
Criado pela Constituição Federal de 1988 para garantir o acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país, o Sistema Único de Saúde (SUS), que já foi modelo de sistema público de saúde no mundo, chega à fase adulta agonizando. Antes mesmo de completar 30 anos, o que ocorrerá em setembro, há anos apresenta um quadro crítico e crônico de sucateamento causado pela falta de investimentos. O Pioneiro ouviu pacientes, servidor, médico e gestor da saúde pública em Caxias do Sul para ver como é ser SUS no município.
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Foi para garantir o preceito constitucional de que a saúde é um direito fundamental do ser humano e de que é um dever do Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício, que o Sistema Único de Saúde (SUS) foi concebido há três décadas. Pois é na ponta desse sistema que está o cidadão, usuário do SUS, que encontra na rede pública possibilidade de atendimento gratuito e de qualidade.
O problema é que para chegar a ser atendido por um técnico, enfermeiro ou médico a população de Caxias do Sul tem penado por horas em longas filas que atravessam madrugadas em frente às unidades básicas de saúde (UBSs). A situação, mostrada pelo Pioneiro em reportagens publicadas em março e abril deste ano, reafirmam um cenário registrado já em anos anteriores em diferentes regiões da cidade. Considerada uma questão cultural pelos gestores, o fato é que as pessoas vão até as UBSs tão cedo para garantir o tal atendimento universal, já que, a rede não comporta a quantidade de usuários que procuram por ela todos os dias e, afinal, é preciso ter uma organização. Muitas vezes, depois de horas de espera, quando, finalmente, chega a vez de o cidadão ter em mãos o "passaporte" para uma consulta, ele recebe a informação de que não há médico disponível.
O poder público admite o déficit e tenta resolvê-lo. Enquanto isso, os casos de baixa gravidade que poderiam ser facilmente solucionados nas UBSs acabam superlotando o Pronto-Atendimento 24 horas, o Postão, gerando mais filas, mais espera e mais reclamações.
Na última segunda-feira, a dona Lívia Casagrande, 52 anos, foi ao Postão por causa de uma infecção urinária, que poderia ser tratada na UBS do bairro em que mora. Mas naquela manhã, antes de ir até o Centro, onde fica a unidade voltada a emergências, ela tentou e não conseguiu uma das seis fichas distribuídas na UBS para quem, provavelmente, madrugou por lá.
– É precário no postinho. É muito demorado. Para fazer um tratamento de canal, leva seis ou sete meses. Para fazer ecografia, que é urgente que eu precisava fazer, é cinco meses. É muito difícil conseguir – se queixa a moradora do bairro Cristo Redentor.
Vivendo com a ajuda do filho, sem plano de saúde há cinco anos, ela passou a enfrentar as agruras de quem depende do SUS.
– Tem vezes que eu fui às 4h30min, arriscando, andando no escuro, para a fila do SUS para conseguir uma vaga – contou ao sair da consulta no Postão.
Na mesma tarde, no lado de fora do PA, dona Elsa de Oliveira Fernandes, 76, conversava com a filha Maria Helena Fernandes, 53. Elas chegaram ao Postão por volta das 8h15min e passaram pela triagem. Depois de aguardar um tempo, dona Elsa foi encaminhada para coleta de sangue no mesmo prédio, onde, ainda naquele dia, faria o exame de urina e pegaria o resultado de ambos para levar ao médico, ali mesmo. Aí está outro motivo pelo qual as pessoas procuram o Postão ao invés das unidades básicas: a resolutividade. A idosa obteve em um dia, o que levaria uma semana para conseguir na UBS, segundo as usuárias.
– A gente não tem outro plano. Sempre usamos o SUS. Sempre consegui e fui bem atendida. Não tenho o que me queixar – disse a idosa, satisfeita com o atendimento recebido.
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