Em busca de uma maneira de se aproximarem dos pacientes que estão isolados nos leitos tratando o coronavírus, levando um pouco mais de conforto e transmitindo segurança e empatia, os profissionais de saúde que trabalham na linha de frente no combate ao vírus no Hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, agora usam crachás com fotos ampliadas... e sorrindo. O acessório ainda mostra os nomes e as funções de 150 profissionais que atuam na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e na unidade de internação com pacientes em isolamento.
A iniciativa, para diminuir a distância criada pelos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) de uso obrigatório, surgiu em abril nos Estados Unidos e está se espalhando para hospitais de todo o mundo. Em Bento é realizada desde a semana passada.
— Poder enxergar o rosto e a fisionomia de quem está atendendo gera uma sensação de segurança que acabou se perdendo durante a pandemia. Precisamos lembrar que pacientes da covid-19 ficam isolados em uma unidade de internação ou entram desacordados em um leito de UTI, recobrando a consciência em um ambiente estranho a eles. Receber os sorrisos que certamente já estão embaixo das máscaras melhora a experiência de quem está internado e também de quem está realizando o atendimento. Os crachás mostram que, mesmo cobertos de equipamentos, os profissionais da saúde ainda são pessoas cuidando de pessoas — avalia a Nicole Golin, coordenadora do grupo de Experiência do Paciente do Hospital Tacchini.
A iniciativa foi implementada graças a uma parceria com a ONG ImageMagica, que possui sede em São Paulo (SP). Ela doou os crachás para toda a equipe do Tacchini. Fundada em 1995 pelo fotógrafo e empreendedor social André François, a ONG utiliza a fotografia como ferramenta para promover o desenvolvimento humano e a transformação social, percorrendo o Brasil e o exterior com projetos educacionais e documentais, realizados sobretudo nas áreas da saúde e da educação.
Uma das idealizadoras do projeto, Danusia Capoani, que faz parte do grupo de humanização do Hospital Tacchini, ressalta a importância da conexão entre o profissional e o paciente.
—Durante a pandemia, percebemos a dificuldade dos pacientes em reconhecer por quais profissionais estavam sendo cuidados, já que estavam cobertos por todos equipamentos de proteção. Por outro lado, também notamos a necessidade dos profissionais de saúde em se conectarem com os pacientes. Sabemos que por trás de todos os equipamentos há um sorriso, uma história e uma identidade, e com os crachás humanizados buscamos revelar isso. Temos certeza de que qualquer situação fica melhor quando oferecemos a ela um novo olhar — descreve.
O sentimento também é compartilhado com os colaboradores que receberam o crachá. Para a fisioterapeuta Renata Monteiro Weigert, criar novos formatos de comunicação é muito positivo tanto para pacientes quanto para os profissionais.
— Durante a pandemia, nós, profissionais da saúde, apenas conseguimos nos expressar com os olhos e com o tom da voz. Ficamos felizes em saber que, de alguma forma, os pacientes vão ver nosso sorriso e que com ele podemos aliviar algumas das angústias e medos que muitas vezes eles demonstram durante a internação. Saber que eles podem nos conhecer melhor de alguma forma faz com que os sentimentos de empatia e humanização sejam completos — finaliza.