Estudantes de graduação que realizam matrícula para as disciplinas que irão cursar em 2021 no Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), de Caxias do Sul, foram surpreendidos nesta semana. Os valores contratados aparecem com um reajuste de 11,5% nas mensalidades. A prática é habitual a cada fim de ano mas, desta vez, carrega questionamentos. Já no primeiro semestre, alunos contrários ao valor das parcelas por conta das aulas funcionarem à distância solicitaram uma reunião com a reitoria. Sem respostas, encaminharam uma carta registrada pelos Correios e, então, receberam a confirmação de recebimento por parte da instituição educacional. Ainda assim, não houve retorno.
Segundo a estudante de psicologia, Sabrina Cerchiari, o desemprego virou realidade para muitos alunos, além de que outros tiveram jornada e salário reduzidos. No início da pandemia, alunos acionaram a União Estadual dos Estudantes (UEE) com o objetivo de dialogar sobre a possibilidade de redução das mensalidades.
— Nos causa surpresa e agrava a situação, que já está bem difícil. Neste ano nós pagamos os mesmos valores de aulas presenciais para ter encontros remotos em uma plataforma bem precária e que no primeiro semestre simplesmente não funcionava. No segundo, houve uma melhora mas nunca é a mesma coisa que a presencial. Temos até que desligar as câmeras porque o sistema cai — conta.
Um processo judicial estava para ser iniciado contra a instituição, mas foi suspenso em virtude de que o advogado responsável concorreu nas últimas eleições.
— O grande problema é que não conseguimos conversar. Entramos com protocolos online e recebemos respostas genéricas. Na última, houve a justificativa de que havia o aumento por conta da inadimplência. Esse é um problema que todas as instituições e empresas estão enfrentando, mas no nosso caso tem que ser cobrado um reajuste de quem é adimplente? Pelo telefone, é um sistema eletrônico que atende e também não conseguimos contato— afirma.
O vice-presidente da UEE na Serra, Eduardo Neves, acompanha o caso dos alunos e entende que a saída será acionar o Ministério Público.
— Já encaminhamos pedidos para reuniões em ofícios, mas não agendaram nada até o momento. Estamos em contato com advogado para formalizar um processo no Ministério Público sobre a redução de mensalidade e agora, também, por conta do reajuste — diz.
Contatado pela reportagem, o Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), respondeu que o ano foi de investimentos em tecnologia e capacitação de docentes e que, além disso há inadimplência e evasão. A FSG informa que oferece parcelamento das mensalidades. Não houve manifestação sobre a possibilidade de ocorrer uma reunião com os representantes do alunos. Confira a nota na íntegra:
"Esse ano teve impacto para todos. Para nós, do Centro Universitário da Serra Gaúcha - FSG, isso também não foi diferente. Investimos em tecnologia, na capacitação de nossos docentes, que aprenderam novas metodologias e ferramentas de ensino/aprendizagem para a continuidade de sua formação, mantivemos o maior número de colaboradores possível para garantir o funcionamento da operação com qualidade, implantamos novos processos, como atendimento via chat, matrícula on-line, sempre dentro das restrições que o cenário nos impôs e respeitando a legislação vigente. Mas, apesar dos esforços para oferecer alternativas de pagamento e negociação de dívida, houve um aumento na inadimplência e evasão. Esses fatores, somados à variação de custos e despesas de custeio (materiais de insumo, conservação e manutenção de infraestrutura, alugueis, despesas com terceiros, serviços públicos, entre outros), impostos, tarifas e/ou contribuições sociais resultou no reajuste de 11,5% sobre o valor anual dos cursos, mas dentro dos limites legais da Lei nº 9.870/1999 que regulariza o reajuste anual das mensalidades. Temos ciência da situação delicada vivida por muitos dos alunos e, por isso, estamos desde já oferecendo parcelamento das mensalidades com a rematrícula de 2021. "
Outras duas faculdades de Caxias do Sul foram contatadas e a informação é de que não haverá reajuste nos valores de 2021 em função do cenário econômico ocasionado pela pandemia.