Gilberto Blume: eu queria perguntar ao bandido que arrombou a Criança Feliz: por quê?

Não é de hoje, os contrastes que promovemos sempre são as pegadas mais marcantes que deixamos. Tantas e tantas vezes os contrastes que promovemos são negativamente chocantes. O contrário também é verdadeiro, mas estamos deveras carentes de promover contrastes positivos que deixem bons rastros por aí.
Cicatrizes sempre são mais visíveis porque chocam mais ou porque prevalecem na nossa lista de feitos?

>> Em dia de celebração, prédio da Associação Criança Feliz, em Caxias, é arrombado

Num presídio de Chapecó os presos rebelados decapitaram dois colegas de cadeia e lançaram os corpos sem cabeça telhado abaixo. As decapitações paranaenses são tão chocantes quanto as decapitações transmitidas por satélite direto do Oriente Médio.
Se a ficha ainda não caiu, a globalização encurta tudo, de distâncias à informação.
A globalização, pois, banaliza também o horror.

Aqui, bem pertinho, ali no São José, bandidos arrombaram a escola infantil da Associação Criança Feliz. Gente, como pode alguém arrombar uma escola que vive de donativos e que ajuda crianças pobres?

Só decapitando, certamente alguém sugerirá.

Não é por aí, porém.

Eu gostaria muito de ter a oportunidade de perguntar ao bandido que arrombou a Criança Feliz:

- Por quê?

Eu também gostaria muito de ter a oportunidade de perguntar ao pai e à mãe do bandido que arrombou a Criança Feliz:

- Por quê?

Há, felizmente, muitas ações que servem de anteparo, que buscam mitigar o erro e, quiçá, reverter quadros pessimamente pintados.

Uma dessas ações tem por endereço a Penitenciária Industrial de Caxias do Sul, a Pics. O Projeto MC pela Paz - Multiplicadores da Cidadania leva à cadeia todas as terças-feiras música, dança, grafite, discotecagem, conhecimento aos apenados jovens.

O pacote todo vai embrulhado até a Pics pelo hip hop, linguagem amplamente empregada pelos jovens, criminosos ou não.

A cena é tocada por Jankiel Chiquinho, respeitado batalhador da inclusão social.

Ninguém duvida, há boas práticas acontecendo por todos os lados, mas a força da pegada negativa muitas vezes ainda as neutraliza.