O goleiro Bruno Ferreira, 29 anos, chegou sob o olhar desconfiado do torcedor grená. Afinal, assumiria a vaga de André Lucas, um dos protagonistas da campanha na Série D do Brasileirão, classificando o Caxias em duas decisões por pênaltis. A dúvida era direta: será que o jogador que vem sem atuar no Náutico vai ser melhor do que quem permanece aqui?
Bastou uma rodada para Bruno começar a ganhar os aplausos da arquibancada do Estádio Centenário. Conseguiu a afirmação e é um dos melhores da posição no Campeonato Gaúcho. O novo camisa 1 de Thiago Carvalho não é um goleiro de provocar adversários ou criar polêmicas. Ao contrário, de personalidade tranquila fora das quatro linhas, ele não gosta nem de zoar os colegas no vestiário. Mais família, prefere a calmaria da Serra Gaúcha e seus bons restaurantes.
Bruno revela que não queria sair de casa para começar a carreira de jogador, mas a família deu o apoio necessário para o primeiro passo além de São Paulo, sua cidade natal.
— Falaram para eu acreditar no meu sonho, que poderia me tornar um grande jogador. Sem eles talvez não estaria nem aqui hoje. Comecei na escolinha do São Caetano, até o meu tio conhecer o empresário que me levou para o Bahia. Depois fui para o Náutico, onde fiquei um ano na base e ingressei no profissional — contou o goleiro do Caxias.
Por 10 anos, Bruno esteve no Náutico. No Estádio dos Aflitos, ele vivenciou a montanha-russa do futebol. Em 2018, entrou em campo em 40 jogos com a camisa do Timbu. Foi campeão estadual com a Arena Pernambuco lotada, o terceiro maior público da história, com 43.352 torcedores. O título veio com vitória por 2 a 1 sobre o Central.
— A torcida me valorizou bastante, como aqui. Pude ajudar o time depois de 13 anos sem ganhar um título pernambucano. Joguei na Arena Pernambuco lotada. Apesar de ser contra o Central, foi bem difícil. Ajudei a equipe com grandes defesas nos dois jogos e espero que se repita em uma Arena padrão Copa do Mundo — contou Bruno, que também viveu o drama do rebaixamento do time em 2022 à Série C do Brasileirão.
O SONHO VIROU PESADELO
Bruno tem como ídolo no futebol um pentacampeão com a seleção brasileira. Marcos é sua inspiração nas traves. O arqueiro do Caxias chegou a jogar no futebol europeu. Contudo, o sonho de todo o atleta se tornou um pesadelo. Primeiro defendeu o Gil Vicente, na primeira divisão portuguesa, em 2019. Depois foi para o Vilafranquense, em 2021, na segunda divisão do mesmo país.
— Era um sonho realizado jogar na Europa, mas as coisas não aconteceram como eu queria. Tive lesões e não me adaptei bem ao futebol de lá. É um país maravilhoso, cultura maravilhosa, mas no futebol foi bem difícil. Tive começo de depressão, pois não estava feliz. O que eu mais gostava na vida não sentia prazer. A sorte que tive amigos, a minha esposa e meu filho para ajudar — relembra.
Bruno chegou ao Velho Continente com uma lesão na panturrilha e sentia muita dor. Segundo ele, em Portugal não se treinava muito e as atividades são diferentes. O jogador afirma ser um goleiro que precisa treinar bastante para estar bem na parte física. Por outro lado, foi lá que Bruno aprendeu a jogar com os pés:
— Fazíamos quase todo o dia isso, acho que o pessoal esquecia que tinha que treinar o goleiro para defender, era muito trabalho com os pés. Mas tudo tem um propósito e acrescentou ao meu jogo, pois aqui no Brasil fazia muito pouco. Hoje está bem mais.
RECOMEÇO E A BUSCA DO BI
Após seu contrato com o Náutico terminar, em dezembro passado, Bruno viu que era a hora de buscar novos ares. E os ventos da Serra Gaúcha foram certeiros para dar um novo rumo na carreira do jogador. Também no Estádio Centenário, ele encontrou profissionais que trataram uma lesão nas costas, que o incomodava desde o tempo de Portugal.
— Foi a pior lesão que tive, não me tirava do treino, mas não deixava treinar bem. Acho que me prejudicou na volta para o Náutico depois de Portugal. Não sabia o que causava e o que fazia para tirar a dor. Mas aqui o clube tem um fisioterapeuta que é osteopata e está me ajudando bastante. Todo dia passo lá, e hoje jogo bem e estou feliz. Espero que essa lesão nunca mais venha me atormentar — explicou Bruno Ferreira.
Futebol é maravilhoso pois te dá estas oportunidades. Um ano você tem um rebaixamento (no Náutico) e no outro uma final e Gauchão.
BRUNO FERREIRA
Goleiro do Caxias no Gauchão
No sábado, às 16h30min, na Arena do Grêmio, Bruno estará sozinho em uma das goleiras da casa gremista ouvindo 50 mil vozes contra dois mil grenás. Mas para o jogador que já enfrentou a montanha-russa do futebol, maturidade é a palavra para superar a adversidade.
— Futebol é maravilhoso pois te dá essas oportunidades. Um ano você tem um rebaixamento (no Náutico) e no outro uma final de Gauchão. Estamos preparados psicologicamente, já que é bem difícil para um goleiro jogar depois de um campeonato que não tive oportunidade no ano passado — disse Bruno, que fala sobre enfrentar o Tricolor de Suárez:
— É um jogador de Copa do Mundo, conhecido mundialmente, já ganhou a Champions League. Aquela batida dele foi muito rápida na estreia, no gol da vitória deles. Achei que a bola ia para fora. Jogador muito inteligente, só dá um toque na bola.
PÊNALTIS
No Caxias, Bruno se revelou um pegador de pênaltis. Defendeu uma cobrança na estreia contra o Grêmio, fez uma segunda defesa diante do Inter, partida de ida da semifinal do Gauchão, e um na volta, na decisão por pênaltis. Mas no antigo clube, ele era muito cobrado neste quesito.
— Tive duas decisões contra Santa Cruz e Sport, os maiores rivais do Náutico, e não consegui pegar nenhum pênalti. Fui bastante cobrado por isso. Mas aqui, com o trabalho do Everson, preparador de goleiros, e da análise de desempenho, tenho conseguido acertar os cantos e estou sendo feliz nos pênaltis — finalizou.