Com a maioria das lojas de portas abertas e outras se preparando para voltar a atender ao público, a população voltou a sair às ruas em Flores da Cunha nesta segunda-feira (30). A movimentação nesse início de semana ocorre em função do novo decreto do prefeito Lídio Scortegagna (MDB), assinado na última sexta-feira (27). O documento libera praticamente todas as atividades comerciais da cidade e põe fim ao toque de recolher contra o coronavírus. As medidas de fechar as portas haviam sido tomadas para tentar reduzir o contágio. Por enquanto, apenas as escolas seguem fechadas até sexta-feira (3), quando poderão retomar as aulas.
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Nesta manhã, muitos idosos, pessoas do grupo de risco, circulavam pelo Centro, principalmente, em lancherias ou sentados nos bancos da praça, em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes. A funcionária pública Dalvina Ferrarri, 53 anos, andava apressada pelas ruas da cidade. Moradora do distrito de Otávio Rocha, ela afirma que teme pela saúde com a abertura do comércio:
— Essa retomada das atividades, mesmo com restrições, é precipitada. Acredito que se ficasse fechada mais uma semana seria melhor para evitar contágios. Eu fico bem apreensiva com a circulação de pessoas nas ruas.
Já Ana Rosa Bressanelli, 62, reagiu com naturalidade ao retorno das atividades.
— Sou do grupo de risco, mas sou saudável, não tomo remédios. Até o momento não teve nenhum caso confirmado na nossa cidade. Sigo confiante — ressalta ela.
O gerente de uma das lojas do centro de Flores da Cunha, Fabiano Scopel, explica que o estabelecimento segue as regras do decreto, que prevê escala reduzida:
— Percebo que falta conscientização na maioria das pessoas. Se andarmos pelo Centro, vemos muitos idosos que estão se expondo. Mesmo com as portas abertas, os funcionários seguem as medidas de segurança e prevenção. Acredito que cada um de nós tem o dever de se cuidar e cuidar para não disseminar o vírus. O movimento ainda está abaixo do normal.
Pelo novo decreto da prefeitura de Flores, todas as áreas devem respeitar as normativas do Ministério da Saúde. Os veículos de transporte coletivo não podem exceder a capacidade de passageiros sentados; os estabelecimentos comerciais devem definir horários exclusivos para atender ao grupo de risco; as lojas de conveniências de postos de combustível ficarão abertas das 7h às 19h e de segunda a sábado. Ainda determina que as jornadas de trabalho nas empresas sejam feitas de uma forma que reduza o fluxo de pessoas. Por fim, seguem proibidas reuniões e eventos que reúnam mais de 30 pessoas.
Semana de pagamentos provoca filas em agências de São Marcos
Em São Marcos, o decreto que entrou em vigor no sábado liberou o funcionamento do comércio, bares e academias. Na manhã desta segunda-feira (30), a maioria da pessoas manteve o isolamento social e o movimento no Centro era considerado baixo. O período de pagamento, contudo, gerou filas em frente às agências bancárias.
— Atendemos menos da metade do que seria o normal. A população está receosa e muitas empresas ainda estão em férias coletivas. O movimento aumentará com o passar dos dias, mas vai ser uma semana fraca — prevê Leonardo Rizzon, 40 anos, responsável pela Café e Confeitaria Imperial.
O município de 20 mil habitantes não tem nenhum contaminado por coronavírus, mas a proximidade com Caxias do Sul, que tem 11 casos confirmados, ainda preocupa a comunidade, acredita Rizzon:
— A cada dia vemos mais pessoas na ruas, acho que o pessoal está perdendo o medo. Mas tem bastante gente se cuidando, ficando em casa, respeitando as orientações. O pessoal que entra (na confeitaria) parece consciente, o uso de álcool gel aumentou muito. Não tenho medo porque não temos casos (em São Marcos), mas sei que vai piorar quando o frio chegar
Sobre a reabertura do comércio neste tempo de crise, o empresário cita a necessidade de trabalhar.
— Temos as contas e os fornecedores para pagar, né? Hoje está tudo em dia, mas semana que vem tem novas contas e, logo, a folha dos funcionários — afirma.
Carros e pedestres retomam o centro de Vacaria
Em Vacaria, a circulação de pessoas e carros pela área central também aumentou nesta segunda-feira (30), em relação à semana passada. O novo decreto assinado pelo prefeito Amadeu Boeira (PSDB) permite a reabertura do comércio, mas define que a lotação, de qualquer estabelecimento, não poderá exceder 25% da capacidade máxima prevista no alvará de funcionamento ou PPCI. A determinação também vale para igrejas e velórios. Além disso, a higienização dos locais deverá ser feita a cada três horas. As academias seguem fechadas e a rede de ensino segue o estabelecido pelo Estado.
O movimento maior nas ruas neste início de semana, no entanto, pode estar relacionado com a época de pagamentos. Diversas pessoas são vistas em filas na frente das agências bancárias, que permitem a entrada de poucos clientes por vez.
— A cidade estava toda parada, mas hoje é uma segunda-feira com bastante carros nas ruas, estacionamentos ocupados, o comércio reaberto e as pessoas procurando (os serviços). Aumentou bastante a circulação, mas os cuidados continuam. O álcool gel vemos em todos os estabelecimentos — relata o delegado regional Carlos Alberto Defaveri.
— Na semana passada estávamos abertos mais para descargo de consciência, porque tinha pouca gente pelas ruas. Hoje o pessoal está saindo mais, vemos principalmente nos bancos. É início de mês, então os aposentados precisam receber e outros precisam fazer pagamentos. Com as pessoas recebendo e a Páscoa chegando, acho que podemos estar otimistas para esta semana — aponta Cláudio Roberto Paiz, 50 anos, proprietário da lancheria Água na Boca.
Em 30 anos de atendimento na área central de Vacaria, o empresário relata que nunca tinha visto as pessoas tão assustadas:
— Está todo mundo muito cuidadoso, tomando banho de álcool gel. Pessoas que nunca vimos lavando as mãos agora estão com medo. Está todo mundo se adequando à nova rotina e tomara que continue assim, né? Todos deveríamos ter cuidado com a higiene, mas ninguém faz no dia a dia.
Sobre estar aberto neste período de crise, Paiz ressalta a necessidade de pagar aluguel, despesas e boletos programados.
— Os fornecedores não querem saber, querem o pagamento. Isolamos as pessoas de idade da nossa família e os demais continuam trabalhando. Até retomar a economia, não será fácil — afirma.