O Pioneiro do fim de semana mancheteou uma tendência que, espero, não seja apenas uma tendência (aquilo que tende a). Digo da crescente alteração do comportamento de algumas pessoas provocada pelos abalos da crise.
Em geral, remendar uma calça, pintar um sapato ou consertar um liquidificador eram (eram?) ações condenadas à extinção. Nada mais demodé do que gastar R$ 20 para mandar colar a tira que descolou daquela sandália de R$ 150. O consumismo galopante prega a troca do usado pelo zero quilômetros, pelo novo. Esse raciocínio faz parte da estratégia de sobrevivência do próprio modelo que adotamos para existir, mas esse modelo não será extinto só porque refizemos a cintura daquela calça porque emagrecemos ou porque engordamos um pouquinho.
Parece que finalmente a ficha do simples e da valorização das coisas, não a coisificação dos valores, anda caindo com mais frequência. Quero crer que as pessoas começam a constatar que não precisam se deixar escravizar pelo consumismo cego para seguirem sendo queridas, admiradas, copiadas, felizes. Pelo contrário, o simples tende a substituir a superficialidade dessas ondas consumistas que, ao fim e ao cabo, mais consomem a nós mesmos do que mantêm de pé um modelo rodeado de muletas.
Comprar é bom?
É, mas talvez tenha chegado a hora de tratarmos com um pouco mais de afeto aquela blusa que até anteontem nos alçava ao máximo de bem-estar.
Na crise crescemos, sem dúvida.
Oxalá o atual atoleiro sirva para compreendermos o valor do simples, em todos os sentidos. E o modelo econômico não sofrerá ainda mais se consumirmos menos?
Não, contanto que ele também se reinvente para conviver com consumidores que não entram mais em crise quando decidem não se entregar de corpo e alma às vitrines.
Opinião
Gilberto Blume: Oxalá o atual atoleiro sirva para compreendermos o valor do simples
E o modelo econômico não sofrerá ainda mais se consumirmos menos?
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