Dizem que o ano começa depois do Carnaval. No tradicionalismo, o ano já começou há muito tempo, pois é no verão que explodem as festas campeiras e os rodeios. E, se 2015 se mostrar como o ano que passou, muito ainda vai se falar sobre assuntos ligados ao gauchismo: tiro de laço é cultura ou esporte? O MTG pode punir filiados? Casamento gay em CTG, pode? Shana Müller levantar a bandeira do Brasil durante show é desmerecer o Rio Grande?
Polêmicas vêm e vão, é verdade, mas há um assunto pendente que parece nunca tomar a forma e ganhar a repercussão que merece: a cultura rio-grandense nas escolas.
Por que assuntos ligados aos aspectos do Rio Grande do Sul são temas do currículo escolar apenas durante a Semana Farroupilha?
Por que, no resto do ano, os únicos responsáveis por levar nossas tradições à comunidade escolar são prendas e peões durante oficinas?
Por que a cultura do Rio Grande é tratada como uma modalidade à parte, como se não pertencesse a todos e sim a um grupo?
Apontem-me uma criança que não tenha sido "criada no campo", como dizemos popularmente, que saiba dizer o que é uma saracura, siriema ou jacu, todas aves silvestres do nosso Estado. Ou que ao escutar as palavras "guaranis", "pampianos" e "kaingangs" as relacione com as tribos indígenas do Estado. Fazem parte "de quem é gaúcho" ou de todos nós? Não me refiro a gostar de usar bombacha, ir a rodeio ou dançar em CTG. Vamos além: nossa história, nossa fauna, nossa flora, nossas peculiaridades.
Aliás, a cultura gaúcha está mais perto do que se imagina: garanto que pelo menos metade dos "17 leitores" de Gilberto Blume que porventura venham a ler esta coluna são adeptos do chimarrão, ainda que nunca tenham vestido uma bombacha. Ou já bradaram que estavam "em cima do laço" referindo-se a algum atraso, mesmo sem nunca terem laçado uma rês. Duvido que não tenham orgulho ao cantar o hino do Estado, mesmo que a música gaúcha não seja a sua preferida. Viu? Tu és mais gaúcho do que imaginas.
Para finalizar, me permitam um desabafo: ontem completei dois anos como repórter do Pioneiro e, no mesmo dia, fez-se um ano da morte de um gaúcho de primeira. Manoel Duarte de Lucena Teixeira, meu Tio Maneco. As campereadas na Passo da Areia nunca mais serão as mesmas.
Tradicionalismo
Manuela Teixeira: por que a cultura gaúcha é tratada como se não pertencesse a todos?
A cultura rio-grandense nas escolas é um assuntos que precisa tomar forma
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