
Quando o lado emocional está bem, o sistema imunológico trabalha melhor.
A frase da psicóloga Bruna Cararo Curra, que trabalha na Associação de Apoio às Pessoas com Câncer (Aapecan), toca num aspecto importante para quem enfrenta o câncer de mama e os efeitos colaterais do tratamento, como a perda de cabelo, além da temida retirada da mama: a aceitação da nova (e temporária) imagem.
— O que nós precisamos buscar é que a paciente se sinta feliz com ela mesma: as que gostam de cabelo comprido podem usar perucas de todos os tamanhos. As que se sentem bem sem lenço, que abusem disso. Muitas vezes, quem observa a mulher sem o cabelo não sente pena, mas sim, percebe a força dela — salienta Bruna.
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Para quem passa por esse momento tão delicado, ela aconselha:
— É possível sobrepor roupas para esconder uma mastectomia, uma maquiagem legal as deixa com semblante mais feliz. Quando a autoestima é trabalhada, existe um fortalecimento para os desafios.
Ainda que a quimioterapia e a radioterapia sejam tratamentos complementares para eliminar a doença, há um procedimento que ocorre em praticamente todos os casos. É a cirurgia para remoção do tumor. O que entra em discussão, de acordo com médicos, é o método usado para a retirada do câncer. Muito comum até o final da década de 1980, a mastectomia significava mutilação, já que ocorria a remoção de glândulas mamárias, músculos peitorais e linfonodos (gânglios linfáticos sob as axilas). Agora, procedimentos mais modernos conseguem preservar boa parte da mama da mulher e, nos casos em que não é possível, há a colocação de prótese mamária – também pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Direito conquistado em 2013, a cirurgia plástica reparadora é assegurada por lei às pacientes, e é possível, inclusive, que seja feita no mesmo momento em que o câncer é retirado. Assim, a mulher não depara com a ausência do seio ao acordar da cirurgia, o que é algo, muitas vezes, traumático.
— Costuma-se usar como fator de decisão a proporção entre o volume da lesão a ser removida e o volume da mama. A lesão não pode representar mais de 20% do volume da mama. Dessa forma, o procedimento pode ser parcial ou conservador — explica o mastologista Felipe Zanol Sauer.
"Não somos menos mulher por não ter cabelo"
No início do mês, quando participou de um desfile de moda onde as protagonistas eram pacientes com câncer de mama, Maria Marta de Almeida, 41 anos, entrou na passarela com um lenço na cabeça. A segurança em desfilar aumentava a cada passo. Isso porque ao olhar na plateia, amigos, familiares e outras pacientes a aplaudiam com firmeza e admiração – eles sabiam o tamanho da batalha que ela está enfrentando. Ao chegar na metade da passarela, Maria não teve dúvidas. Parou, tirou o lenço e seguiu desfilando. Foi a primeira vez que apareceu para seus amigos sem esconder a careca. Chegada a hora, ela decidiu:
— A gente precisa assumir de peito aberto a nossa situação. Não temos de nos esconder, não estamos fazendo nada de errado — lembra.
Maria é uma das dezenas de mulheres atendidas na Aapecan. Na tarde da última terça, participava do Baile Rosa, iniciativa que, com música e descontração, levava leveza à rotina dura de quem encara o câncer diariamente. Maria não se envergonha mais em não ter cabelos. Outras mulheres, durante o Baile Rosa, preferiam lenços para deixar o visual mais incrementado. Todas eram unânimes: autoestima e câncer de mama precisam andar lado a lado.
— Precisamos lembrar que não somos menos mulher por não ter uma mama, ou por estar sem cabelo. É um momento dolorido, mas que precisamos nos amar ainda mais. E ninguém fará isso por nós — aconselha a artesã Miriam Boeira Carvalho Pistore, 35, que enfrenta o câncer há um ano.
Maria, Miriam e Jaqueline Mailei Bueno, 35, têm muito em comum. Além de serem bastante jovens, as três descobriram problemas na mama ao fazer o autoexame no banho. O nódulo pequeno do seio de Jaqueline, em poucos dias, transformou-se em algo maior e que exigiu retirada parcial da mama e do tecido da axila. Ela agora encara as radioterapias. O cabelo voltou a crescer, mas diferente: antes era preto e liso, agora, castanho e encaracolado. Isso ocorre porque a quimioterapia altera as células germinativas do couro de forma que elas acabam morrendo. Quando os fios voltam a crescer, eles crescem em ciclos diferentes.

— Ir na Aapecan e conhecer outras pacientes com o mesmo problema me ajudou muito, conforta, faz a gente aprender. Eu sei que a gente fica triste, chora muito, mas isso vai passar. Este é um momento passageiro. Eu aconselho que as mulheres não fiquem em casa chorando. Procurem alguém, conversem. A doença não deve ser o nosso foco — diz.