A inexistência de debates e as decisões verticais, por decreto, não recaem somente sobre a troca de endereço de desfiles de Carnaval e de Feiras do Livro. Nossos governantes são hábeis em inventar regras e enfiá-las goela abaixo do cidadão, tudo tão naturalmente como se pedissem "alcance o saleiro, por favor".
O ano de 2015 começou com um golpe desferido abaixo da linha da cintura do brasileiro. Pouco se falou, mas no dia 30 de dezembro, no meio das festas, a presidente Dilma publicou em edição extra do Diário Oficial da União a Medida Provisória 664/2014.
A MP 664/2014, conforme o próprio nome indica, é a regra de número 664 que o governo inventa sem consultar ninguém.
Publique-se e cumpra-se, ordena Dilma, a mandona.
A MP 664 é particularmente cruel. Essa MP, que de provisória não tem nada igual às outras 663, atinge em cheio o bolso e, particularmente, a dignidade do brasileiro. Resumo da ópera: a tal MP determina que a viúva do aposentado brasileiro passa a receber somente 50% do valor que o morto recebia da Previdência Social. Traduzindo, a brasileira perde o marido, o que já não é pouco, e ainda precisa se virar com os miseráveis caraminguás que a Previdência Social paga. Traduzindo mais, o benefício do aposentado, previsivelmente muito aquém do que seria justo, fica reduzido pela metade quando ele morre.
É vergonhoso como o governo trata o trabalhador, o aposentado, o brasileiro.
A argumentação que tenta justificar essa MP lançada quase secretamente na virada do ano é que o governo precisa estancar o rombo na Previdência.
É golpe.
Essa história de desferir facadas no peito do cidadão com a desculpa de estancar rombo aqui, rombo ali está pra lá de desgastada. Dias antes, os parlamentos de todo o país aprovavam reajustes salariais para milhares de políticos. Na semana passada, o mesmo governador Sartori que tanto discursa que é preciso poupar autorizou bons reajustes para cargos públicos.
Opinião
Gilberto Blume: Alguém aí se anima a convencer a viúva empobrecida de que ela precisa ajudar o país?
Publique-se e cumpra-se, ordena Dilma, a mandona
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