Juventude pede projetos de inclusão social e prevenção à violência em Caxias

Primeira cena: jovens assistem atônitos à execução de um adolescente na frente de uma casa noturna, no bairro São Leopoldo.

Segunda cena: crianças e adolescentes acompanham o trabalho de policiais e peritos ao lado do corpo de um rapaz morto a tiros no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz.

São jovens testemunhando outros jovens dizimados pela violência no dia que marcou o início da Semana Municipal da Juventude em Caxias do Sul. Os dois assassinatos aconteceram no intervalo de pouco mais de 12 horas no sábado.

Confira as últimas notícias do Pioneiro

A primeira vítima tombou com um tiro na cabeça na rotatória da Avenida São Leopoldo com a Perimetral Sul, à 1h30min. Moacir Junior de Miranda Guedes, 16 anos, teria sido executado por um rapaz com que conversara horas antes, em outro bairro da cidade. O criminoso fugiu na companhia de um homem numa moto.

Moacir já havia escapado de várias tentativas de assassinato - a última foi no dia 25 de junho, quando um irmão dele, de criação, foi morto por desafetos. Desde então, temia ser o próximo. As ameaças e a rixa se prolongavam havia meses. Na madrugada de sábado, ele saiu para se divertir e topou com um conhecido que imaginava ser seu amigo.

- Não passava pela cabeça dele que esse amigo seria a pessoa que lhe mataria. Os dois haviam se falado de tarde - conta um conhecido do adolescente que pediu o anonimato por razões de segurança.

Conforme a Brigada Militar, Moacir tinha passagens como adolescente infrator. Morador do bairro Desvio Rizzo, estava afastado da escola. O sepultamento do menor ocorreu neste domingo.

Às 13h, enquanto turmas de diferentes tribos se reuniam para debater os anseios da juventude caxiense em conferência na Faculdade La Salle, Vinicius Teles de Souza, 22, foi executado com vários tiros na Rua Cristóforo Randon, próximo ao Estádio Centenário. Souza tinha passagens por lesão corporal, porte de arma e furto, de acordo com a BM. As circunstâncias do crime e a autoria não estão esclarecidas.

No final da tarde de sábado, quando as famílias das duas vítimas organizavam os velórios, rapazes e moças engajados na Conferência da Juventude na La Salle finalizaram uma lista de propostas sobre diversos temas, entre eles, o direito à segurança e à justiça. Aline Giequelin, 18 anos, participou do grupo que debateu ideias para prevenir a violência.

- Sou jovem e tenho medo de sair à noite ou até mesmo durante o dia porque não sei se vou voltar pra casa. Nós entendemos que deve haver investimento na educação. Os jovens de hoje estão sendo mortos por outros jovens. Sugerimos a implantação em Caxias do programa Juventude Viva, que é uma forma de investir na inclusão social e na prevenção - diz Aline.

O resultado da conferência deve ser divulgado na segunda-feira. Algumas propostas serão encaminhadas para o Executivo de Caxias do Sul. Outros assuntos serão levados para discussão num encontro estadual.

Números

Desde o início do ano, 56 pessoas foram assassinadas em Caxias. Pelo menos 25 delas tinha 30 anos ou menos.