Um leitor questionou por que na semana passada minha fotinha aí acima foi publicada com um cartaz "Eu Sou Doador".
- Porque sou doador - expliquei-lhe.
(...)
- Você não é doador? - perguntei-lhe.
- Eu não... Tu não tem medo de um dia estar no hospital mais para lá do que para cá e os médicos desligarem os aparelhos para tirar teus órgãos?
- Não, não tenho medo algum.
Não consegui convencê-lo de que essa possibilidade não existe. Argumentei, expliquei, justifiquei, exemplifiquei, nada foi suficiente para demovê-lo da crença macabra de que os médicos apressam nossa morte para se apropriar de nossos órgãos.
Então estamos assim: tem gente, e não deve ser pouca gente, que ainda nega ser doador porque teme que tenha os órgãos retirados antes do tempo.
O temor do leitor acende a luzinha amarela: a desinformação peleia solta. A brecha da desinformação é tão real quanto as filas de doentes, e as autoridades precisam ocupar o vácuo formado por preconceito e desconhecimento para esclarecer o cidadão, trazê-lo para a causa.
A Semana do Doador só tem méritos, mas a campanha é insuficiente para atrair os potenciais doadores que alimentam falsas crenças.
Já se viu? Em pleno século 21 ainda tem gente com medo de se assumir doadora porque crê que corre o risco de ser assassinada dentro de um hospital e ter os órgãos arrancados.
O leitor contra-argumentou, perguntando por que botaria fé no programa de transplantes num país em que não dá para levar nada a sério.
Que fazer diante de tal alegação? Impossível discordar do leitor, o país de fato não trata com seriedade diversos temas tão vitais quanto os transplantes.
Há setores, porém, que funcionam à revelia dos mandos e desmandos oficiais.
O programa de transplantes é um desses setores que, felizmente, parece estar livre dos desgovernos justamente porque os maus políticos ainda não conseguiram enxergar ali um trampolim para alavancar suas carreiras.
Oremos para que o programa siga colhendo bons resultados para que os preconceitos sejam vencidos.
Opinião
Gilberto Blume: em pleno século 21 ainda tem gente que teme ser morta no hospital e ter os órgãos arrancados
O temor do leitor acende a luzinha amarela: a desinformação peleia solta
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