Gilberto Blume: o Leitor Fotógrafo é um respiro, e foram os leitores que deram à seção essa cara singela

Tem uma coisa que chama demais a atenção aqui na redação. É a seção do Leitor Fotógrafo, publicada diariamente logo ali à frente. Dizendo de outro jeito, não é a seção que chama a atenção, e sim a reação que a seção produz.

Qual é a reação que a seção produz?

O leitor reage ao chamamento do Leitor Fotógrafo enviando ao jornal imagens belas, notadamente de paisagens, animais, plantas, vespertinos, relâmpagos. Tudo muito telúrico, tenro, tentativas de poetar num veículo impregnado de vida real. No e-mail da seção não chega nada, ou muito pouco, da dureza que embrulha os dias num pacote explosivo contendo violência, desperdício, lixo no mato, caos no trânsito, crimes ambientais e outros artigos menos edificantes do mundo que erguemos e sustentamos.

O Leitor Fotógrafo é um respiro, e foram os leitores que deram à seção essa cara singela - cara que a imprensa não dá mais conta de reportar porque as urgências são tantas e tão variadas que as notícias são ruins, quase sempre ruins. A seção Leitor Repórter é tão disputada que nesta semana uma leitora enviou uma foto de um ipê roxo em flor. Detalhe: a florada não é deste ano, mas de setembro de 2014. A foto chegou com a seguinte informação:

"Essa foto tirei em 26 de setembro de 2014, pois neste ano o ipê não deu flores até esse momento, mas com está tão lindo esse pé carregado, não precisas publicar a data, só a foto".

Assinado: Julia Yvonne Gordon

O ipê da leitora está plantado na Rua Independência, em Caxias.

Julia foi franca, alertou que a foto é de um ano atrás e, mesmo assim, julgou que seu achado poderia encher os olhos dos leitores. Em homenagem a Julia, aos ipês, à sinceridade e sensibilidade dos leitores, a foto está publicada na página 3 desta terça.

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Leitora da área da saúde que pede anonimato rebate a fé cega que o cronista cultiva com os programas de transplante de órgãos. Eis:

"Sou doadora de órgãos, mas faço parte da campanha ‘seja doador, avise sua família, não os médicos’. Um parente foi vítima da máfia das próteses. Como vou crer que não existe a máfia dos órgãos? Não tenha tanta certeza de suas crenças."