A proposta de mobilizar a comunidade contra a violência em Caxias do Sul colocou no mesmo caminho um jovem fã de hip hop e uma assistente social.
Everton Almeida Cruz, 19 anos, teve trajetória diferente de alguns amigos. Enquanto conhecidos migraram para o crime e perderam a vida, o rapaz virou educador social. É uma liderança entre os jovens da Zona Norte, o que lhe valeu o convite para integrar a primeira turma do projeto Voluntários da Paz, curso que começa nesta segunda-feira na Universidade de Caxias do Sul.
Confira as últimas notícias do Pioneiro
Carla Mortari é assistente social, e trabalha como secretária no Núcleo de Capacitação do bairro Cânyon. Conhece histórias que terminaram de forma triste, mas também se deparou com casos de superação e resistência à violência. Agora ela se une ao rapaz pela pacificação. Os dois serão capacitados, ao lado de outros 48 pessoas, a intervir e prevenir em casos de menor potencial ofensivo dentro dos conceitos de Justiça Restaurativa. Isso inclui estimular o diálogo em relações estremecidas na escola, no lar e no bairro. Formados, poderão se agregar aos facilitadores do programa Caxias da Paz.
- Espero obter o máximo de conhecimento para aplicar na minha vida como assistente social, e não apenas onde trabalho hoje. Às vezes nos deparamos com situações que não sabemos como resolver, como interferir - pondera Carla.
Everton já ajuda meninos e meninas através das oficinas de hip hop no Vila Ipê. Imagina que pode ser ainda mais útil aprendendo a promover consensos e estimulando outros jovens a optar pelo diálogo.
- A juventude não tem muita referência. Sempre digo que se tu usar bebida, drogas, essas coisas, não tem como ir pra frente.
Susana Duarte, coordenadora da Central da Paz Comunitária, na Zona Norte, diz que o conceito de Justiça Restaurativa ainda é incompreendido por ser recente em Caxias. Ela cita o exemplo de uma comerciante que teve o mercado arrombado por adolescentes há cerca de dois meses. A garotada pegou doces e tentou tirar dinheiro do caixa. Foram flagrados pela mulher no ato.
- Ela conhecia os jovens desde pequenos, o que lhe deixou ainda mais revoltada. Nos procurou imaginando que faríamos a Justiça tradicional, imaginando que talvez fôssemos puni-los, o que geraria mais conflito - conta Susana.
O Núcleo conseguiu reunir a mulher, os jovens e seus familiares num círculo restaurativo para reflexão. Com exceção de uma mãe, os outros pais perceberam falhas na conduta dos filhos. Dois garotos inclusive não frequentavam aa escola. Além de retornar para o colégio, os adolescentes voltaram a frequentar o mercado que tentaram roubar. A relação atual entre a mulher e os vizinhos pode ser não a ideal, mas se impediu um desfecho violento. Pela via tradicional, a desavença só cresceria.
- Temos que empoderar as comunidades para resolverem seus conflitos, para não ficarem restritas ao que passou e seguir adiante - diz Susana.
Em três anos, os facilitadores do Caxias da Paz já atenderam cerca de 2,7 mil casos envolvendo 10 mil pessoas para compartilhar pontos de vista, fortalecer relacionamentos, enfrentar questões difíceis, superar traumas, tomar decisões, formular acordos e planos de compromissos.
Pela paz
Saiba como um voluntário pode ajudar a prevenir a violência em Caxias do Sul
Projeto usa os princípios da Justiça Restaurativa
Adriano Duarte
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project