
Muitas pessoas podem ter se identificado com a situação vivida pelos moradores da Rua Vico Parolini Thompson, no bairro Cristo Redentor, em Caxias do Sul, onde seis famílias perderam sete parentes para a covid-19 em um período de 20 dias, em março deste ano. Além dos familiares, os vizinhos viram morrer amigos, com os quais conviviam diretamente há décadas. Somada à morte dos entes queridos, a pandemia impõe a ausência das formas tradicionais de despedida, o que acaba gerando ainda mais angústia e sofrimento. Nesse contexto, especialistas orientam sobre maneiras de vivenciar o luto e também sobre como conviver nesse novo ambiente social de forma segura e sem preconceito.
A psicóloga Camila Pelizzer atuou em um hospital da cidade e acompanhou de perto a relação de vida e de morte de pacientes. Ela explica que a pandemia afetou o bem-estar da sociedade de forma significativa em diversos aspectos. As restrições nas atividades rotineiras, o medo pelo contágio e pela morte, sua e de pessoas próximas, passaram a fazer parte do dia a dia das pessoas. Há quem tenha perdido amigos, familiares ou conhecidos e ingressou no processo de luto por aqueles que, até então, estavam próximos. Segundo Camila, de um modo geral, a condição da perda, no contexto da pandemia, tem características específicas, que dificultam este processo.
– A negação, uma das fases iniciais do processo de luto, é considerada um mecanismo de defesa, que possibilita que a pessoa entre em contato lentamente com a nova realidade. O ritual do velório, do enterro ou da cremação, que simboliza a passagem, é importante para materializar a despedida e auxiliar nas fases do luto. No entanto, em muitos casos em meio a pandemia, os rituais não puderam ser realizados como de praxe ou sequer aconteceram, fazendo com que a situação do luto se tornasse ainda mais penosa. Ainda encontramos situações em que as perdas em um determinado círculo social foram inúmeras, instaurando um sentimento de impotência e impondo uma nova dinâmica social, sem vários participantes, tornando o clima local mais árduo – analisa a psicóloga.
Algumas ações simbólicas podem ajudar no processo de luto nesse contexto, conforme a especialista, mas ela adverte que não há uma receita ou fórmula única, e sim possibilidades.
O que fazer:
:: Adaptar um rito de passagem, na impossibilidade de realizar um rito tradicional, como o velório em salas e capelas, pode ser benéfico e auxiliar no processo.
:: Reserve um momento para fazer um rito adaptado, seja com pertences do ente, fotos e de forma a reunir conhecidos do mesmo de forma virtual.
:: Cerque-se, mesmo que de forma digital, por intermédio de vídeochamadas ou ligações, daqueles que o trazem conforto. Os meios eletrônicos podem ser grandes aliados neste momento, nos aproximando de forma segura.
:: Procure grupos de apoio. Há diversos grupos e redes online que se formaram com o intuito de prestar apoio a quem sofreu uma perda em decorrência da pandemia.
:: Seja empático com você e com quem está passando por perdas. Passar por uma perda em meio a atual situação, não é nada fácil. Não se cobre tanto, permita-se sentir.
:: Por fim, destaca-se ainda que se o sofrimento perturba significativamente o seu dia a dia é essencial buscar ajuda profissional.
*Fonte: Camila Pelizzer, psicóloga
É preciso interagir com segurança e sem preconceito
Muitos moradores de comunidades de Caxias vivem há décadas no mesmo endereço, convivem com as mesmas pessoas diariamente, criam laços de vizinhança e de amizade. Por isso, ao saber que um vizinho contraiu o coronavírus, é natural que as pessoas queiram notícias e desejem saber sobre o estado de saúde do doente e, quando ocorre uma morte, queiram confortar os familiares. Especialistas na área de infectologia dizem que é possível fazer tudo isso. Mas, diante do cenário de pandemia, é preciso tomar alguns cuidados para que seja de forma segura, sem risco de se expor ao vírus e de ampliar o contágio.
– Alguns casos de covid-19 entre moradores de uma mesma rua ou bairro estão sendo observados. É importante reforçar que o isolamento durante a infecção deve ser respeitado para que outras pessoas não contraiam o vírus também. As conversas (presenciais) entre amigos e vizinhos devem ser adiadas para um momento no qual a infecção já estiver resolvida e, mesmo assim, deve-se continuar mantendo o afastamento entre as pessoas de pelo menos 1m50cm e usando máscara – alerta a infectologista Viviane Buffon.
É importante lembrar que, mesmo com as duas doses da vacina, uma pessoa ainda pode se infectar. Cada organismo tem uma resposta ao estímulo vacinal e nem todos conseguem ter anticorpos em níveis suficientes e por período prolongado. Por isso, é preciso buscar alternativas seguras para manter o convívio social.
A infectologista Lessandra Michelin reitera a recomendação de ficar em casa e usar máscara e observa a importância de não agir com preconceito e discriminação em relação às pessoas que estiverem doentes.
Como agir:
:: A pessoa com covid-19 deve permanecer isolada em casa, preferencialmente em um quarto separado, com uso de máscara quando estiver próxima a outras pessoas que convivam na mesma casa.
:: Ela não deve fazer as refeições com outras pessoas e deve usar, dentro do possível, utensílios descartáveis.
:: Durante o período de isolamento, o paciente não deve sair de casa, fazer caminhadas ou compartilhar objetos com os vizinhos. Não deve ter contato próximo com ninguém durante o período em que se mantiver com sintomas ou em período menor de 10 dias. Esse contato pode ser feito via telefone e ligações pela internet.
:: Se necessitar de medicações ou alimentos, eles devem ser deixados na entrada da casa, em uma sacola, por exemplo.
:: As conversas entre amigos e vizinhos devem ser adiadas para um momento no qual a infecção já estiver resolvida e, mesmo assim, deve-se continuar mantendo o afastamento entre as pessoas de pelo menos 1m50cm e usando máscara.
*Fonte: Viviane Buffon, infectologista