A serviço, no dia 19, Volmir Gomes, 52 anos, adentrou em um beco da Avenida Oliveiros Marcelino Teixeira, no bairro Mariani, em Caxias. Ele é agente da Defesa Civil e visitou o lugar para saber da situação de famílias que tinham perdido suas casas em um incêndio, dias antes. Mas enquanto caminhava no chão de terra batida que se confundia com as cinzas deixadas pelo fogo, foi abordado por uma voz infantil: "tio, posso fazer uma selfie no meu celular de barro?". O pedido veio de Ana Clara Cardoso da Silva, sete anos, que criou um aparelho a partir de uma capinha velha, um pedaço de madeira, terra e água.
— Quando cheguei, ela estava brincando no barro e me chamou. Aquilo me comoveu — conta o agente, que também atua junto à Fundação de Assistência Social (FAS) na entrega de cestas básicas em Caxias.
Volmir parou, posou ao lado da menina para uma "selfie de verdade", registrada com seu próprio celular, e foi embora. Mas o pedido inocente de Ana Clara ficou em sua memória.
— Decidi postar no Facebook perguntando se alguém teria um celular de verdade para doar a ela — relata.
Dejair Vitorino, um amigo do agente da Defesa Civil, se solidarizou com o caso e comprou um celular novo para Ana Clara. Quando voltou no beco em que a menina mora, Volmir fez a entrega do presente especial (veja vídeo abaixo).
— Foi muita alegria, ela não sabia se chorava ou se ria. Foi muito emocionante — lembra Volmir.
Sonho de presente de aniversário
Na manhã desta terça (30), a equipe do Pioneiro visitou Ana Clara sem avisar. A guria abriu a porta de casa já agarrada ao aparelho que ganhou dias antes.
— Não desgruda dele o dia inteiro — contou a avó Claudia Beatriz dos Santos, com quem Ana Clara divide um pequeno quarto numa casa de três cômodos.
A mãe da menina, Ana Paula dos Santos Cardoso, 25 anos, conta que a filha sempre pedia por um celular, aliás, era esse o presente que ela mais sonhava ganhar de aniversário, comemorado no dia 13 de abril.
— Ela quer um monte de coisas, sabe como é criança, mas eu não tenho condições. Algumas semanas atrás tive até que vender meu próprio celular para poder comprar comida — lamenta a mãe.
A família vive numa pequena casa de madeira que fica no mesmo beco onde ocorreu o incêndio. A moradia delas, no entanto, não foi atingida. Enquanto a mãe e a avó passam o dia fazendo pulseiras de relógio, trabalho que é a principal fonte de renda da família, Ana Clara se distrai em seu mundo infantil olhando vídeos ou brincando com filtros de bichinhos em aplicativos do celular.
— Gosto do YouTube e do TikTok — conta a guria.
Ao lembrar do antigo brinquedo de barro, a menina descreve:
— Eu queria muito fingir que era meu celular de verdade.
Agora ela não precisa mais imaginar. Pelo menos não quando o assunto é o celular. A criatividade inventiva da menina, no entanto, segue muito presente. Ela diz que adora brincar fingindo que é professora ou médica, profissões que sonha em seguir na vida adulta. O aparelho tem ajudado a alcançar esse objetivo, já que a garotinha o utiliza também para acompanhar as aulas online da Escola Municipal de Ensino Fundamental Paulo Freire, onde cursa o segundo ano.
Agora, a selfie de verdade
Antes de partir para a próxima brincadeira no celular, Ana Clara aproveita a visita do amigo Volmir para fazer outra selfie, desta vez com seu celular de verdade. Veja o resultado abaixo:
