
A Via Sacra era recitada, às 4h deste Sábado de Aleluia (19), pelo padre Jocimar Romio, na Capela do Santo Sepulcro, em Caxias do Sul. Estava em andamento o Ofício de Trevas, uma cerimônia especial, sob um ambiente com luzes apagadas, iluminado pontualmente por velas — uma delas, segurada pelo pároco para ler as escrituras.
Em torno de 20 devotos escutavam atentamente e, a sua maneira, exerciam o luto à Jesus Cristo. Quase todos estavam sentados em cadeiras, com exceção de Bárbara Demétrio, 35 anos, que, ajoelhada, com olhos fechados e mãos unidas junto ao rosto, mostrava sua fé.
— Tenho um respeito muito grande, o amor de Cristo transcende séculos, divide o tempo: antes e depois d’Ele. Esse amor nos sensibiliza a refletir o quanto precisamos melhorar como pessoas. Dobrar os joelhos é reconhecer tudo o que Ele representa como nosso salvador — explica a professora.
Ela chegou na Capela do Santo Sepulcro por volta da meia-noite, quando teve início o rito que coloca em destaque a oração, o silêncio e a reflexão. Trata-se do luto vivenciado pela comunidade católica entre a Sexta-Feira Santa — dia da crucificação de Cristo — e o Domingo de Páscoa, momento da ressureição.
Às 4h24min, o padre Romio apagou uma das 15 velas acesas na parte superior da igreja, sobre a cripta. Até o fim do Ofício de Trevas, às 6h, uma vela apenas permanecia queimando, representando Jesus Cristo.
Na cripta, no subsolo da Santo Sepulcro, está a imagem do Senhor Morto. Nesse espaço, Jocelei Grigoleto, 56, e o marido, Henrique Bordignon, 64, oravam.
— Não tem outra maneira de procurar paz no coração senão nesses momentos especiais, em uma igreja. Orando juntos, temos uma conexão maior na nossa vida — descreveu ela, com os olhos marejados.

Casados há 19 anos, Cristiane, 49, e Fabiano Valcarenghi, 44, estavam com saudade da Capela Santo Sepulcro, que reabriu na sexta após cinco anos — templo passou por reformas. Afinal, desde que estão juntos, eles frequentam a igreja.
— Fez falta. É uma capela acolhedora, mais antiga. Ainda voltaremos muitas vezes. Essa cerimônia representa uma purificação, temos no nosso coração um sentimento de gratidão a Jesus por tudo o que fez — comentou o metalúrgico.
Carregada de simbolismos, a Santo Sepulcro também conta com vitrais que representam o caminho de Cristo até a cruz e, aos fundos do altar, a famosa pintura de Aldo Locatelli, que ilustra o momento da ressurreição.

Nesta sexta e sábado, o espaço fica aberto para os fiéis.
— A proposta é viver o luto, aproveitar o momento para refletir sobre a vida e a morte. Refletir sobre os que morreram antes de nós, esperando um dia ressuscitar. É uma oportunidade para meditarmos sobre a vida e a fé, de que nós somos mais do que um corpo biológico ou material que vira pó — resume Romio, que também é pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes.