Quando um microempresário de 31 anos, que prefere não se identificar, mudou-se para Caxias há três meses, escolheu o Jardim Botânico, no bairro Saint Etienne, como o lugar de suas caminhadas no final da tarde. Isso até a última sexta-feira, quando teve mãos e pés amarrados durante uma tentativa de assalto.
O caso aconteceu entre as 17h30min e 18h. Ele caminhava ao redor do lago da represa São Paulo (bacia de captação dal Bó) quando foi abordado por três rapazes, que o derrubaram em um ponto com árvores, entre o deck e o vertedouro. Com um pedaço de pano, o trio prendeu suas mãos e pés. Um deles tinha uma arma e outro uma faca.
- Eles acharam que um carro que tinha nas proximidades era meu. Pediam a chave. Eu estava pé, sem celular ou dinheiro, só tinha a chave do apartamento. Um deles estava mais exaltado. Começou a dizer que eu era policial e que ia me matar. Eu negava. A arma até parecia de brinquedo, mas não quis arriscar - relata.
Leia as últimas notícias do Pioneiro
O trio desistiu e avisou ao homem que esperasse eles se afastarem para se soltar. Foram embora caminhando. O microempresário diz não ter visto nenhum funcionário nas proximidades para pedir ajuda. Duas pessoas que conversavam, de costas, em uma mesa perto de onde ocorreu a abordagem e disseram não terem visto nada. Na saída do parque, o homem pediu ajuda a um motorista que estava com o veículo estacionado.
- Sempre havia um funcionário quando eu caminhava, próximo da entrada do parque. Eu nunca tinha sido assaltado. Não sei se vou voltar a caminhar ali - continua.
O boletim de ocorrência foi registrado no dia seguinte.
Ação de vândalos
A Brigada Militar não sabe informar se há casos semelhantes no parque, já que as estatísticas contemplam toda a área do bairro. A própria secretaria de Meio Ambiente, responsável pelo parque, diz não ter conhecimento de outra ação envolvendo furto ou roubo de quem usufrui do Jardim Botânico.
Ainda assim, o parque tem sofrido a ação de vândalos. A fiação do banheiro foi furtada três dias após a reinauguração, há três meses. Há 10 dias, o teto foi arrombado: nada foi levado, mas os vasos sanitários foram arrancados, lixeiras e saboneteiras destruídas. Desde então, permanece fechado.
No dia 20 de setembro, em frente ao parque, na Rua Atílio Andreazza, por volta das 19h30min, um homem de 28 anos foi morto a tiros. Alexsandro Adelir Ascari estava em um Astra com uma jovem de 25 anos e um homem de 29 quando o veículo foi alvejado.
Sem vigilância permanente
Sete funcionários trabalham diariamente no Jardim Botânico, cujo horário de funcionamento é das 7h30min às 18h. São jardineiros, pedreiros e operários com a função de cuidar da manutenção do parque. Quando se aproxima a hora de fechamento, um deles avisa os usuários que os portões serão trancados e outro fica na entrada do parque, controlando a saída dos carros.
Porém, mesmo com os portões fechados, é possível acessar o parque por áreas sem cercamento. Alguns aproveitam para pescar na represa, o que é proibido. A secretaria de Meio Ambiente diz que há mais de um ano solicitou à Guarda Municipal a segurança permanente no lugar, opção descartada pela coordenação do serviço.
- Não temos condições de manter um guarda municipal fixo lá. Fizemos rondas periódicas no Jardim Botânico, duas a três vezes por dia. O cobertor é curto. Damos prioridade para áreas com maior aglomeração de pessoas, como o Centro, a prefeitura, o Pronto Atendimento. Além disso, eventos como a Feira do Livro exigem monitoramento permanente, e participamos de operações como as de Passo Livre e Balada Segura - resume o coordenador da Guarda Municipal, Ricardo Fugante Martins.
Atualmente, o efetivo é de 184 homens para 250 pontos de monitoramento incluindo prédios, parques, escolas, unidades básicas de saúde, regiões de áreas municipais invadidas. Dos parques, os únicos com monitoramento permanente da Guarda Municipal são o Cinquentenário, o Parque dos Macaquinhos e o Mato Sartori.
Pela lei federal 13.022/2014, que dispõe sobre o estatuto geral das Guardas Municipais, cidades com população de até 500 mil habitantes não podem ter efetivo superior a 0,2% da população. Ou seja, conforme a legislação, Caxias, com população estimada pelo IBGE de 475mil pessoas, poderia ter até 950 guardas municipais.
