Não é a primeira vez que a comunidade católica de Caxias do Sul e região é sacudida pela intolerância religiosa. Desde novembro, foram pelo menos oito investidas contra imagens sacras em igrejas e capiteis, incluindo o ataque contra a escultura de Nossa Senhora de Caravaggio e Joaneta, em Farroupilha. Segundo o Pai Ademir de Oxum, integrante da Umbanda, uma série de crimes semelhantes ocorreu no início dos anos 1980.
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Diversas imagens apareceram danificadas pela cidade, incluindo imagens de uma gruta nos pavilhões da Festa da Uva. Na época, segundo Pai Ademir, foi possível identificar os autores porque fiéis da Umbanda e da igreja fizeram vigília em pontos estratégicos e repassaram informações para a polícia.
Para o teólogo, poeta e escritor Armindo Trevisan, tais atos representam um terrorismo "branco":
- É terrorismo branco quando não atinge o grau de loucura e fanatismo que põe em risco as pessoas, mas ataca os ritos e sinais que representam as condições de um povo. Esse tipo de micro-ataque pode levar para atitudes desproporcionais - pondera.
Líderes religiosos estão espantados com essa onda de intolerância. Confira as opiniões:
"São ataques que nos afetam porque cultuamos as mesmas imagens que os católicos reverenciam. Estou dizendo há muito tempo que isso é o começo de uma guerra religiosa silenciosa no Brasil. Uma vez essa discriminação, como todas as outras, era velada. Agora, isso é aberto. Entendo que somente uma vigilância vai desvendar quem são essas pessoas. Fizemos isso no início dos anos 80 quando ocorreu uma onda de ataques na cidade. Conseguimos apontar quem estava destruindo os santos. Infelizmente, agora começou tudo de novo"
Pai Ademir de Oxum, presidente do Núcleo Estadual do Superior Órgão Internacional de Umbanda e dos Cultos Afro (SOI).
"Qualquer espécie de violência não é uma expressão de civilidade nem de respeito. Vejo isso como um ato de discriminação. Repudiamos qualquer tipo de violência e muito mais quando se atinge um símbolo importante para uma comunidade. Os espíritas estão envolvidos numa campanha de construção da paz. Entendemos que só vamos conseguir isso quando valorizarmos o que temos em comum e não as diferenças. Temos que fazer valer respeito a qualquer grupo social ou religioso. Ou vamos fazer guerra dentro de casa?"
Clementina Berno, vice-presidente da União Municipal Espírita
"Esses atos de vandalismo com certeza não diminuem, nem abalam a nossa devoção aos santos. Quero acreditar que esse tipo de ação aumente o respeito de todos pelas figuras religiosas, já que gera uma comoção. Obviamente esse vandalismo fere a nossa sensibilidade religiosa, nos deixa triste e nos faz pensar na motivação dessas pessoas que estragaram essas imagens. Não julgo quem estragou os nossos santos, pode ter sido só por brincadeira, só porque são contra as imagens. Mas isso é triste, já que essas imagens servem, também, para gerar o amor entre todos, não o ódio. Me tranquilizo um pouco porque essas atitudes feias estão gerando atitudes bonitas: pessoas estão rezando todos os dias em Caravaggio para iluminar as mentes de quem danificou as santas.
Dom Alessandro Ruffinoni, bispo de Caxias do Sul
"Não defendemos qualquer hostilidade. A nossa divergência é teológica. Se vamos discutir é na teologia. Não concordamos com a idolatria de imagens, mas todo cidadão tem liberdade para ouvir o que está sendo ensinado. Jamais vamos incentivar esse tipo de ação. A liberdade religiosa é uma conquista ratificada pela Constituição. Se outros têm a liberdade de idolatrar uma imagem, nós usamos a mesma liberdade para não fazê-lo. O movimento evangélico tem uma história de paz. Jamais teremos uma fogueira inquisitória para quem segue outras religiões".
Pastor Paulo André Barbosa, integrante do Conselho de Educação e Cultura Religiosa da Convenção das Igrejas Evangélicas e Pastores da Assembléia de Deus do RS