Nove pacientes de covid-19 morreram nos últimos dias na espera por leitos de UTI na Serra . Os números podem ser ainda maiores porque nem todos os hospitais da Serra atenderam à solicitação da reportagem sobre mortes na fila do tratamento intensivo.
Os casos mais recentes foram registrados na quarta-feira (10) em Veranópolis. Dois idosos, um homem e uma mulher, ambos com 88 anos, morreram no Hospital São Peregrino Lazziozi enquanto aguardavam pela liberação de leitos de UTI. Outras morte havia sido registrada no dia 04 de março na cidade. Também foram confirmados óbitos de pacientes em Guaporé, Carlos Barbosa, Nova Prata e Nova Petrópolis, cidades que fazem parte da região de abrangência da 5ª Coordenadoria de Saúde (CRS). Em Serafina Corrêa, que integra a 6ª CRS, também foi registrada uma morte por falta de leito.
A lotação dos hospitais da Serra chegou a 112% de ocupação nos leitos de UTI, de acordo com os dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES) atualizados na manhã desta quinta-feira (11). São 102% de leitos do SUS e 125% privados. Desses, 84% dos pacientes internados estão com coronavírus. Com o constante aumento de casos de covid-19, cresce a ocupação ao mesmo tempo em que há também procura por leitos clínicos para tratar demais doenças.
A titular da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Claúdia Daniel, diz que há 50 pacientes infectados com coronavírus à espera de leitos de UTI na Serra. Desses, 25 pacientes são de Caxias do Sul e outros 25 de cidades da região, uma vez que o município é referência para 49 cidades. Ela conta que a cada ligação, a cada busca de leitos e articulação, a equipe se coloca no lugar de cada família e sabe que se um familiar também precisar de leito, enfrentará a mesma angústia. Para ela, não há uma solução imediata, a não ser a colaboração da comunidade para que a curva desça:
— O hospital de campanha não é uma alternativa para este momento. Eu acredito que essa estrutura serviria muito mais para os pacientes clínicos, mas não se aplicaria para UTI, que é onde ocorrem os atendimento complexos. Aqueles pacientes clínicos conseguimos atender porque os municípios têm a retaguarda necessária para os procedimentos. A nossa preocupação são os leitos de UTI.
Cláudia esclarece que não basta abrir leitos.
— Não há equipe. Estamos chamando profissionais para trabalhar e precisamos de colaboração coletiva porque não há estrutura hospitalar. Hoje, já enfrentamos falta de medicamentos, materiais e equipamentos. Graças a Deus temos uma rede robusta de fornecedores de oxigênio para repor, mas a situação está cada vez mais complicada.
A coordenadora ressalta ainda que a maior ocupação de leitos são de pessoas de 30 a 50 anos. Ela afirma que, com base nas projeções, a situação tende a piorar.
— Já extrapolamos todos os dados. Pelos nossos cálculos e comparando com as demais ondas, percebemos que a curva está longe de descer. Nós estamos fechando um mês no dia 15 de março, em que as ocupações de leitos estão em torno de 100%, e a curva segue crescendo. Nos preocupa pensar que estamos no verão, imagina se estivéssemos no inverno quando aumenta ainda mais as complicações por outras doenças e os pacientes precisam dos hospitais.
Cláudia finaliza:
— Não há um culpado, todos nós somos responsáveis e temos que ajudar na coletividade. Gera impotência a cada caso de falta de leito, a cada óbito, não por omissão. Não estamos sendo omissos, mas não há mais recursos para lutar contra o números de casos. Só vemos a curva subir. É o momento de criar uma consciência coletiva para driblar a curva, é a hora de olhar para a casa do outro, ver o próximo, ou o problema não irá se reverter. Se fala tanto em empatia, mas o que menos vemos é alguém se colocar no lugar do outro. Temos famílias inteiras internadas à espera de leito de UTI.
Situação em hospitais da região
Antônio Prado
O Hospital São José não registrou mortes por falta de leito de UTI.
Bento Gonçalves
No Hospital Tacchini também não há registro de mortes por falta de leito de UTI até o momento.
Bom Jesus
No hospital de Bom Jesus não há registro de mortes por falta de leito de UTI.
Bom Princípio
No hospital São Pedro Canísio também não foram registradas mortes de paciente em função da falta de leitos. Contudo, há uma paciente entubada há dez dias à espera de uma vaga na UTI.
Canela
No hospital de Canela, a capacidade de internação foi superada, porém, não há registro de óbitos por falta de leitos.
Carlos Barbosa
No Hospital São Roque, em Carlos Barbosa, uma idosa de 65 anos morreu no dia 4 de março. Ela estava internada na instituição desde o dia 27 de fevereiro. A idosa foi transferida em 28 de fevereiro para um dos três leitos de atendimento crítico, que foram criados para estabilizar pacientes com quadros graves até que haja condições de encaminhá-los a um leito regular de UTI. Isso porque a cidade não conta com serviço de tratamento intensivo. Ela foi cadastrada na Central de Regulação de leitos do Estado também no dia 28. No dia 4, houve liberação de uma vaga no Tacchini, em Bento Gonçalves, mas a paciente morreu antes da transferência.
CAXIAS DO SUL
: Hospital Pompéia
O Pompéia está no limite da ocupação de leitos de UTI. Atualmente, há três pacientes dentro do hospital aguardando leito de UTI.
: Hospital da Unimed
A UTI está com 100% de ocupação. Até o momento, não há registro de óbitos devido à falta de leitos.
: Hospital Geral
Até o momento, não há registro de morte devido à falta de leitos.
: Hospital Virvi Ramos
Sem registro de óbitos de pacientes na fila de espera.
FARROUPILHA
No Hospital São Carlos também não há registro de mortes por falta de leite de UTI.
FLORES DA CUNHA
O Hospital Nossa Senhora de Fátima não registrou mortes por falta de leite de UTI.
GARIBALDI
O hospital São Pedro em Garibaldi está com 140% de lotação na UTI, mas até o momento não há mortes por falta de leitos na instituição.
GUAPORÉ
No Hospital Manoel Francisco Guerreiro, em Guaporé, foram registradas duas mortes de pacientes à espera de leito de UTI. Há quatro pacientes em ventilação mecânica aguardando leito, sendo que um deles espera desde o dia 2 de março.
NOVA BASSANO
O Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Nova Bassano, não registrou mortes devido à falta de leitos. Atualmente, há dois pacientes aguardando liberação de vaga na UTI.
NOVA PETRÓPOLIS
No hospital de Nova Petrópolis, um idoso de 76 anos morreu em 28 de fevereiro à espera da liberação de um leito de UTI pela Central de Regulação do Estado.
Nova Prata
No hospital São João Batista, uma idosa de 73 anos, moradora de São Jorge, morreu no dia 25 de fevereiro após aguardar por quatro dias a liberação de uma vaga de leito de UTI. No momento, sete pacientes estão em ventilação mecânica aguardando leito na instituição. Também há 25 pacientes na ala covid-19 com uso de oxigênio.
VERANÓPOLIS
No São Peregrino Lazziozi, três pacientes morreram à espera de leito de UTI. Os casos mais recentes foram registrados na quarta-feira (10). Dois idosos, um homem e uma mulher, ambos com 88 anos, morreram no hospital. No dia 4 de março, uma paciente de 65 anos morreu à espera de leito.
SERAFINA CORRÊA
A cidade não conta com UTI e fez um esforço para dar um suporte maior a uma idosa de 71 anos enquanto ela aguardava a liberação de leito em outro município. Contudo, a mulher morreu no dia 2 de março, antes de conseguir a transferência.