
Criado pela Constituição Federal de 1988 para garantir o acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país, o Sistema Único de Saúde (SUS), que já foi modelo de sistema público de saúde no mundo, chega à fase adulta agonizando. Antes mesmo de completar 30 anos, o que ocorrerá em setembro, há anos apresenta um quadro crítico e crônico de sucateamento causado pela falta de investimentos. O Pioneiro ouviu pacientes, servidor, médico e gestor da saúde pública em Caxias do Sul para ver como é ser SUS no município.
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Depois de 32 anos atuando na rede pública, a médica Elisabeth Bernardi, clínica geral do Pronto-Atendimento 24 horas, o Postão, avalia a situação atual da saúde em Caxias do Sul como de sucateamento. Ela acompanhou as mudanças no cenário da saúde, desde que foi criada uma pasta específica para a área na cidade, o que, segundo Elisabeth, gerou melhorias no sistema ano a ano.
– Todos os prefeitos sempre foram contribuindo para o crescimento da saúde. Claro, existe espera desde o início. Para especialidades, sempre houve espera. Mas, fora das especialidades, se conseguia as consultas básicas – pondera a médica que atuou em três UBSs antes de assumir a vaga atual no Postão.
Ela conta que logo que a Secretaria Municipal de Saúde foi criada, foi feito um mapeamento dos problemas de cada região e, a partir desse diagnóstico das necessidades, foram implementadas ações e, com a plena gestão municipal, o leque de atendimentos foi ampliado.
– Tinha espera, tinha dificuldade, tinha falta de leitos. Nem tudo conseguíamos, porque o SUS não é rico, mas se prestava um bom serviço para a comunidade. Hoje está muito pior. Ela (saúde) tem uma curva que era crescente e que, agora, está decrescendo vertiginosamente. Estamos sentindo um desestímulo muito grande de colegas. Muitos se exoneraram. As filas de espera estão aumentando. Eu não vejo investimento na saúde. Ao contrário, me parece que existe um interesse em destruir o que está feito – avalia a clínica.
Não foi só a estrutura da saúde pública que mudou nas últimas décadas. A relação médico-paciente também. Dos atendimentos mais aprofundados aos pacientes aos 15 minutos em um consultório foi um salto. Quando questionada sobre as críticas da população de que os médicos da rede pública se detém a atender a um número reduzido e determinado de fichas por dia, ela rebate:
– Isso é falta de organização do serviço. Tem que haver um trabalho para ver de que maneira aquela comunidade precisa de atendimento.
A médica atribui esse problema ao sistema de marcação de consultas que agenda 90% dos atendimentos, deixando poucas fichas para necessidades que surgem no dia.
– Estão querendo fazer com que a culpa desse desserviço que está sendo prestado em Caxias recaia sobre o médico, quando, na verdade, o que ainda funciona é devido ao trabalho do médico – desabafa.
O déficit de profissionais e a falta de equipamentos também comprometem o serviço, conforme Elisabeth:
– Não é o ideal, porque é um trabalho muito sério e tem que estar atento. No momento em que o número de profissionais é menor acaba fazendo uma gama maior de atividades e não consegue atender como se tivesse um 'x' de pacientes. A parte de pagamento nunca foi a ideal, mas, o que vejo de mais grave são as condições de material humano e de equipamento. Existem alguns percalços que complicam o SUS, mas ele é maravilhoso e não pode acabar – declara a médica.
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