Cerca de 50 pessoas se reúnem na Catedral Diocesana de Caxias do Sul mensalmente, desde agosto, para facilitar o processo do luto e compartilhar a dor com quem vivencia a mesma situação. São integrantes do Grupo Palavras de Esperança, coordenado pelo padre Leomar Brustolin, pároco da Catedral, e que conta com suporte de mais um sacerdote e cinco psicólogas.
Os organizadores leem trechos bíblicos e explicam dúvidas que católicos têm sobre a morte: se é possível encontrar o morto em outro plano, se seremos julgados, se existe ressurreição. Os padres executam ritos como acender velas, colocam som ambiente com músicas sacras e convidam os participantes a depositar o nome do falecido nos pés da imagem de Nossa Senhora.
- Ritualizar faz bem. Firma a identidade espiritual, ajuda a enfrentar a divisão da morte e a vida - explica o padre Leomar.
Ainda que o encontro tenha viés espiritual, há embasamento científico para responder questões comportamentais, como as fases em que o luto se expressa e o que deve se evitar dizer a alguém que perdeu um familiar, por exemplo. Os profissionais conduzem a conversa sem pedir que alguém conte o porquê está na reunião. Não é preciso nem se identificar. O desabafo, caso necessário, acontece de forma reservada com psicólogos ou padres e pode durar o tempo que for necessário.
- O luto tem prazo de alguns meses para acabar e é um processo importante de transição. Na psicologia, percebemos que é importante que a pessoa tenha uma crença e externe o sofrimento_ explica a psicóloga Fabiane Pasa, uma das responsáveis pelo atendimento ao público.
Para participar dos encontros não é necessário inscrição. O próximo está agendado para 8 de novembro, das 10h às 11h30min, no espaço Mater Dei, na Catedral. O serviço é gratuito e não é necessário comparecer em mais de um encontro, mas é livre para quem deseja repetir.
A aposentada Miriam Bortolon Piccoli, 70 anos, integra os encontros desde que perdeu o marido, o professor José Vitório Picoli, aos 80 anos. Ele travou uma luta de mais de um ano e meio contra a leucemia. Miriam se despediu dele no hospital na fria madrugada de 4 de julho. Ele morreu dormindo.
Mesmo três meses depois da perda do companheiro, a aposentada diz que ainda conversa com ele mentalmente e se flagra com a foto dele no colo. Diz que segura o porta-retratos apertado contra o peito, dá até beijos, mas, agora, não se condena quando age dessa forma:
- Eu extravaso e depois sigo a rotina normalmente. Faz bem pra mim e pra quem convive comigo. O mundo ao redor continua girando e é preciso seguir a vida.
QUAIS PALAVRAS NÃO AJUDAM A SUPERAR O LUTO?*
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