Há alguns dias, a minha mãe me disse que não a escutava mais como antes. Mas como? Se almoço todos os dias na casa dela?
Não faz muito tempo, o Leonardo, meu marido, me disse que estou trabalhando demais e que preciso repensar os meus horários para ficar mais com a família.
Ontem, a professora do Gabriel, cinco anos, me avisou que o menino anda sentindo muito a minha falta. A turma fez uma homenagem ao Dia das Mães, colando uma foto na porta da sala de aula. E cada pouco ele ia lá me beijar.
O problema é que tento dar atenção para todo mundo, mas talvez nunca seja o suficiente. Reconheço que nos últimos 10 dias tenho trabalhado muito, inclusive em casa. Numa destas noites, o Gabi acordou à 1h, fiquei ao lado da cama com ele e li historinhas escolhidas por ele. Pensei que esse carinho era o bastante, mas me enganei.
Hoje, tive a impressão de que a infância dele está passando mais do que depressa e que estou perdendo muito disso. Até que ponto trabalhar bastante para dar a ele o que me pede é saudável? Se o que deseja é apenas mais tempo para ele?
Em um dia desses, assisti um filme, o Interstellar, em que os personagens viajavam para vários planetas. Em um deles, tanto o dia quanto a noite tinham 67h. Nossa! Eu precisaria destas horas a mais para mim. Como seria bom para tudo o que tenho para fazer: conseguiria ir na academia todos os dias; arrumaria a casa; trabalharia 8h no jornal, sem contar os extras que poderia fazer e sem ter que ficar de madrugada; poderia ir no médico, sem me preocupar em voltar correndo porque já é a hora do almoço; fazer as refeições em família, sem precisar ficar de olho no relógio; levaria o Gabriel na escola e ainda teríamos tempo para brincar; etc.
Está chegando o Dia das Mães, e, além de genitora, também preciso ser filha, esposa e mulher! A ficção ficou só no filme, para mim, me restam as 24h. A solução é priorizar e ir fazendo conforme consigo.
É complicado, mas é preciso. Nós mulheres ainda cuidamos do corpo e da saúde, além de estar com um sorriso emplacado, disposição e bom humor. Quantas mulheres passam por situações parecidas?
Opinião
Marcia Dorigatti: os dias deveriam ter 67 horas como na ficção
O problema é que tento dar atenção para todo mundo, mas talvez nunca seja o suficiente
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