Quando foram acolhidas, há mais de dois anos, Beatriz tinha três anos e Angélica, um. Os pais delas eram (ou são) usuários de drogas, contexto cada vez mais comum entre os casos de crianças destinadas a adoção. As meninas acabavam ficando na casa de uma das avós. Certa noite, enquanto a idosa dormia, a mais velha saiu da residência e perambulou pela rua até ser encontrada pela Brigada Militar, que acionou o Conselho Tutelar. Como perguntava muito pela irmã, a equipe foi em busca da outra criança. Ambas foram retiradas da família de origem. As meninas ficaram três meses em um abrigo, depois, passaram a morar em uma casa lar.
O caso das irmãs é semelhante ao de muitas crianças que chegam todos os dias ao sistema de acolhimento de Caxias. São de recém-nascidos a adolescentes que se veem, na fase mais frágil da vida, submetidos a situações de negligência, abandono, maus-tratos, abusos por parte dos próprios familiares. O passado dos acolhidos nos abrigos e nas casas lares é dos mais tristes que se possa imaginar. Mas também é nesses locais que muitos futuros são reescritos, ganham novas expectativas, novos sonhos e se tornam realidades bem diferentes. É para contar como se desenvolveram algumas dessas histórias que o Pioneiro publica, em cinco capítulos, a série Adoção, vidas que se transformam. Os nomes nas reportagens são fictícios, em respeito ao que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e para preservar as crianças.