Gilberto Blume: poucos empreendedores aceitam sugestões, acatam críticas, ouvem o cliente

Irma Overlock fareja de longe quando um negócio vai dar certo ou vai dar errado. A costureira é tão boa nisso que as amigas até já sugeriram que ela criasse um puxadinho no atelier para prestar consultoria aos novos empreendedores. O faro de Irma, porém, nesse caso acusou que o próprio negócio não prosperaria por falta de clientes: poucos empreendedores aceitam sugestões, acatam críticas, ouvem o cliente.

A consultoria de Irma morreria na praia igual estão fadados a morrer os negócios de qualidade duvidosa que pipocam por Caixinhas.

Dia desses a costureira se preparava para receber para o almoço. Cardápio definido, panelas e forno a mil e... o gás deu mostras de que acabaria em instantes.
Irma recorreu a um dos inúmeros ímãs que enfeiam a geladeira e telefonou para uma empresa de telegás. O atendente, todo solícito, informou que os rapazes da entrega chegariam em 10 minutos - estourando, em 15 minutos.

- Ótimo!

A costureira separou o dinheiro de olho na chama do fogão que ia sumindo, sumindo, sumiu!

Quinze, 20 minutos, 30 minutos depois, Irma telefonou à empresa perguntando se a encomenda demoraria.

- Ué?! O gás ainda não chegou? Já deveria estar aí - surpreendeu-se o atendente.

Uma hora, uma hora e quinze, uma hora e meia depois Irma sacou mais uma vez o ímã:

- Amigo, não vou mais estar querendo o gás. Suspenda a entrega, por favor.

A costureira desatarrachou o butijão vazio, enfiou-no no porta-malas e foi comprar gás num posto algumas quadras longe.

Quinze minutos depois, a cozinha estava a mil de novo, o fogão se esforçando horrores para requentar a comida gelada.

Mais quinze minutos e uma buzina soa na frente do atelier:

- Foi aqui que pediram gás, dona?

- Não, deve ser engano...

Conclusão da costureira (que não perde a mania de palpitar): nem com reza forte uma "empresa" dessas fica de pé, especialmente num momento de crise braba.