Os olhos de Kira estão atentos a cada movimento do soldado Wagner da Rosa Leite, 40 anos. Ao comando dele, a pastor-alemã de dois anos senta, deita, percorre túneis e pula arcos. Mas é uma bola cinza mostrada por Leite à cadela que faz Kira ficar excitada. Ele esconde a bola embaixo de uma caixa. Kira dispara, procura a bola. Quando encontra, olha para o treinador, abana o rabo. A cadela ansia pelo prêmio: Leite levanta a caixa, atira a bola e ela corre atrás. Parece uma brincadeira, mas não é. Kira está sendo treinada para farejar entorpecentes. A bola contem o odor de diversos tipos de drogas.
>> VÍDEO: A visão do suspeito e do cão policial durante ação da BM
>> VÍDEO: Cão policial especilista em faro faz demonstração
>> FOTOS: confira mais fotos do treinamento no canil da BM de Caxias
Kira é um dos 17 cães do canil do 12º Batalhão de Polícia Militar, localizado no bairro Kaiser de Caxias. Ali, os animais são treinados para o faro de explosivos, droga e trilhas, e também patrulhamento e policiamento ostensivo, chamado também de choque. Os cães não são treinados para todas as funções. Quando eles chegam no canil, são avaliados e designados para os serviços que mostram aptidões.
Kira, por exemplo, atua também no patrulhamento e já conta com uma missão importante no currículo: participou da intervenção ao presídio de Bento Gonçalves, em abril, quando detentos colocaram fogo no prédio.
- Entramos com os cães no colo ou nas costas. Tinha fogo no chão. Depois, soltamo-os para que fizessem o trabalho deles - conta Wagner.
Os cães do canil são comprados ou doados. Quando comprados, eles vêm de linhagens de pais e mães que atuam na polícia ou em competições de Schutzhund, uma modalidade esportiva que aprimora técnicas de adestramento, como faro, obediência e proteção.
Normalmente, o cão chega no canil com 60 dias e já começa a ser estimulado pelo treinador. Com dois anos, o adestramento está completo e o animal está pronto para o serviço. Aos três anos, é quando ele atinge o auge da própria capacidade.
As características das raças também são levadas em conta. O Dobermann é um cão para proteção e guarda. Rottweilers são treinados para patrulhamento e operações de choque. Já o pastor-alemão e o pastor belga são os que têm mais energia: chegam a trabalhar 20 horas em uma operação.
- Sessenta por cento do que um cachorro é está na genética dele - completa o Sargento Antônio da Costa, comandante do canil.
Para treinar os cães, os policiais participam de um curso de habilitação técnica de 45 a 60 dias. Além dele, Marcos Daniel Bündchen, 32 anos, possui um treinamento de figuração feito na Sociedade Brasileira de Criadores de Pastor Alemão.
Durante o treinamento do animais de choque, ele surge vestido com uma jaqueta e calças de borracha que pesam 9kg e que quase não permitem que abaixe os braços. É Bündchen quem oferece os braços e pernas para os cachorros morderem.
- O cachorro morde por natureza, mas temos que ensiná-lo a morder usando toda a boca, inclusive os dentes de trás. É isso que vai fazer com que o criminoso fique imobilizado. Se ele usar só os dentes da frente, vai machucar, mas o bandido vai conseguir escapar. Eu ensino o momento exato em que o cão deve morder e ofereço o braço de forma que ele consiga fazer isso corretamente, usando toda a boca - explica.
Bündchen é também o treinador de dois cães: o experiente Thor, de seis anos, e o novato Kairo, de apenas um. Daqui a dois anos, Thor irá se aposentar. É o tempo que Kairo precisa para concluir o treinamento e estar pronto para o trabalho. Thor encerra a carreira contabilizando sucessos: foi ele, por exemplo, quem ajudou a localizar os assaltantes de uma fábrica de jóias em Fagundes Varela, escondidos em uma mata de Cotiporã, em 2012. O merecido descando será ao lado do seu treinador. O cão será adotado por Bündchen.
Adestramento
Cães da polícia militar são treinados em Caxias para operações de choque e faro de drogas e explosivos
Canil do 12º BPM possui 17 cachorros
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: