
A história se repete a quase 2 mil anos, mas a interpretação da crucificação e morte de Jesus, lembrados hoje, Sexta-feira Santa, muda de acordo com o devoto que a . Data carregada de significado para católicos do mundo todo, em Caxias do Sul, além da tradicional encenação da morte de Jesus que ocorre nos Pavilhões, bairros se mobilizam e capricham na programação para a comunidade.
Enquanto alguns moradores treinam as cenas há meses, outros se encarregam de produzir os figurinos ou ainda cedem a casa para que os ensaios ocorram. É a união dos moradores, em espírito de solidariedade, que traduz o verdadeiro significado da Páscoa.
- São trabalhadores, gente que atua o dia todo na fábrica e se dedica com afinco, participação, comprometimento para fazer bonito no bairro - descreve o pároco do bairro Serrano, Roberto Carlos Fávero.
A Pároquia Menino Deus do bairro Serrano é uma das que promete emocionar os mais de 4 mil fiéis que devem assistir a encenação. Na tarde da quarta-feira, o Clube de Mães terminava de alinhavar a roupa dos soldados, e a catequista Ivete de Oliveira Molon se preocupava com os detalhes que antecediam a grande data. Milhares sairão da Avenida Serrano Santo Antônio e percorrerão seis quadras até a igreja matriz. No caminho, contracenarão as paradas da via-sacra. Quem interpretará os papéis são metalúrgicos, professores, agricultores, pintores e gente da comunidade que deseja fazer bonito para quem assiste à peça, com duração média de uma hora.
- Nós achamos que sempre falta alguma coisa, que não está perfeito... Mas Deus nos conduz de uma maneira que acaba dando tudo certo. As pessoas choram conosco -afirma a catequista Ivete.
Moradores de bairros como Jardim Iracema, Santo Antônio, Jardim Eldorado, São Valentin de Ana Rech participam do ato. Ainda que a iniciativa ocorra há quase uma década no bairro, este ano o pároco percebeu maior participação dos moradores, consequência da crise econômica que aflora sentimentos de solidariedade entre as pessoas.
- Sabemos que o cenário difícil, com o desemprego assolando os lares, faz com que valorizem mais a família, os valores religiosos. A Páscoa consiste em recuperar os laços solidários e na humanização. E esta movimentação cumpre essa missão - define o pároco Roberto Fávero.
Três comunidades se encontram no Desvio Rizzo
Cada paróquia arruma uma maneira de celebrar a Sexta-feira Santa, seguindo tradições ou incrementando novidades. No Desvio Rizzo, três comunidades se encontram na matriz do bairro. Centenas de moradores partem do bairro Charqueadas, da Linha Feijó Imaculada Conceição e da Lagoa do Rizzo. Os que se concentrarão no bairro Charqueadas carregarão a imagem de Nossa Senhora das Dores, e os que saem da Linha Feijó, serão responsáveis por levar a imagem de Cristo morto até a sede. No caminho, vão convidando os moradores que estão em casa e juntando mais de mil pessoas em direção à igreja matriz. A celebração conta com encenação da paixão defronte da paróquia, onde mais mil pessoas esperam em oração. Esta movimentação existe há pelo menos cinco anos, afirma o pároco Luciano Cansan.
- A comunidade se dedica bastante para que seja um evento bonito -descreve.
A empresária Maristela Tomasi Chiappin é uma das que se dedica na organização da procissão. Ela sairá com centenas de moradores da Linha Feijó Imaculada Conceição e, juntos, percorrerão quatro quilômetros carregando a imagem de Jesus morto. A expectativa entre os moradores é grande.
- Estar à serviço da comunidade, se colocar à disposição do próximo e manter a humildade são princípios que combinam com a Páscoa. E por isso preservamos eles o ano inteiro - define Maristela.