Após andar por cerca de uma hora e meia por ruas centrais de Caxias do Sul, integrantes do Grupo de Jovens Amor em Movimento expressaram o sentimento de indignação com as condições de acessibilidade e mobilidade para deficientes físicos em Caxias do Sul cantando versos da música Dia Especial. "Se alguém já lhe deu a mão e não pediu mais nada em troca, pense bem, pois é um dia especial", diz a composição de Duca Leindecker. Em roda, os estudantes entoavam os versos, chamando a atenção de quem passava pela esquina da ruas Sinimbu e Dr. Montaury por volta de 15h30min da quarta-feira (3). Mas era o que eles tinham percebido na inspeção por quadras da região central que precisava ganhar destaque.
Estudantes do Colégio São José, os jovens se revezavam para conferir a rotina de pessoas com limitações na mobilidade. Enquanto alguns sentavam em uma das 10 cadeiras de roda, outros as empurravam. Quem quisesse também podia experimentar o uso de muletas. O resultado foi profundo: no coração de Caxias, o sentimento de revolta.
— É revoltante porque é uma coisa tão simples como caminhar e saber que as pessoas, por terem uma limitação física, conseguem mal ter um modo de locomover. Eu fiquei bem revoltada, porque é terrível, terrível. A gente olha, mas outra coisa é estar aqui mexendo na cadeira — comenta a estudante Laura Finger, 17 anos.
Além de passar pelas ruas, os estudantes também tentaram acessar estabelecimentos comerciais. Notaram, por exemplo, que o espaço é apertado para um cadeirante em uma fruteira. Um banco, com acesso por uma plataforma de elevação, estava com o equipamento estragado e sem nenhum aviso. Pâmela Tisott dos Santos, 14 anos, estava indignada após experimentar as diferentes possibilidades de andar pelas ruas.
— De cadeirante, tu não consegues entrar nas lojas. Teve uma farmácia, que a gente olhou, tem um degrau bem grande e depois tem outros dois para subir. Então, um cadeirante sozinho não conseguiria subir. De ajudante, tentando subir uma rampa para ir para a calçada, tu não consegues porque tem um buraco cheio de areia e as rodas dianteiras afundam. Daí, precisas da ajuda de mais pessoas. De muleta, é bem difícil porque tu tens de cuidar os buracos no chão para não colocar a muleta em falso — resume.
Também surgiu deste momento outra sensação: a de empatia.
— Foi uma experiência muito gratificante. Tantas vezes que a gente passa e não percebe que o outro pode encontrar uma dificuldade onde para nós é uma coisa tão simples de fazer, como atravessar uma rua — comenta a estudante Júlia Emer, 18 anos.
Missão cumprida para a professora Lorita Menegon de Souza, coordenadora do Grupo de Jovens. Ao propor a ação, ela pretendia fazer com que os estudantes se colocassem no lugar do outro e amplificar a mensagem de que é preciso olhar com mais atenção para a acessibilidade em Caxias do Sul.
— O meu objetivo é conscientizar meus alunos. Que o coração deles crie uma empatia com os outros — conta.
A inspiração para a atividade, que também contou com uma palestra no início da tarde antes da movimentação nas ruas do Centro, foi a história de Maurício Pereira, 12 anos. Vizinha da família, Lorita ouvia a preocupação da mãe dele, Inajara Pereira, sobre a mobilidade. Apesar de morar perto da escola em que estuda, o La Salle Carmo, o menino depende da mãe para a locomoção.
— Eu gostaria de ir sozinho para escola, mas não consigo porque a cadeira vira — relata o menino.
O desejo de Maurício ainda depende de melhorias que demandam investimentos e disposição de uma sociedade pouco atenta às demandas de quem tem limitações físicas. Mas a expectativa é de que a experiência dos estudantes possa ser transformadora.
— Eles (os estudantes) vão ser os profissionais do futuro — comenta Inajara, depositando neles a esperança de uma sociedade mais preparada para atender a todos.
Esperança reforçada pela escolha da música para ser cantada no Centro da segunda maior cidade do Rio Grande do Sul. Como disse, Duca Leindecker: "Sonhei que as pessoas eram boas em um mundo de amor".