O Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza celebra 85 anos fiel à via crúcis imposta à educação brasileiras. Algumas coisas funcionam bem, outras funcionam mal, algumas nem funcionar funcionam. O colégio Cristóvão leva o nome de uma das figuras mais fascinantes do passado da região. O boliviano Cristóbal de Mendoza Orellana, o nosso Cristóvão, teve vida rica e movimentada. Nasceu e morreu em regiões serranas (Santa Cruz de la Sierra, 1590 - Santa Lúcia do Piaí, Caxias, 1635). Ordenado jesuíta contra a vontade dos pais, bateu pernas pela latino-américa trabalhando nas missões. Dizem que ele introduziu o gado na região das Missões do RS e fundou a Redução de São Miguel Arcanjo, um dos Sete Povos das Missões do Rio Grande do Sul.
Além de catequizar índios, Cristóvão se aventurava com tropeiros. Foi numa trilha tocando gado que se deu uma das mais trágicas e belas histórias do então Campo dos Bugres, a atual Caxias. O religioso e seus companheiros foram emboscados por índios numa mata da atual Santa Lúcia do Piaí. Dizem que o ataque se deu à traição por um índio que o acompanhava. Cristóvão foi martirizado, trucidado, partido em pedacinhos. O corpo foi abandonado numa fonte para ser traçado pelas feras silvestres. A fonte é a atual Água Azul, ainda hoje um dos lugares naturais mais aprazíveis do ex-Campo dos Bugres.
A história, está óbvio, espera que um bom roteirista a transforme em filme.
A história do Colégio Cristóvão é um pouco a história do Brasil. Seja nas conquistas, seja nas dificuldades, andamos às vezes céleres, às vezes claudicante. Imaginem, o Cristóvão, a escola, está há dois anos com seu belíssimo auditório trancado porque o governo não providencia os consertos que o tornem seguro.
O Plano de Necessidade de Obras (PNO), lançado com pompa em 2012 pelo governo Tarso Genro com a promessa de reformar mil escolas gaúchas, jamais saiu plenamente do papel. Na sexta, o governo Sartori lançou novo programa de obras.
O jesuíta Cristóvão, embora tenha tido um passamento pouco invejável no longínquo século 17, tem a memória firmemente preservada lá na Água Santa. Os índios de hoje são mais ferozes que os índios de séculos atrás - e nós, mais vulneráveis a traições.
Opinião
Gilberto Blume: os índios de hoje são mais ferozes que os índios de séculos atrás. E nós, mais vulneráveis a traições
Seja nas conquistas, seja nas dificuldades, andamos às vezes céleres, às vezes claudicante
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