O Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida completa 80 anos de fundação hoje com a missão de reinvenção de um dos espaços católicos mais importantes de Caxias do Sul. Desde a metade do ano passado, não são mais acolhidos seminaristas.
Por isso, novos eixos de evangelização norteiam o uso do imponente prédio que fica no bairro Colina Sorriso. A ideia é também transformar o Seminário em um espaço economicamente sustentável. Ao que tudo indica, os primeiros passos dessa nova projeção já mostram o prédio novamente ocupado e repleto de gente querendo se aproximar desse local.
— Completamos um mês de abertura com este novo formato, e já tem bastante datas ocupadas e muita procura. O povo está conhecendo mais o espaço, e enquanto isso, estamos reformando um pouco para adequar às necessidades. Não decidimos pelo formato de uma hora para outra, foi um processo longo de como o Seminário seria melhor utilizado — pontua o bispo dom Alessandro Ruffinoni.
As reformas são necessárias porque a ideia é que o prédio seja cenário de casamentos, festas de formatura e outros eventos. Neste momento, está em fase de término a reforma de um auditório de 130 lugares, que não era mais usado há anos.
Inaugurado em 1939 a pedido do papa Pio XI, o Seminário Menor – termo usado para dizer que somente adolescentes com menos de 18 anos seriam aceitos – tem hoje frentes de ocupação inéditas. Uma delas é a abertura ao público em missas semanais, que ocorrem todas as quintas, às 20h. O local também passou a ser sede do Serviço de Animação Vocacional, que substitui o formato de internato e passa a acompanhar menores com inclinação para a vida sacerdotal em suas comunidades.
— Hoje, o Seminário é um de local de referência espiritual e de formação para a comunidade. Se antes era focado na formação exclusiva do clero, hoje, temos como foco formar leigos e lideranças — descreve o padre Marciano Guerra, um dos responsáveis pela administração.
Voluntários pensam no futuro do local
A intenção não é tornar o Seminário em fonte de lucro financeiro, mas evitar que se torne alvo de abandono ou de prejuízos à Diocese. Por isso, a equipe de cinco pessoas que cuida do espaço conta com um suporte importante no planejamento: a comunidade. Voluntários e amigos do Seminário reúnem-se com frequência para discutir quais formas de melhor ocupar o prédio e quais medidas podem fomentar economicamente o espaço. Foram eles, por exemplo, que descartaram a ideia de transformar o prédio em pousada, como acontece em diversos espaços religiosos que já serviram como abrigo de religiosos. Não é cogitado também alugá-lo para uma empresa ou instituição, por exemplo, que pode descaracterizar o prédio erguido com dinheiro da comunidade. Entre estes voluntários, está o ex-seminarista e empresário Rafael Lisot, 35. Ele estudou lá de 1999 a 2001 e, como seguiu inserido no universo católico como integrante do setor da Juventude, foi convidado a pensar no futuro do Seminário.
— Nós estamos muito preocupados com a sustentabilidade da casa. O prédio vive em constante manutenção e há muitas coisas a serem feitas. Por isso, queremos manter eventos e encontros de formação, encontros de catequese, de paróquias. Há diretrizes que norteiam nossos passos, inclusive as reformas — afirma o empresário.
Além disso, pela primeira vez, o local conta um gestor, profissional focado na administração e nas novas propostas.
— A maior missão é torná-la sustentável sem perder a questão espiritual, sem mudar o foco. Temos uma estrutura belíssima que está se abrindo para a comunidade — defende o gestor Angelo Boff.
Personalidades e biblioteca
Inaugurado em 19 de março de 1939, pelo então bispo de Caxias do Sul, dom José Baréa, o Seminário formou 203 padres e mais de 1,7 mil alunos. Entre os diversos sacerdotes que passaram pelo seminário figuram os bispos dom Angelo Mugnol, dom Paulo Moretto e dom Neri José Tondello. Também estudaram lá o ex-prefeito Mario Vanin, o governador José Ivo Sartori, o escritor José Clemente Pozenato, o filósofo Jayme Paviani, o ex-secretário da Cultura João Tonus e o ex-reitor da UCS Isidoro Zorzi.
Também há no espaço uma biblioteca com acervo de 25,3 mil livros. O gênero literário que se sobressai, claro, é religioso. Nesta semana, uma das três voluntárias responsável pela biblioteca, Suzana Fantinel, organizava o acervo completo do bispo dom Paulo Moretto, entregue em definitivo ao Seminário.
Bibliotecária desde 1963, Suzana se orgulha de cada exemplar catalogado e disponível na biblioteca. A obra mais antiga, em latim, é datada de 1688 – e se desconhece a origem do livro. Como fã do local, ela sugere que a comunidade aproveite este novo momento para ver – e sentir – ainda mais a paz do Seminário.
Formação de novos religiosos
A formação de novos religiosos segue sendo acompanhada pela equipe vocacional. O Serviço de Animação Vocacional (SAV) acompanha jovens nas paróquias que podem seguir, depois da maioridade, para etapas de formação na filosofia, propedêutica e teologia. Agora, estão em acompanhamento de 30 a 35 jovens, segundo o padre Marciano Guerra, um dos responsáveis também pelo projeto vocacional.
Outro movimento importante e que segue em curso é a criação da escola de diáconos. Ou seja: leigos que trabalharão nas paróquias e poderão conduzir batismos, matrimônios e sepultamentos. Um diácono pode ter esposa, desde que tenha casado antes da ordenação. Também pode exercer funções administrativas na igreja. A ideia é que a escola já funcione no Seminário a partir de 2020.