A infecção por coronavírus é uma preocupação constante desde que os primeiros casos começaram a ser confirmados na Serra. Para quem trabalha na linha de frente do combate à pandemia, como os profissionais de saúde, a atenção aos cuidados necessários para evitar o contágio é ainda maior.
Ainda que o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) seja implementado por todas as instituições de saúde, este grupo de trabalhadores, assim como qualquer pessoa do mundo, não está imune. Um levantamento realizado pela reportagem ao longo da última semana de junho constatou que, somente entre os municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha, pelo menos 120 profissionais que atuam em diferentes setores das secretarias de Saúde, bem como dos principais hospitais, encontram-se afastados.
Os motivos variam entre casos confirmados, suspeitos, casos de isolamento e até mesmo por se tratarem de pessoas que integram o grupo de risco. Mas o fato é que todos ocorrem em virtude da pandemia, exigindo medidas como o remanejamento de equipes, bem como a contratação e nomeação de novos profissionais, em um momento delicado para toda a rede de atendimento em saúde. A situação é monitorada com atenção por gestores e profissionais que precisam atuar pela manutenção do serviço — que é essencial — mesmo diante dos riscos.
— O trabalhador da saúde lida com o infectado por coronavírus. Não temos como mudar isso, então a gente faz a prevenção, afastando quem é de grupo de risco, alternando atendimentos e insistindo sempre no uso obrigatório de máscaras, isso tudo faz parte do planejamento — afirma o secretário da Saúde de Caxias do Sul, Jorge Olavo Hahn Castro.
Ainda de acordo com o secretário, todos os trabalhadores são instruídos a, sob o menor sinal de alteração do seu estado de saúde, comunicarem a chefia para que sejam tomadas as providências de averiguação e até mesmo de afastamento.
Afastados em abril e agora
Conforme levantamento realizado entre os dias 23 e 26 de junho, Caxias do Sul tem, pelo menos, 66 profissionais da saúde afastados por conta da pandemia, sendo 21 deles casos confirmados de covid-19. Outras 33 confirmações de profissionais da saúde foram divulgadas em boletins epidemiológicos do município após o levantamento. A reportagem considerou para o cálculo geral apenas os números obtidos anteriormente com a SMS, e também com os hospitais Pompéia, Círculo e Hospital Geral. Juntas, as quatro instituições totalizavam 211 trabalhadores afastados em abril, em levantamento também realizado pelo jornal Pioneiro.
Em Bento Gonçalves, apenas no funcionalismo do município, 36 profissionais estavam afastados no dia 23 de junho. O número é maior que em maio, quando a prefeitura contabilizou 25 afastados, mas é menor em casos confirmados de covid-19, sendo apenas um agora, diante de três registrados no mês anterior.
No levantamento de abril, contando com o quadro do Hospital Tacchini, a cidade tinha 55 profissionais afastados. Desta vez o hospital não repassou os dados, impedindo que um comparativo fiel seja estabelecido. Segundo a assessoria do Tacchini, o setor de Recursos Humanos não poderia repassar os números uma vez que a equipe encontra-se voltada para contratações necessárias para atendimento junto aos novos leitos da UTI.
Entre a Secretaria Municipal de Saúde e o Hospital São Carlos, Farroupilha totaliza 18 profissionais afastados, sendo apenas um, da Assistência Básica de Saúde, confirmado para covid-19. Os demais estão isolados por suspeita (cinco) ou por integrarem o grupo de risco (12). No levantamento anterior realizado pela reportagem, não haviam informações a respeito do quadro da prefeitura, sendo que no hospital oito funcionários encontravam-se afastados, o número baixou para cinco; nenhum deles confirmados para covid-19.
Afastamentos diminuem, mas preocupação é permanente
Diante do total de 234 profissionais afastados em abril, conforme levantamento que considerou Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha, parecem poucos os 120 que agora estão fora de seus postos de trabalho em virtude do coronavírus. Para quem trabalha diariamente em contato com pacientes infectados e ainda lida com o afastamento de colegas, o impacto, certamente, é maior.
Na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Mariani, os atendimentos crescerasm conforme o aumento da procura por pacientes, sejam eles de covid-19 ou não. O modelo adaptado ao agendamento telefônico, para evitar aglomerações, foi uma das medidas adotadas para preservar a saúde dos pacientes e dos trabalhadores que atendem a este público.
No momento, dois profissionais encontram-se afastados na unidade, ambos em isolamento por terem contato domiciliar com pessoas que tiveram infecção confirmada.
— Esses afastamentos impactam muito, sentimos bastante isso, pois é um profissional que está atuando na linha de frente, isso prejudica não apenas a equipe, mas também a população — afirma a médica Letícia Baungarten Rodrigues, 28, que atua como clínica geral na unidade.
Além do uso de EPI, o revezamento no atendimento a pacientes com sintomas de covid-19 vem sendo uma das estratégias adoradas para preservar os profissionais. Ainda assim, todos os dias, cerca de 20 pacientes passam pelo atendimento de Letícia. Dia sim, dia não, 10% deste total é composto por pacientes que são considerados suspeitos, por apresentarem sintomas como síndrome gripal, tosse, febre, dor de garganta, entre outros.
Para ela, o maior desafio que vem sendo enfrentado pelos profissionais da saúde é a incerteza, que começa pela falta de testes para aplicação em pacientes e equipes de saúde, passando pela inexistência de uma vacina ou tratamento comprovado contra a doença, e culmina na insegurança de voltar para casa após o expediente, todos os dias.
— Moro com os meus pais, querendo ou não estou me expondo, apesar de ter todos os cuidados, medidas de higiene, fica uma insegurança porque a gente não sabe se é portador assintomático. Meus pais não são idosos e nem tem comorbidades e minha mãe também trabalha na área da saúde. Ainda assim, por diversas vezes já pensei em me afastar — relata a profissional.