Quem acompanhou as Paralimpíadas de Tóquio deve ter percebido que atletas com deficiência auditiva não participaram de nenhuma modalidade da competição. Isso ocorre porque os surdos têm um evento internacional dedicado somente a eles: as Surdolimpíadas, disputa multidesportiva que será sediada em Caxias do Sul, de 1º a 15 de maio de 2022. Os organizadores do evento, que precisou ser adiado em razão da pandemia, se mobilizam agora para captar patrocinadores dispostos a investir na competição.
De acordo com o presidente interino do Comitê Internacional de Esportes para Surdos (ICSD), entidade responsável por eventos desportivos internacionais para surdos, Gustavo Perazzolo, a estimativa é de que sejam necessários entre R$ 3 e 4 milhões em investimentos para a realização da competição, que terá como sede principal Caxias do Sul, mas também teve provas em Farroupilha. O recurso, segundo ele, servirá para melhorias e adaptações de alguns dos espaços utilizados para as Surdolimpíadas, além da compra dos equipamentos esportivos que serão utilizados nas provas e que ficarão como legado do evento para a comunidade surda de Caxias e região.
Perazzolo cita como exemplo a compra de caixas para a queda de saltos e também para arremessos do atletismo - modalidade que deverá ser sediada no Complexo Esportivo do Sesi. Além disso, os alvos eletrônicos para a prática do tiro esportivo também precisam ser adquiridos para o Clube Caxiense de Caça e Tiro, que apoiará a realização da modalidade.
— Um dos motivos que fez Caxias ser escolhida como cidade-sede é a sua excelente infraestrutura e os vários pontos de apoio. Por isso, não é necessário investir em obras de mobilidade, por exemplo, como foi feito em outras cidades que sediaram as Surdolimpíadas. Nesse aspecto, estamos bem avançados — explica ele, em entrevista ao Pioneiro realizada com a ajuda do intérprete em Libras Richard D. Ewald, que também é secretário-executivo da ICSD.
Ainda de acordo com Perazzolo, empresas da região e companhias internacionais estão sendo consultadas para que conheçam mais sobre a competição e saibam como apoiar. Sobre os investimentos públicos, os organizadores da Surdolimpíadas se reuniram no início de agosto com o governador Eduardo Leite (PSDB). No encontro, foi sinalizada a possibilidade de apoio financeiro do Banrisul. Além disso, a ICSD pleiteia o retorno do patrocínio da Caixa, que estava programado se o evento fosse realizado no final deste ano, data inicialmente programada, mas que acabou retirado sob a justificativa de falta de orçamento da instituição financeira.
— Nem sempre o recurso é somente dinheiro, e pode ser que o patrocínio seja para a equipe brasileira e não para o evento propriamente dito. O apoio e a agilidade dos serviços públicos são tão importantes quanto o aporte financeiro. Nesse momento, essa é a maior contribuição do Governo Federal para a Surdolímpiada, mas certamente estaremos evoluindo para uma parceria maior.
Outro assunto que foi tratado internamente pelo comitê foi a sugestão da Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS) de trocar a cidade-sede das Surdolímpiadas e levar o evento para o Rio de Janeiro. Segundo o órgão, sob a justificativa de que a logística seria facilitada. Perazzolo confirma que a ideia circulou nos bastidores, mas não prosperou porque Caxias possui contratos firmados com a ICSD, foi escolhida por um colegiado da entidade internacional, além de outros acordos estabelecidos que a tornaram sede da competição do ano que vem.
— Foi algo que surgiu, mas prontamente inviabilizado porque não tem sentido. Não há motivos para trocar a cidade-sede e vamos manter exatamente o que estava decidido. Estamos bem alicerçados. Esses boatos de troca sempre ocorrem em competições assim no mundo todo.
A expectativa dos organizadores é atrair 15 mil pessoas vindas de todo o Brasil e do mundo. Até o momento, estão inscritos 6.100 surdoatletas, vindos de mais de 100 países, que participarão de 21 modalidades esportivas. A competição tem também um mascote: um quati, desenhado por Ezequiel Becchi, 17 anos, estudante da Escola Estadual de Ensino Médio São Rafael, de Flores da Cunha
Essa não será a primeira competição que Caxias sedia para a comunidade surda. A cidade também apoiou a realização da primeira edição dos Jogos Sul-Americanos de Surdos, em 2014, e do Campeonato Mundial de Handebol de Surdos, em 2018.
Mudanças na organização
No mês passado, a organização da Surdolimpíadas foi modificada, a partir da saída da Universidade de Caxias do Sul (UCS) como membro do comitê. A instituição, que foi uma das entidades que liderou a vinda do evento para a cidade, alegou conflitos legais em se manter na organização, mas afirmou que segue como patrocinadora e com as suas instalações à disposição para a realização da competição.
A nova coordenação tem agora a vice-prefeita de Caxias do Sul, Paula Ioris (PSDB), como Presidente de Honra. Ela, ao lado de Perazzolo e Richard D. Ewald, são os responsáveis pelas questões administrativas da competição.
— Temos o maior interesse nas Surdolimpíadas e estamos apoiando para que consigamos atrair patrocinadores de diferentes segmentos. É um evento de inclusão, de esporte, que movimenta a economia e o turismo. Vamos apoiar com toda a estrutura necessária — afirma Paula.
Já a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Smel) ficará responsável pela parte técnica de todas as 21 modalidades da competição. Segundo o secretário Gabriel Citton, servidores, estagiários e voluntários serão mobilizados para acompanhar os jogos, registrar os resultados, organizar a classificação, entre outros trâmites. A coordenação da arbitragem também ficará sob a responsabilidade da Smel.
Além disso, a escolha das arenas e o acompanhamento dos locais de competição estão sendo definidos pelo comitê. Citton explica que a estrutura da UCS será a mais utilizada, mas outros locais, como o Centro de Iniciação ao Esporte (CIE), instalado no bairro São Caetano, também terá provas ou poderá ser um local para treinos.
— Mesmo faltando oito meses para a competição, estamos bem adiantados para deixar tudo organizado e para que a cidade possa realizar um grande evento.