Onde tem alguém passando necessidade, a gente precisa ajudar. Foi isso que eu pensei quando quis ajudar o hospital, sem imaginar que ia chamar tanto a atenção — resume o Léo.
A família Cambruzzi pede para que interessados em contribuir com latinhas para o menino, ou mesmo em oferecer uma ajuda financeira neste momento difícil, entrem em contato pelo telefone: (54) 992025236.