Um procedimento cardíaco inovador ao Sistema Único de Saúde (SUS) na região foi realizado no Hospital Geral (HG), em Caxias do Sul. Na sexta-feira, dia 30, foi feito o implante percutâneo de válvula aórtica cardíaca biológica por cateter, cuja sigla TAVI, em inglês, corresponde a Transcatheter Aortic Valve Implantation. O procedimento, realizado pela primeira vez por meio do SUS na cidade, é indicado para pacientes que apresentam estreitamento da válvula do vaso sanguíneo principal que sai do coração: a aorta.
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A válvula é geralmente implantada através de punção na virilha do paciente, dispensando a necessidade de cortes profundos, anestesia geral e da circulação extracorpórea. Assim, é menos invasivo, oferece menor risco e favorece a recuperação.
O tratamento já está disponível na região há pelo menos seis anos, mas ainda não possui reconhecimento da Agência Nacional de Saúde, sendo assim, por lei, fica desobrigada a cobertura pelos planos de saúde e pelo SUS. O único convênio que autoriza o procedimento na região nordeste do Rio Grande do Sul é a Unimed.
O cardiologista intervencionista do Serviço de Cardiologia do HG, Ramiro Caldas Degrazia, foi quem realizou o procedimento pela primeira vez por meio do SUS em Caxias do Sul. A operação foi possível com o consentimento da Secretaria Municipal da Saúde, gestão do hospital e com a doação dos materiais da Medtronic Brasil, uma das maiores empresas de produtos da área médica do mundo, e da Lifecor Comércio de Produtos Hospitalares, localizada em Porto Alegre.
— Conversando com duas grandes multinacionais da área médica em produtos, conseguimos disponibilizar material para que pudéssemos implantar TAVI no SUS através de uma delas. A opção legal que existe hoje para o tratamento deste tipo de patologia valvar no SUS é única: cirurgia. Então, a equipe cirúrgica, muitas vezes, se vê angustiada em ter de operar pacientes de alto risco, ciente que haveria outra forma de tratamento, com menor risco, mas que o sistema não disponibiliza. Com argumentos convincentes a certos setores dessa empresa, fomos beneficiados com a doação de quatro próteses. Parece pouco, mas para nós é muito. E continuaremos nos esforçando para que este projeto continue e que aqui permaneça — afirma Degrazia.
A primeira paciente submetida ao procedimento foi considerada de alto risco para a cirurgia, por isso, optou-se por cateter. Segundo o cardiologista, ela precisou permanecer internada após o implante para compensação de sua insuficiência cardíaca e, provavelmente, receberá alta hospitalar neste final de semana. Avaliando a importância desse avanço, o médico destaca que se trata de um perfil de paciente que possivelmente não toleraria a cirurgia de troca valvar da mesma forma que o implante percutâneo.
— Até onde sabemos, trata-se do primeiro implante do Rio Grande do Sul realizado com a anuência da instituição e da Secretaria Municipal de Saúde. Em geral, muitos dos implantes que aconteceram no SUS, se deram por judicialização, através de liminares. Esta não é a forma apropriada de se trabalhar, assim só se gera conflitos, desgastes e pressão aos envolvidos.
Evolução na medicina
O cardiologista, um dos médicos que busca trazer procedimentos inovadores para a região, afirma que os custos do procedimento eram mais elevados no começo.
— Felizmente, o trabalho que vínhamos organizando desde 2013, nos possibilitou o primeiro implante em 2014, com o aval da operadora de saúde Unimed. E assim, foi dado o passo inicial que possibilitou avançar com este programa. Hoje, na Unimed, as solicitações de TAVI são avaliadas por uma câmara técnica de cardiologistas da própria cooperativa.
No início da década, estas próteses implantáveis por cateter eram uma opção àqueles pacientes que não apresentavam condição de tolerar a cirurgia cardíaca convencional. Desse modo, eram voltadas para os pacientes de muito alto risco ou inoperáveis por algum fator de contraindicação.
Com a melhoria dos materiais, maior experiência com a técnica e menores custos, hoje as próteses já são utilizadas em pacientes de risco cirúrgico considerado moderado. Além disso, o cardiologista adianta que novos ensaios clínicos estão ocorrendo para pacientes de baixo risco, o que é inevitável, pois este é o futuro de uma tecnologia que veio para ficar, segundo ele.
Realidade da região
Conforme o médico, como os materiais são importados, os custos ainda são relativamente altos na região.
— Aqui, nós continuamos a indicar o procedimento especialmente para a população de maior risco ou para aqueles com contraindicação para cirurgia. Estamos avançando nas indicações, mas de forma consciente, com os pés no chão, adequando-se à nossa realidade. A evolução também se deu na forma de operar, o que é excelente, mas são poucos os cirurgiões que buscam sair da sua zona de conforto e modificar sua forma de atuar.
Na região, existe uma união entre duas especialidades, que em muitos lugares do planeta são consideradas “rivais”, o que beneficia a adoção de novas técnicas.
— As especialidades são a cardiologia intervencionista (Degrazia e o colega Marcelo Sabedotti) e a cirurgia cardíaca (os também colegas Rodrigo Brasil e Guilherme Winter). Para nós, o importante é o resultado entregue, fruto do esforço conjunto, não importando quem fez ou faz. O que nos interessa é ter oferecido o que havia de melhor ao paciente, seja o tratamento clínico, percutâneo, cirúrgico ou misto, que chamamos de híbrido.
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