A tradicional celebração de Corpus Christi, em Flores da Cunha, ocorre sem a presença massiva de turistas que costumam se deslocar à cidade da Serra para ver os belos tapetes de serragem montados por uma comunidade unida em torno de proporcionar uma experiência que chama a atenção no Brasil inteiro. Na manhã desta quinta-feira (11), as ruas do centro da cidade estavam vazias, como normalmente ocorre nos feriados. A maioria dos que se deslocavam se dirigia à Igreja Nossa Senhora de Lourdes para acompanhar as missas. Mas até o templo sofreu restrições de público. Ainda assim, o sentimento é de que a comunidade está ainda mais próxima neste momento em que a pandemia de coronavírus altera um cenário comum de aglomeração para ver de perto o que a religiosidade enraizada em um povo é capaz de produzir para agradar os olhos e proporcionar um momento de devoção.
Dentro da igreja, com capacidade para 400 pessoas, foi autorizada a entrada de cerca de 100, incluindo os freis e as equipes de leigos que dão suporte às celebrações. Ao entrar, os fiéis têm de usar álcool gel. No piso, cartazes orientam, além da higienização das mãos, que se mantenha a distância de dois metros entre membros de famílias diferentes e o uso de máscara. Os bancos estão marcados com o desenho de um X em fita crepe para indicar a distância necessária entre uma pessoa e outra. No momento da Eucaristia, quem estava no lado esquerdo da igreja teve direito a comungar primeiro e só depois houve a liberação para quem estava no lado oposto, com a recomendação de se manter o distanciamento conforme sinalizado no chão.
Após a missa, ocorreu uma carreata por ruas centrais de Flores da Cunha, com parada para bênção no Hospital Nossa Senhora de Fátima, na escola São José e na prefeitura municipal. A igreja também recebe ao longo do dia doação de alimentos, materiais de higiene e limpeza que serão destinados a famílias em situação de vulnerabilidade social. O pároco, frei Edson Cecchin, salienta que a decisão de fazer um tapete com alimentos doados em frente ao altar foi a forma encontrada para demonstrar que o amor ao próximo está presente, ainda mais em um momento de tantos desafios para a saúde:
— O povo aqui de Flores da Cunha está muito unido, reza unido, celebra unido, acompanha as celebrações religiosas de casa. Eu vejo que isso é importante. O próprio gesto do grande número de doações que estamos recebendo, de alimentos, material de higiene e limpeza, já expressa o quanto esse povo tem uma religiosidade forte no sentido de dar um pouquinho de si para que as outras pessoas que mais precisam ter uma vida melhor.
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Em condições normais, a preparação dos tapetes de serragem, que atraem turistas de diversos locais do país, começa dias antes do Corpus Christi, com o envolvimento da comunidade para garantir uma experiência religiosa e visual aos visitantes. Há 15 anos, o matrizeiro Alex Prigol, 43 anos, presta serviços voluntários à paróquia. Desta vez, a avaliação dele é que a mudança imposta pela pandemia trouxe um senso comunitário ainda mais forte:
— Muitas vezes, a gente fazia o Corpus Christi mais, vamos colocar assim, pelo turismo. Mas, neste ano, com esta pandemia, a gente tem percebido esse amor, essa dedicação e esse comprometimento que as famílias aqui de Flores da Cunha têm se unido e feito aqui para que a nossa paróquia possa ter esse momento difícil, mas que a gente possa passar por ele com muita fé, muito amor, muita ajuda um para com o outro.
Mesmo integrando o grupo de risco para a covid-19, os agricultores Inês Pradella e Luiz Pradella, ambos de 70 anos, que residem no interior de Flores da Cunha, decidiram manter o hábito de frequentar a missa do dia em que se celebra o sacramento da eucaristia.
— Com esses vírus, o pessoal vem menos, porque tem de ficar em casa. A gente participa porque a gente é acostumado a vir todos os anos. Viemos de manhã e à tarde vêm os outros (integrantes da família) — conta.
Apesar da redução no número de turistas, eles não estavam totalmente ausentes. Um grupo de cinco sobrinhos do Frei Salvador Pinzetta, que é dá nome a um eremitério de Flores da Cunha, saiu de Casca para acompanhar as celebrações na Terra do Galo nesta quinta. Entre eles, estava a auxiliar de enfermagem Clara Pinzetta Gayeski, 65. Ela acompanhou parte da missa das 9h do lado de fora da igreja, porque chegou durante a celebração e o limite de 25% de ocupação já tinha se esgotado:
— Tem muita diferença. Eu vim o ano passado, estava uma maravilha. Só que agora com a pandemia, né?! A gente tem de aceitar.
Nesta quinta, ainda haverá às 14h, 16h e 18h, com transmissão pelas páginas do Facebook da paróquia, da prefeitura (floresdacunha.rs.gov.br) e do turismo (turismoflores.com.br).