O Lula falou o que muita gente vem dizendo há tempos: o PT acabou. Aquele PT revolucionário que cresceu aos poucos vendendo sonhos e que chegou ao poder e que hoje vende a mãe para permanecer no poder, esse PT acabou. Acaso você conhece alguém disposto a empunhar uma bandeira vermelha com a estrela petista e ir para a rua sonhar com educação, segurança, saúde, dignidade? Se você conhece essa pessoa me apresente-a, por favor.
O PT cresceu e venceu eleição após eleição dizendo o que o brasileiro queria (e precisava) ouvir. Nos anos 1990 e 2000 fomos convencidos de que o PT traria um novo país à tona. Milhares foram às ruas. Muitos outros milhares duvidaram da promessa, votaram contra os sonhos, mas isso é do jogo. A maioria, porém, depositou o próprio futuro no PT. Treze anos depois e com mais três de mandado pela frente, o governo do PT não melhorou a educação básica, não melhorou a saúde, não melhorou a segurança.
A dignidade prometida, pois, também não aconteceu.
O sonho segue sonho.
O desabafo de Lula talvez seja o acontecimento político mais relevante deste ano. Noves fora a corrupção e as suspeitas que recaem sobre o próprio ex-presidente, Lula sacudiu o partido que fundou. Mais, Lula sacudiu, ou deveria ter sacudido, o sistema político brasileiro. Quem, de fato, crê que outros partidos teriam concretizado nossos sonhos caso tivessem ocupado o Planalto no lugar do PT. As declarações de Lula caem bem, pois, para todos.
Não sejamos ingênuos a ponto de crer que outros grupos partidários teriam dado jeito no país. Lembremos sempre que praticamente todos os partidos tiveram a oportunidade de concretizar nossos sonhos, mas nenhum concretizou-os. Todos, invariavelmente todos, foram incapazes ou incompetentes.
O caso PT torna-se especialmente emblemático porque o partido empunhou como nenhum outro a bandeira da retidão e do bom charadismo, ambas qualidades que resultariam em dignidade para o povo.
De novo não foi desta vez. O grande drama é olhar para adiante e não enxergar alternativa convincente ao PT. Politicamente, recuamos à estaca zero, com todas as consequências que esse recuo representa.
O próximo sonho, por favor.