A telemedicina se tornou um aliado no combate a pandemia do novo coronavírus. Em Caxias do Sul, a comunidade passa a contar a partir desta segunda-feira (13) com profissionais do Centro de Saúde Digital da Universidade de Caxias do Sul (UCS) como reforço no atendimento. O espaço foi inaugurado no final de março e está estruturado para prestar serviços de saúde por atendimento remoto. Sem custo para o paciente e realizado de forma voluntária por profissionais da área da saúde da UCS, o teleatendimento será destinado às pessoas que buscam informações sobre a covid-19.
Basta acessar por meio de telefone celular ou do computador o site do Centro de Saúde e preencher um cadastro de identificação. Após o preenchimento, o paciente será encaminhado para uma sala de espera virtual para aguardar o atendimento. O serviço está disponível de segunda a sexta, das 9h às 16h. A estimativa é atender a uma média de 40 a 50 pacientes por dia.
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O atendimento
Para mostrar como funciona o serviço, a reportagem acessou o atendimento por volta de 9h desta segunda-feira. Na página, há a opção como selecionar uma teleconsulta e há dois formulários, um para profissionais de saúde e outro para o público em geral. Ao selecionar a segunda opção, em poucos segundos, a repórter foi direcionada a sala 3, onde conversou com a estudante de Medicina Bruna Federizzi Pizatto. Ela se forma no próximo mês e irá atuar como clínico geral. Com a voz tranquila e disposta a acalmar as angústias de quem entra em contato com o serviço, ela faz perguntas iniciais que vão levar a um diagnóstico que pode indicar suspeita ou não da doença.
Perguntas como:
— Você está se sentindo bem?
— Tem algum sintoma de gripe?
— Quais sintomas?
A cada resposta, seguem mais perguntas e orientações para esclarecer dúvidas. Por exemplo, em caso de sintomas leves de gripe, sem febre e falta de ar, a orientação é ficar em repouso, tomar líquidos e analgésicos que tenha em casa, sem a necessidade de buscar atendimento. O ideal, mesmo em sintomas leves, é manter o isolamento.
Caso a febre esteja alta e exista dificuldade para respirar, a estudante segue com os questionamentos:
— Teve febre? Mediu a temperatura?
— Está com dificuldade para respirar?
— Pode descrever essa falta de ar?
— Consegue falar ou está difícil para concluir as frases?
— Há quanto tempo percebe que está mais difícil respirar?
— Parou de realizar atividades de rotina devido a essa dificuldade respiratória?
— Tem asma? Pressão alta? Diabete? Fuma? Tem outras doenças? Usa drogas?
— Viajou recentemente? Para onde? Teve contato com alguém que possa estar infectado?
— Algum integrante da família está doente?
Falta de ar é um gatilho
Bruna Federizzi Pizatto explica que a falta de ar é um gatilho, uma vez que o vírus inflama o pulmão. Neste caso, o paciente também deve apresentar uma coloração diferente na pele, na face e nos lábios que podem ficar azulados.
— A respiração é um gatilho, por isso, precisamos saber se o paciente tem sentido muita dificuldade para respirar. Vamos perguntar qual é o número de respiração por minuto, porque se for acima de 20 por minuto, sem que esteja em uma atividade física, ela está acelerada e é um sinal de que pode haver problemas - esclarece.
Informações como essas são repassadas a um sistema que por meio de inteligência artificial irá classificar o paciente de uma maneira geral para que a equipe identifique se há suspeita ou não de covid-19. Por meio desses diagnósticos, os profissionais também podem identificar se esse paciente suspeito está estável e indicar a necessidade de isolamento, ou se ele precisa de atendimento médico. Apenas pacientes internados são testados, portanto, nesse caso, o diagnóstico será confirmado como positivo ou negativo.
Sintomas
Ao final do atendimento, há a revisão dos sintomas. A atendente pergunta:
Você tem:
— Tosse seca frequente? Tosse com sangue? Tosse com secreção?
— Temperatura corporal de ou acima de 38.3? Suando? Calafrios?
— Sonolência persistente?
— Confusão mental recente?
— Dor ou pressão no peito?
— Congestão nasal?
— Sente menos ou não sente cheiros?
— Diarreia? Cansaço? Redução de volume da urina? Náusea? Vômito?
— Dor abdominal? Dor muscular generalizada? Dor de garganta? Dor de cabeça? Dor na nuca?
— Falta de apetite?
Caso os sintomas indiquem necessidade de atendimento presencial, o atendente encaminha o paciente para buscar uma consulta e fica com o contato dos familiares para seguir acompanhando o caso.
"Atender olhando no olho do paciente transmite a segurança necessária", afirma médico
O coordenador do Centro de Saúde Digital, o médico e professor Asdrubal Falavigna, que também é diretor da Área do Conhecimento de Ciências da Vida da UCS, ressalta que a telemedicina é uma maneira de combater a pandemia, mantendo o isolamento social.
— É uma maneira de estar dentro da casa do pacientes, sem que eles corram riscos e o profissional também se mantém em segurança. Ao mesmo tempo, o paciente está nos vendo e, ao contrário de ser um atendimento pelo telefone, ao ver o médico, o profissional de saúde, há um nível de segurança e confiança maior e uma troca de informação mais segura para o diagnóstico.
Ele aponta que saber que a falta de ar é um gatilho, e que se estiver com dificuldade para respirar, é um sinal de que é preciso ir para o hospital, pode deixar o paciente ansioso, inseguro e angustiado:
— Essa informação e o estar em casa, a incerteza, o isolamento, a depressão provocada pela ansiedade podem acentuar esse sintoma. Ao falar com essa pessoa, é possível acalmar o paciente e identificar se realmente se trata de um sintoma clínico.
O médico reitera:
— Atender olhando no olho do paciente transmite a segurança necessária a ele e ao diagnóstico. O profissional consegue identificar o quadro clínico de cada um e mensurar o risco e o grau da falta de ar. O fato de olhar no olho, tranquiliza o paciente porque ele sabe a quem recorrer e se sente confiante.
Falavigna explica que o atendimento é profissional para esclarecer dúvidas e também acalmar os pacientes e indicar para profissionais adequados em caso de depressão ou ansiedade:
— É um centro com profissionais formados que vão esclarecer dúvidas, os profissionais vão conversar, ver os pacientes online e a equipe irá discutir os casos e os sintomas com precisão. As perguntas são específicas para cada diagnóstico, por exemplo, se fuma, se é diabética. Porque assim, o profissional tira dúvidas e passa as recomendações importantes levando em consideração cada quadro de saúde, os pontos específicos de cada pessoa e o grau de risco - ressalta.
E finaliza:
— Vamos monitorar os casos mais delicados, que tenham indicação de isolamento, e também os suspeitos. A medida que vamos alimentando o sistema, vamos diagnosticando os casos como suspeitos ou não, e monitor e acompanhar o estado de saúde de cada um. Ao final, o computador vai mapear os pacientes com essas suposições diagnósticas, já que apenas os casos que forem internados serão testados.
O atendimento é extenso, e serve também para esclarecer os cuidados necessários, caso precise sair de casa, esteja trabalhando, more com pacientes de risco, como usar máscaras, a importância do isolamento, a higienização, e demais dúvidas e informações.
SERVIÇO
O Centro de Saúde Digital atua em parceria com a BR HomMed Soluções em Saúde Digital e Telemedicina, em conformidade com os padrões estabelecidos pela Anvisa. A ideia é contribuir para a diminuir a sobrecarga das unidades de saúde, consultórios médicos e instituições hospitalares. Como forma de colaborar para que esses serviços possam ser aperfeiçoados e ampliados, foi lançada uma campanha de incentivo a doações financeiras por meio de depósitos bancários em uma conta da Fundação Universidade de Caxias do Sul no Banco Banrisul , Agência 0824, Conta Corrente 06.200002.0-7.