Ambição de boa parte dos brasileiros, acertar as dezenas da loteria nem sempre é garantia de felicidade. Um apostador de Caxias do Sul que diz ter acertado sozinho os cinco números do sorteio 4417 da Quina, de 30 de junho, entende bem essa sensação: ele afirma que perdeu o comprovante da loteria. A Caixa só permite a retirada do prêmio com a apresentação do canhoto e, até o fim da tarde desta sexta-feira, o valor não havia sido retirado. Jogador assíduo há pelo menos uma década, o rapaz de 34 anos vive um misto de angústia e esperança, já que o pedaço de papel que garantia a bolada de R$ 2.944.607,27 pode estar perdido em uma reciclagem ou em aterro de Caxias do Sul.
– Eu estou conseguindo tocar em frente porque não vi o dinheiro, nem tenho ideia do que é. Se eu tivesse visto o bilhete de novo, ou pensado direito nesse dinheiro, o cara não consegue ficar tão bem– explica.
A história poderia ter um desfecho diferente caso o técnico em manutenção não tivesse conferido os números de um sorteio impresso nas páginas do jornal do dia. Ele leu, checou e lamentou não ter acertado _ contudo, os números era de um outro sorteio. Seguiu para as tarefas do dia e deixou o bilhete jogado em uma mesa no canto da oficina onde trabalha, no bairro Fátima, consertando lavadora de roupas e outros eletrodomésticos. Quando o sócio dele perguntou se podia descartar o canhoto da Quina, o apostador concordou, numa atitude nada convencional dele, que garante guardar todos os comprovantes dos jogos em uma pastinha.
– Naquele dia, não sei por que, foi tudo diferente. Eu nem pensei duas vezes, eu disse: pode jogar fora. Ele (colega) colocou no nosso lixo, e não lembramos onde foi descartado porque cada dia fizemos um itinerário diferente, e deixamos em algum contêiner no caminho da entrega – lamenta.
A aposta que se perdeu foi feita na sexta-feira, dia 30 de junho, no mesmo horário de costume e na mesma na lotérica. Além de jogar os mesmos números habituais (soma de aniversário, data de casamento, nascimento de familiares), pediu à atendente da lotérica Zebrão um jogo às escuras. Nesse caso, os números são escolhidos aleatoriamente pelo computador. O resultado não agradou tanto:
– Partia de 35 e chegava a 76. Que jogo feio, eu disse. E a atendente pediu se eu queria trocar, e eu falei que não.
Talvez a única vez do ano em que ele não colocou os pés na lotérica foi a semana seguinte ao sorteio. O aniversário da filha de 6 anos ocupou todo o tempo extra: a festinha aconteceria no próximo fim de semana. Ao retornar à lotérica, quase uma semana depois, diz ter ouvido parabéns das atendentes. Não entendeu, e ao ver os números sorteados naquele sorteio, lembrou do "jogo feio" e sentiu uma infelicidade sem tamanho, pois se deu conta que havia permitido ao sócio o jogar o canhoto milionário no lixo. O apostador recebeu uma mensagem de texto do colega, onde o companheiro de empresa desabafou sobre a sensação de culpa que carrega:
"Amigo, eu não estou nem conseguindo dormir à noite. Você me disse uma semana antes que queria ganhar na loteria para ajudar teus pais, tua família. Eu peço mil desculpas", diz o recado.
Mesmo sabendo que precisaria trabalhar pelo menos 50 anos para arrecadar os quase R$ 3 milhões _ ele ganha cerca de R$ 5 mil mensais, o apostador pretende seguir com o hábito de estacionar em frente à lotérica Zebrão diariamente. Ele gasta cerca de R$ 500 por mês em jogos, e não irá reduzir o investimento:
– Minha filha me disse que vou ganhar de novo. E eu acredito nela.O valor fica disponível por 90 dias.O nome do apostador está preservado por questões de segurança.
História não é inédita em Caxias
Loteria frustrada
Bilhete de R$ 3 milhões de apostador de Caxias do Sul pode estar no lixo
Apostador que teria acertado as dezenas só se deu conta uma semana depois
Raquel Fronza
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