Rodovias congestionadas, turismo enfraquecido e custos elevados na logística são os principais reflexos do bloqueio da RS-122, em Farroupilha, que completa um mês nesta quarta-feira (4) sem perspectiva de liberação. O longo tempo de interdição é tão surpreendente que as entidades empresariais e prefeituras da região sequer imaginavam que seria necessário fazer uma projeção de prejuízos, pois havia esperança de que o problema seria sanado em breve. Agora, a conta começa a aparecer. A frustração é geral e a prefeitura de Farroupilha entende que apoio do Exército é fundamental auxiliar nos trabalhos de restauração do tráfego.
— Não paramos para calcular os gastos extras porque era um assunto para ser resolvido em duas semanas e não aconteceu — resume Octavino Pivoto, presidente do Sindicato das Empresas de Veículos de Carga de Caxias do Sul (Sivecarga).
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Num efeito cascata, o bloqueio do Km 43 da RS-122 afeta especialmente Farroupilha, que depende da estrada para receber turistas da Região Metropolitana. O resultado é lojas esvaziadas. Na sequência, é Caxias do Sul quem enfrenta grande dificuldade para escoar a produção industrial e o transporte de passageiros. Para chegar até a Capital, depende-se totalmente da perigosa BR-116, via Galópolis e Vila Cristina, e das pistas simples da RS-452, via Feliz. Cidades como Flores da Cunha e Antônio Prado também acabam sendo incluídas na rota do problema.
Segundo estimativa da Polícia Rodoviária Estadual, cerca de 14 mil veículos circulavam todos os dias no trecho bloqueado da RS-122, fluxo que está sendo em parte desviado para as precárias RS-446, em Carlos Barbosa, e VRS-813, entre Farroupilha e Garibaldi. Em Caxias do Sul, o peso é sentido sobretudo na BR-116, que registra um tráfego 15% maior, conforme percepção do chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Caxias, Lucas Martins. Nos horários de pico, a fila é grande e exige paciência e cuidados redobrados na ida ou na volta.
O Sivecarga afirma que o tempo de deslocamento de Caxias do Sul a Porto Alegre, via BR-116, aumentou em torno de 30 minutos. Isso ocorre porque há congestionamento nos horários de pico e muitos caminhões disputam espaço com carros e ônibus. Em marcha lenta na subida ou na descida, os veículos acabam segurando a velocidade e aumentando o tempo de rodagem, encarecendo o frete. Cerca de 60% dos 15 mil caminhões de transportadas usavam a R$-122, via Farroupilha, sem contar os caminhoneiros autônomos.
— Há congestionamento e aumenta o custo do combustível. Não tem como repassar o gasto extra com essa crise. O cliente não aceita, então as empresas estão absorvendo por enquanto — detalha Pivoto.
Nelson Ribeiro, gerente-geral do Expresso Caxiense diz que que a condição atual é de sofrimento. A empresa teve que refazer a rota dos ônibus e utilizar apenas a BR-116. Antes, a rodovia federal recebia três horários de ida a Porto Alegre e três horários de volta a Caxias. Agora, o Expresso agregou outros 25 horários originários da RS-122. É como se fosse 50 ônibus a mais na rodovia federal todos os dias.
— Até Porto Alegre levava duas horas e meia, agora são três horas, dependendo do horário. O gasto de combustível não é relevante, mas a qualidade decai, passamos a ter mais reclamações. O cliente precisa chegar, mas precisamos manter os cuidados na curvas, com o tráfego pesado. Como temos várias opções, ainda não houve necessidade de readequar horários, mas a orientação é que se alguém tem compromisso, que saia num horário antes — diz Ribeiro.
Lojas esvaziadas
É visível o desânimo no comércio que depende de turistas. O Centro de Compras Farroupilha, um dos mais tradicionais da região, calcula queda acentuada nas vendas e no número de visitantes. Na tarde de terça-feira (3), não havia nenhum ônibus no estacionamento às margens da rodovia, um contraste com o fluxo anterior ao bloqueio da RS-122. Aos finais de semana, o centro recebia mais de 20 ônibus, agora a média é de oito e justamente no melhor período para o comércio.
— A gente tem que aproveitar o final do ano, mas muita gente deixou de vir e muito dinheiro deixou de circular aqui no mercado — constata Paulo Scariot, gestor administrativo do Centro de Compras.
A lojista Adriana Settin estima queda de 50% nas vendas. Quando a reportagem esteve no local, os corredores estavam vazios.
— Em dezembro, estaria no pico, foi bem ruim para nós. A gente ouve dizer que os clientes não querem vir. A volta por Carlos Barbosa ou Alto Feliz é muita grande, o pessoal já vem cansando, acaba que deixando e vai para outro lugar.
A loja da Tramontina, que fica no caminho da RS-122, registra uma queda acentuada no faturamento médio. O diretor comercial da empresa em Farroupilha, Darci Friebel, classifica a situação como uma tragédia.
— É trágico porque o nosso principal público são pessoas do Vale do Caí, da grande Porto Alegre. Temos uma rodovia que leva a pontos turísticos. Nosso grande movimento é no final de semana. No primeiro final de semana, não houve impacto até porque os turistas já tinham reservas e agendamento. Mas foi se agravando e já registramos queda de 40% no faturamento sabendo que é uma época favorável — explica o executivo.
Ele diz que a unidade tem 36 funcionários e havia um esquema de folgas durante a semana para que a equipe estivesse completa aos sábados e domingos para dar conta da demanda. No momento, o esvaziamento provoca ociosidade.
— As rochas (no bloqueio) são grandes, mas demorar tanto tempo para desobstruir uma rodovia dessa importância? Deveriam fazer um mutirão — lamenta Friebel.
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