Marcus Vinícius de Oliveira, 28 anos, morava com Henriette Vaccari há algumas semanas no apartamento do centro de Caxias do Sul. Na manhã desta segunda-feira, ele conversou com o Pioneiro durante o velório da ex-princesa da Festa da Uva. Oliveira diz ser lenhador numa fazenda e conta como foram as últimas horas de Henriette.
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O que Henriette foi fazer na Europa?
Foi trabalhar ou passear, um negócio assim, ela não me contou.
O senhor a conheceu antes de ela ir para a Europa?
Não, conheci depois que ela voltou. Há uns 20 dias, nem isso. Não fazia 20 dias, acho, eu estava morando com ela.
O que o senhor preparou de jantar para ela no sábado?
Fiz arroz com cebolinha verde, salsinha, cebola, daí fiz uma carne assada com uma costela. E uns dois pedacinhos de carne de porco, para mim, porque ela não comia carne de porco.
E ela tomou todas essas bebidas que foram noticiadas?
Ela começou a tomar às quatro da tarde. Ela tomou um litro de vinho das quatro até umas nove horas, e depois se atirou a tomar cerveja. Daí ela foi na cozinha, eu tava fazendo o jantar, ela foi lá me deu um beijo, disse que me amava, tava gostando de mim. Ela falou que ia tomar mais dois remédios e ia dormir. Eu falei "não toma que tu estava tomando álcool". Ela: "não, esse aqui é pro sono, esse aqui o álcool não atrapalha". Pegou, tomou e foi dormir. Eu fui lá, dei um beijo nela, ela estava acordada ainda. Daí às três horas da manhã ela me acordou, me chamou: "pega uma água para eu tomar, faz favor. Vou tomar mais um remédio". Daí eu levantei, peguei um litro de água fora do gelo, água com gás, que ela tomava. Dei para ela, no copo, ela não tomou nada de remédio, só tomou água e deitou. Daí eu fui para a sacada ver o facebook. Voltei umas seis horas, tava clareando o dia. Bom, vou deitar do lado da minha mulher. Eu deitei do lado dela, dei um beijo aqui nas costas, dei um beijo no rosto, fui dar um beijo na boca e não senti nada. Acendi a luz, fui no banheiro. Quando voltei, ela estava morta. Daí peguei e liguei para o meu irmão para ver o que tinha que fazer. "Tu liga para o Samu, liga para polícia" (disse meu irmão). Foi o que eu fiz. Ela morreu entre as 3h30min e as 6h.
O senhor tem passagem pela polícia, correto?
Tenho, mas isso aí é coisa minha, do passado.
O senhor está em tratamento contra drogadição?
Não.
O senhor disse que esses hematomas surgiram lá na Europa. Não foi o senhor que fez isso aí?
Não fui eu. A tia dela mesmo falou que ela caiu da escada lá na Europa, mas aquilo lá não foi escada, aquilo lá foi "espanco", espancaram ela. Ela me disse que apanhava do namorado que era dependente químico lá na Europa, e o cara está lá. Filho de uma médica que ela roubou uma receita para conseguir esses remédio antidepressivos.
Como os senhor descreve os últimos dias da Henriette?
Muita alegria. Quando eu a conheci, ela tava todo dia pinguça. Eu fiz diminuir o trago dela. Ela tomava um fardinho de cerveja latão por dia. Eu fiz ela começar a tomar cinco, seis latas por dia. Ela não comia, não comia fruta, nada. Eu ia no mercado, ela me deu o cartão dela com a senha e tudo. Eu comprava tudo que era para comer, comprava fruta, comprava verdura, ia na farmácia, comprava remédio para ela, ligava para ela pedindo "que que tu precisa, amor?" Comprava tudo, ela estava feliz, saía comigo de mão dada, tudo.
O senhor fornecia drogas para ela?
Não, ela nunca usou drogas. No caso, da minha parte, nunca dei nada, entendeu? Eu fumo só maconha, e maconha não é droga.
Como foram as últimas horas?
Ela nem jantou, só deitou no colchão e foi dormir. Daí às 3h que ela me acordou para pegar uma água para ela, que ela estava ruim, com sede.
Ela tinha dinheiro para sobreviver?
Que eu sabia, que ela me contou, ela recebia os aluguéis que seriam da loja embaixo e do último andar em cima. Era de três andares o prédio. No caso, ela morava no segundo, o primeiro que era da tia dela estava para alugar, e o de cima ela recebia o aluguel, mais do térreo, que tinha a loja. Daí ela recebia o aluguel. Em média, mil reais, ela sobrevivia com isso um mês inteiro.
O senhor está com os documentos dela. Vais entregá-los aos familiares?
Não, eu entreguei só o cartão de crédito e a senha. Sempre ficava comigo na carteira, eu saí, no caso, deu aquela turbulência toda no dia que aconteceu, eu nem me liguei. Daí ontem eu não tinha nem para onde ir nem nada, daí eu liguei para uma amiga minha do facebook, daí contei para ela tudo, daí até vou te mostrar aqui no face...
O senhor conheceu a ex-princesa no calçadão?
De dia, ela estava dura de bira.
Como é que vocês se conheceram?
Ela chegou do meu lado e sentou. Eu estava sentado, fumando cigarro. Ela sentou do meu lado, e eu olhei para ela:
"Bah, tu não tá legal, moça".
"Não, eu tô enchendo a cara".
"Mas não faz assim, uma moça bonita, e uma moça bonita não merece isso".
"Não, mas eu tô com muitos problemas na minha vida, então pra esquecer tem que ser assim".
Entrevista
Companheiro relata os últimos momentos da ex-princesa da Festa da Uva encontrada morta em Caxias
Henriette Vaccari conheceu Marcus Vinícius de Oliveira na Praça Dante Alighieri duas semanas antes da morte
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